por Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo
A nota de abertura do programa Entre Aspas, da Globonews, resume tudo o que há de errado com o jornalismo. É desconexa, antecipa conclusões de um debate que ainda vai acontecer, algumas delas não amparadas por fatos. Ah, os fatos. Como eles atrapalham o Novo Jornalismo brasileiro:
"Quando foi que o inferno astral na Receita começou? Quando detectou e cobrou a mudança contábil que proporcionou a economia de bilhões de reais em impostos da Petrobras? Ou quando veio a público, narrado pela ex-secretária Lina Vieira, o encontro entre ela e Dilma Rousseff? Seja o que for, Petrobras ou Sarney, melhor não trombar com um obstáculo desse tamanho no caminho. Seja o que for, Lina não agilizou o processo contra empresas do filho de Sarney, nem absolveu publicamente a Petrobras pela manobra contábil. Pagou caro. Depôs no Senado sob intenso ataque dos governistas, viu sua ex-chefe de gabinete ser demitida, junto com outro assessor. O troco da corporação veio em forma de uma nota dura. Nela, o anúncio da saída de outros doze detentores de altos cargos na Receita. Politizar a máquina de arrecadação federal, detentora do sigilo das riquezas dos brasileiros e do poder de fiscalização sobre eles, é manobra de alto risco. Não importa se quem aparelha a máquina é o governo de plantão ou representantes da própria corporação. Como disse a própria Lina Vieira, em nota divulgada agora à noite, abre aspas, os governos passam, o estado fica e, com ele, os servidores públicos".
1. A pergunta poderia ser: Há um inferno astral na Receita? Se sim, começou com a posse de Lina Vieira, anteriormente acusada de indicar pessoas despreparadas para exercer cargos de confiança? Quem indicou Lina?
2. O texto dá como líquido e certo um encontro que simplesmente é negado pela ministra da Casa Civil. Como desconhecer isso?
3. O texto dá como certo o pedido feito a Lina para agilizar processos relativos ao filho de Sarney, quando nem mesmo o encontro é fato comprovado.
4. A "manobra contábil" da Petrobras, geradora do "escândalo" patrocinado pelo jornal O Globo, que resultou na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, é dada como legítima pela empresa, com apoio de tributaristas. Por que omitir isso?
5. Lina, a vítima: depôs sob ataques e viu, sem poder fazer nada, a demissão de assessores. Mas se o próprio texto abre a possibilidade de que o "aparelhamento da máquina", se de fato existe, parta de "representantes da própria corporação", por que absolve Lina antecipadamente? Ela não era a chefe da Receita Federal? Ah, entendi, é porque não casa com o papel de vítima.
6. O texto parte do pressuposto de que a máquina da Receita foi, de fato, politizada, e sugere uma hecatombe para os contribuintes indefesos, pior que a da gripe suína, ao mencionar "o sigilo das riquezas dos brasileiros", que correria risco.
Decidam com urgência, em nome da verrosimilhança da trama: Lina é a heroína que resiste a tudo e a todos em nome do interesse público ou é aquela que tentou aparelhar a Receita com sindicalistas?
Por favor, da próxima vez chamem um diretor de novela para dirigir a trama. Vai fazer mais sentido.
Faltou combinar com os entrevistados::
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