Deputado diz que trabalhador é bêbado e sugere tutela
por Leonardo Sakamoto
Este blog criou o Troféu Frango para premiar bizarrices em geral. Hoje, ele vai para o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-SP) por sua pouca fé nos trabalhadores do país.
Centenas de trabalhadores e patrões lotaram, nesta terça, a Câmara dos Deputados para acompanhar os acalorados debates sobre o projeto que prevê a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, com aumento do valor da hora extra e sem redução salarial.
Em entrevista à rádio CBN, Marquezelli defendeu que os deputados devem manter a jornada do jeito em que está para evitar que os empregados aproveitem as horas a mais de lazer para encher a cara:
“Se você reduzir a carga horária, o que vai fazer o trabalhador? Eles [os defensores da mudança na lei] dizem: vai para casa para ter lazer. Eu digo: vai para o boteco, beber álcool, vai para o jogo. Não vai para casa. Então, você veja bem, aí é que tá o mal: ele gastar o tempo onde ele quiser, se nós podemos deixá-lo produzindo para a sociedade brasileira.”
Preste atenção neste trecho “ele gastar o tempo onde ele quiser, se nós podemos deixá-lo produzindo para a sociedade brasileira”. Ou seja, nós, os iluminados, temos o dever de manter esses indolentes perdidos acorrentados ao trabalho. E mesmo que assim fosse, ou seja, que todos quisessem ficar bêbados nas horas vagas, que direito tem ele de interferir com a vida pessoal de cada um?
A última redução ocorreu há quase 21 anos, na Constituição de 1988, quando caiu de 48 para 44 horas semanais. Aos catastrofistas de plantão: saibam que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) calculou que uma jornada de 40 horas com manutenção de salário aumentaria os custos de produção em apenas 1,99%.
O aumento na qualidade de vida do trabalhador, por outro lado, seria muito maior: mais tempo com a família, mais tempo para o lazer e o descanso, mais tempo para formação pessoal. Mas isso parece irritar Marquezelli.
Vale sempre lembrar que ele já criticou o grupo móvel de fiscalização do governo federal, responsável por libertar trabalhadores da escravidão no país. Segundo Marquezelli, essa atuação prejudica a imagem do Brasil no exterior: “Escravos nos já tivemos, não temos mais”. Ignora, com isso, os mais de 35 mil resgatados da escravidão contemporânea desde 1995.
E como o brasileiro é um desmemoriado, o deputado deve se reeleger nas eleições do ano que vem, com o apoio dos trabalhadores que insultou.
Fonte: Blog do Leonardo Sakamoto::
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