sexta-feira, 21 de agosto de 2009

E qual seria o papel de Marina Silva?

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Marina Silva



por Maurício Dias - de Carta Capital


A migração da senadora Marina Silva do PT para o PV e a possibilidade cada vez mais real de se lançar no jogo pesado da eleição à Presidência da Republica, em 2010, provocou uma turbulência inesperada no processo eleitoral que, antecipado no tempo, andava enfadonho demais.

A decisão de Marina é um fato de importância na agenda real do País. Ao contrário, por exemplo, do emprego que o senador José Sarney intermediou para o namorado da neta dele, que se tornou denúncia de destaque na bandeira de hipocrisia da oposição.

Que papel a eventual candidatura da senadora Marina Silva pode representar no tabuleiro político?
Há uma montanha de suposições sendo feitas sobre as chances eleitorais dela. Há também, bem defronte, uma montanha de problemas.

Há quem acredite que, ao entrar na disputa, ela quebraria o caráter plebiscitário da eleição que os eventuais candidatos tucanos – menos Aécio e mais Serra – temem. Mas, se ela não tiver fôlego, o que parece mais provável, o plebiscito se daria no segundo turno inapelavelmente. A presença de Marina, muito provavelmente, acabará com as possíveis candidaturas alternativas da ex-senadora Heloísa Helena e do senador Cristovam Buarque. Esse, praticamente, já se ofereceu como vice.

Para o PSOL, seria uma temeridade. HH mantém um bom porcentual de intenção de voto nas pesquisas pré-eleitorais. Mesmo que o número mingúe, na reta final da disputa, como já aconteceu, a presença dela garantirá palanque para eleger, por menor que seja, uma bancada do partido no Congresso. Sem ela, o PSOL no Parlamento pode desaparecer.

As alianças partidárias seriam fundamentais para a senadora ganhar visibilidade. O Partido Verde dispõe de algo em torno de um minuto. O PV também não dispõe de uma base organizacional no País. Tem poucos vereadores, alguns prefeitos e nenhum governador.

Carecerá também de recursos. Marina não aceitará trabalhar com caixa 2 por mais que o deputado Fernando Gabeira e o vereador Alfredo Sirkis, no Rio, tenham disposição para isso. Oferta de dinheiro não deve faltar, com a finalidade de impulsionar a candidatura, na suposição de que a petista Dilma seja afetada.

A candidatura presidencial do PV desmonta o único palanque possível que o governador José Serra tenta montar no Rio de Janeiro com o apoio, relutante, do deputado Fernando Gabeira, que, por sinal, já tem acordo firmado com o DEM.

Aí já dá para avaliar certos impactos nefastos na trajetória transparente da carreira política de Marina. Será possível vê-la no palanque ao lado do ex-prefeito Cesar Maia? Para ele seria bom. E para ela?
Marina não pode perder o sorriso, mesmo que mantenha o ar de mistério de Mona Lisa, ao discurso de encantador da elite brasileira e de seus porta-vozes a respeito dela. Subitamente desapareceu o preconceito que se cultivava contra Marina Osmarina da Silva Vaz de Lima, aquela militante nortista, acriana, alfabetizada a partir dos 15 anos.

Pelos embates que travou nos “cinco anos, cinco meses e catorze dias” (ela memorizou o tempo) que passou no comando do Ministério do Meio Ambiente, é de supor que tenha perdido a visão ingênua do poder.
Mas, ainda bem, não a ponto de esquecer as utopias sem as quais, efetivamente, a vida se torna corriqueira do princípio ao fim. Mas as utopias são sempre muito difíceis e demoradas de ser alcançadas pelo caminho do processo eleitoral. Lula, por exemplo, já sabe disso.

Fonte: Carta Capital

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