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por Paul Craig Roberts, no Counterpunch
“Em pouco tempo [não haverá] medianos. Teremos poucos, bem poucos Lords;
os outros todos, mendigos.” (R.L. Bushman)
“Rapidamente estão-se dividindo em duas classes:
os extremamente ricos e os extremamente pobres.” (“Brutus”)
Os norte-americanos pensam que têm "liberdade e democracia" e que os políticos são avaliados e sendo o caso são punidos nas eleições. O fato, nisso tudo, é que os EUA são governados por poderosos grupos de interesse que controlam os políticos mediante as contribuições para campanhas eleitorais. Quem realmente governa é uma oligarquia de interesses financeiros de militares/de segurança e o AIPAC (American Israel Public Affairs Committee) que influencia a política externa sempre com vistas a atender os interesses de Israel.
Considerem a política econômica: é construída e administrada com vistas a atender aos interesses de grandes grupos financeiros como, por exemplo, o Goldman Sachs.
Foram os bancos – não os milhões de norte-americanos que perderam casas, empregos, saúde pública e aposentadorias – que receberam os 700 bilhões de dólares dos fundos TARP (Programa de Resgate dos Títulos Podres, ing. Troubled Asset Relief Program). Os bancos usaram para gerar mais lucros o capital que ganharam de presente. No auge da pior crise econômica desde a Grande Depressão, o Goldman Sachs anunciou lucros recordes no segundo trimeste e distribuiu bônus que chegaram à casa da centena de milhares de dólares a todos os empregados.
(...) Tudo isso está acontecendo em governo dos Democratas e chefiado pelo primeiro presidente negro dos EUA, que tem maioria na Câmara de Deputados e no Senado. Pode haver governo que represente menos os cidadãos norte-americanos, hoje, que o governo dos EUA?
Considerem as guerras em que os EUA estão metidos. Até o momento em que escrevo, as guerras no Iraque e no Afeganistão já custaram aos EUA 900 bilhões de dólares. Somem-se a esse custo os custos futuros para aposentadorias, pensões e tratamento dos veteranos, os juros da dívida externa, os recursos desperdiçados e não utilizados para finalidades produtivas e todos os demais custos computados por Joseph Stiglitz, prêmio Nobel, e por Linda Bilmes, especialista de Harvard em orçamento público, e esse 'nosso' governo desperdiçou 3 trilhões de dólares em duas guerras que não trouxeram qualquer benefício para ninguém, exceto para o complexo militar e de segurança – contra o qual muito nos alertou o general presidente Eisenhower, general de cinco estrelas.
É fato hoje conhecido de todos que a invasão do Iraque foi resultado de mentiras e de um plano bem articulado para enganar os cidadãos norte-americanos. Mas a guerra trouxe lucros fabulosos para as indústrias de armas, Blackwater, Halliburton, para militares que ganharam promoções em combate e para os extremistas muçulmanos; os EUA comprovaram que os extremistas muçulmanos têm muita razão no que dizem, porque os EUA não fazem outra coisa além de agredir muçulmanos sem qualquer motivo ou provocação. À parte esses, que se beneficiaram com a guerra do Iraque, todos os demais envolvidos perderam. O Iraque jamais foi ameaça a ninguém. 'Encontrar' Saddam Hussein e enforcá-lo depois de um simulacro de julgamento nada significou e de modo algum contribuiu para apressar o fim de uma guerra ou impedir a eclosão de outras.
Os custos das guerras dos EUA são carga descomunalmente grande a pesar sobre país falido, mas o custo que pesará sobre os veteranos será inacreditavelmente maior. A grande maioria dos veteranos vive hoje como sem-tetos; e, nas ruas, sofrem de stress pós-trauma.
Os soldados norte-americanos, violentamente arrastados às guerras da indústria de armas, para garantir as comissões dos oficiais encarregados da administração da munição, e para garantir os dividendos e ganhos de capital para os acionistas da indústria bélica, não pagaram só com a própria vida e pernas e braços e pés que perderam na guerra; eles pagam também com seus casamentos arruinados, com suas carreiras arruinadas, com seus distúrbios psicológicos, com sentenças de prisão por não pagarem em dia as pensões alimentícias que devem aos filhos.
O que os norte-americanos ganharam com uma guerra pela qual não podem pagar; que, só até agora, já se arrasta por mais tempo que a II Guerra Mundial; e que pôs no poder naquela região os xiitas aliados ao Iran?
A resposta é óbvia: os norte-americanos ganharam nada, absolutamente nada, zero.
O que ganhou a indústria de armas? Bilhões. Lucros de bilhões de dólares.
Obama foi candidato que prometeu pôr fim à guerra do Iraque. E não fez o que prometeu. Mas, sim, construiu a escalada da guerra no Afeganistão; iniciou nova guerra no Paquistão; pretende reproduzir o cenário da Iuguslávia no Cáucaso; e parece decidido a fazer guerra também na América do Sul.
Em resposta à aceitação, pelo presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, aliado dos EUA, de várias bases militares dos EUA na Colômbia, a Venezuela já preveniu os países sul-americanos de que "os ventos da guerra estão começando a soprar".
Nos EUA temos governo completamente dependente da generosidade estrangeira que aceita financiar a caneta vermelha, em mundo que vai até onde a vista alcança, completamente controlado sob o tacão do complexo militar/segurança que nos destruirá todos, até o último norte-americano, se for necessário para satisfazer as expectativas dos operadores de Wall Street.
O que temos nós a ver com quem governe o Afeganistão? O que temos nós a ver com o Afeganistão?
Será que as comissões de deputados e senadores que discutem guerras calcularam o risco que os EUA criariam ao desestabilizar um Paquistão nuclear, quando aprovaram a nova guerra de Obama, uma guerra que, só até hoje, já criou uma legião de dois milhões de paquistaneses expulsos de suas terras?
Não, claro que não. As cafetinas da guerra recebem ordens da mesma oligarquia militar e 'da segurança', que dá ordens também a Obama.
A grande superpotência norte-americana e suas 300 milhões de almas estão sendo conduzidas pela rédea pelos interesses mais estreitos dos grandes bancos e da indústria de munição. Seres humanos, não só os norte-americanos, perdem filhos, maridos, irmãos, pais e mães e por uma única causa: para gerar lucros para as empresas de armas e munições nos EUA. E o povo norte-americano parece orgulhar-se disso. As bandeirinhas e as fitinhas amarradas nos carros, nos utilitários 'de passeio', enormes, nos caminhões gigantescos, proclamam a lealdade patriótica que é, sim, lealdade às indústrias de armamentos e às suas cafetinas que, em Washington, vivem de promover guerras.
Será que, algum dia, os norte-americanos esmagados e destruídos pelas polícias de 'seu' governo que sempre põe os cidadãos no último lugar da fila, entenderão quem são os verdadeiros inimigos?
Será que os norte-americanos algum dia entenderão que não são governados por deputados e senadores eleitos, mas por uma oligarquia que manda em Washington, aquele grande prostíbulo?
Será que os norte-americanos algum dia entenderão que são servos impotentes?
Fonte: Vi o Mundo / Counterpunch
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