terça-feira, 24 de março de 2009

Arianna pede a cabeça de Meirelles

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por Luiz Carlos Azenha

Arianna Hufington é a editora do Hufington Post, o site mais acessado entre os sites progressistas dos Estados Unidos. O New York Times anuncia no site dela, tentando ser levado a sério pelos internautas. Como vocês sabem, os jornais americanos estão perdendo leitores a cada dia. Estão perdendo credibilidade. Afinal, foram os jornais que propagandearam as tais "armas de destruição em massa" do Iraque e que não conseguiram antecipar a crise financeira. Enquanto isso, o site Counterpunch previa o colapso do sistema bancário em julho de 2008, em artigo de Michael Hudson que o Viomundo reproduziu na época. Aí eles perdem leitores e culpam... a internet.

Ariana Hufington pede a cabeça de Henrique Meirelles, digo, de Tim Geithner, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Ela diz que foi a insistência de Geithner em não mexer com a seguradora AIG que custou capital político crucial para o governo Obama. Para quem não acompanha, explico: a AIG pagou bônus a seus executivos apesar de ter escapado da falência graças à injeção de dinheiro público.

Acompanhem trecho do artigo que ela escreveu sobre a decisão de resgatar os bancos com dinheiro público:

"É por isso [por pensar com a cabeça de Wall Street] que toda proposta que ele apresenta é uma reprise -- uma variação remixada do 'tentado e fracassado, deixe os banqueiros encontrarem a solução' que ele herdou de seu predecessor, Hank Paulson. Para Paul Krugman, essa 'insistência em oferecer o mesmo plano de novo e de novo, com mudanças apenas cosméticas, é em si profundamente preocupante. O Tesouro não percebe que todas essas propostas são mais do mesmo? Ou percebe mas espera que a gente não note? Ou seja, eles são estúpidos ou pensam que nós somos?'

Não acredito que Geithner acredite que somos estúpidos (embora ele certamente acredita que não somos tão inteligentes quanto ele). Ele não pode mudar quem é: uma criatura de Wall Street, habitualmente simpático aos líderes do sistema financeiro, que claramente pensam que nasceram para governar o mundo.

As ações de Geithner em toda sua carreira são prova que o pensamento tóxico que nos causou essa confusão é parte de seu DNA.

Quando presidente do Banco Central em Nova York, ele eliminou duas regulamentações chaves -- um relatório trimestral sobre risco e a proibição de grandes aquisições -- que poderiam ter evitado (ou pelo menos reduzido o impacto) a quebra do Citigroup, que o escritório dele era encarregado de supervisionar. Então, junto com Hank Paulson, ele foi instrumental no plano original de resgate da AIG e na criação do TARP [o plano trilionário de resgate]. E ele foi um ator-chave na decisão de deixar a Lehman Brothers falir.

E ele agora está cercado por outros personagens de Wall Street, inclusive pelo chefe de gabinete Mark Patterson, um ex-lobista da Goldman Sachs que fez lobby a lei do então senador Obama que tratava dos salários dos executivos de empresas.

Os "senhores do universo" de Geithner, que ainda pensam que devemos recorrer a eles para salvar o mundo, são os mesmos que nos trouxeram até aqui. E é por isso ou que o Geithner deve ser demitido ou deve manter o emprego com menos autoridade, que deveria ser transferida para alguém que não tem o DNA de Wall Street. Vamos chamá-lo (ou a ela) de Czar da Recuperação.

Em outras palavras, usem o que quiserem usar, mas tirem a direção das mãos de Geithner.

Pode parecer extraordinário pedir a renúncia ou demoção do principal homem do governo no sistema financeiro.

Mas deixe-me relembrar outras coisas extraordinárias: o governo gastou 2,2 trilhões de dólares e prometeu outros 7,7 trilhões para recuperar o sistema financeiro; 7 trilhões de dólares em riqueza dos acionistas foram perdidos em valor de mercado em 2008; mais de 4,2 milhões de empregos foram perdidos nos últimos 14 meses; 2,3 milhões de casas foram liquidadas em 2008, com outras 121.756 no mês passado.

Eu, Azenha, diria que o mesmo vale para o Brasil. O presidente Lula está completamente perdido se imagina que Henrique Meirelles é a solução para uma crise causada... pelas idéias de Henrique Meirelles.

Fonte: Vi o Mundo

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