segunda-feira, 30 de março de 2009

Uma comissão da verdade nos EUA

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por James L. Cavallaro*

Os Estados Unidos necessitam de uma “comissão da verdade” para reparar os equívocos cometidos pela administração de Bush na guerra contra o terror? Sim, diz o senador democrata pelo estado de Vermont, Patrick Leahy. No início de fevereiro, ele propôs exatamente isso. “Muitos norte-americanos sentem que precisamos esmiuçar o que fizemos de errado,” disse. “Precisamos ter a possibilidade de ler a página antes de virá-la.”

Em Washington, muitos se arrepiam ao ouvir a ideia. “Se toda administração quiser reexaminar o que fizeram seus antecessores, isso não terá fim,” disse o senador republicano Arlen Specter, do estado da Pensilvânia. “Isso não é a América Latina.”

Não, senador Specter, isso não é a América Latina. Mas, depois de passar os últimos 25 anos pesquisando e trabalhando com direitos humanos nas Américas, não posso encontrar paralelo melhor que a experiência de nossos vizinhos do Sul.

Para ser claro: não estou sugerindo que os erros dos EUA nos últimos oito anos sejam iguais aos cometidos na guerra suja da Argentina, no Chile de Augusto Pinochet, ou na longa guerra civil da Guatemala. Mas a natureza dos abusos e as justificativas oficiais são tragicamente similares. Como?

Vamos começar com as violações cometidas pelos regimes autoritários da América Latina nos anos 1970. Na Argentina e no Chile, agentes do Estado empregaram brutal violência nos interrogatórios (tortura). Sequestraram dissidentes políticos e suspeitos de “subversão” a quem frequentemente torturaram para obter informações e a quem, em muitos casos, executaram secretamente (desaparecimentos forçados). Foram muitas as vezes que agentes do Estado assassinaram suspeitos sem processos legais. E os sistemas judiciais latino-americanos não fiscalizaram o Poder Executivo como deveriam e não avaliaram a legalidade da política de segurança.

Soa familiar? Deveria. Nos últimos oito anos da guerra contra o terror, o governo dos EUA acumulou vários casos de tortura, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais e falta de independência do Judiciário. Diante dessas similitudes e apesar das objeções do senador Specter, devemos nos perguntar se alguma coisa pode ser aprendida com a experiência latina.

*Confira a íntegra dessa reportagem na edição impressa de Carta Capital

Fonte: Carta Capital

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