sexta-feira, 27 de março de 2009

O pesadelo de Eliana

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por Rodrigo Martins

Os dias difíceis de Eliana Tranchesi, dona da loja de departamentos Daslu, voltaram. Condenada pela 2ª Vara Federal de Guarulhos a 94 anos e meio de prisão, a empresária acabou detida pela Polícia Federal, na quinta-feira 26, e foi conduzida ao presídio feminino do Carandiru.

A mesma pena foi aplicada a Antonio Carlos Piva de Albuquerque, irmão de Eliana e ex-diretor-financeiro da loja, que revende produtos de grifes estrangeiras e empolga os representantes da alta sociedade brasileira. Outros quatro acusados de participar do esquema, montado para subfaturar importações com o objetivo de sonegar impostos, foram condenados e tiveram a prisão decretada pela juíza Maria Isabel do Prado. Entre eles está o empresário Celso de Lima, dono da importadora Multimport. Os envolvidos respondem por falsidade ideológica, formação de quadrilha e descaminho (fraude nas importações).

“Os acusados praticaram os crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime”, pontuou a juíza, ao justificar a condenação. A sentença menciona que a “organização criminosa” tem conexões no exterior e deu prosseguimento aos crimes mesmo depois de serem descobertos pela polícia, há três anos e meio, mudando apenas o eixo dos negócios de São Paulo para a Região Sul do País.

A crise da Daslu, erguida às margens da Marginal Pinheiros, na capital paulista, começou em julho de 2005, com a deflagração da Operação Narciso, realizada pela PF em parceria com a Receita Federal. À época, além da apreensão de mercadorias e documentos, Eliana passou doze horas na cadeia. Fregueses importantes da loja, entre eles Antonio Carlos Magalhães, na ocasião choraram. O irmão de Eliana também ficou preso por cinco dias naquele ano. Voltaria a passar uma temporada na cadeia em 2006.

Pelo esquema, a Daslu negociava e comprava mercadorias de grifes estrangeiras. Depois, as importadoras entravam em cena, falsificando notas para permitir o subfaturamento das mercadorias. Em 2005, por exemplo, a Receita Federal apreendeu um contêiner com mais de 1,7 milhão de reais em bolsas das marcas Gucci e Chanel. Nos produtos, as etiquetas da Daslu estavam sobrepostas por outras, em nome da importadora Columbia. Com a manobra, a loja deixou de pagar o Imposto sobre Produtos Industrializados. Apenas nesta operação a butique teria sonegado 330 mil reais.

Ao longo do processo, Eliana Tranchesi tentou transferir a responsabilidade pelas fraudes às importadoras. Mas autoridades dos Estados Unidos conseguiram localizar as faturas originais expedidas por grifes americanas, como a Ralph Lauren, atestando que boa parte das compras era realizada diretamente pela loja brasileira, com valores bem superiores ao informado ao Fisco.

A empresária afirmou não ver razão para a prisão: “Não represento perigo para a sociedade”. Para livrar a empresária da cadeia, a advogada de defesa, Joyce Roysen, deve encaminhar à Justiça um laudo médico sobre o estado de saúde de Eliana, que está sob tratamento de quimioterapia para combater um câncer.

Como ainda cabe recurso à condenação, a defesa alega que a prisão não deveria ter ocorrido. Mas a sentença explica que, por conta da prática reiterada de crimes de descaminho (Eliana e o irmão teriam cometido o crime em seis ocasiões), a Lei 9.304, de 1995, permite a prisão.

Fonte: Carta Capital

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