por Conceição Lemes
Do ponto de vista científico, não há a menor dúvida: o uso adequado e consistente do preservativo é um método seguro de prevenção de transmissão do HIV pela via sexual; a sua eficácia beira os 100%.
Pesquisas bem documentadas comprovam o resultado da prevenção, inclusive na África. Mas, semana passada, rumo à África, o papa Bento XVI prestou mais um desserviço nessa área. “A aids não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema”, disse.
“Essa afirmação é falsa. Cientistas e nós que atuamos em saúde pública, não devemos opinar sobre assuntos religiosos, pois não temos formação suficiente. Da mesma forma, o papa não deveria falar sobre aquilo que não conhece ou está mal informado”, afirma o médico epidemiologista Pedro Chequer, coordenador do Unaids no Brasil. “A Igreja tem que cuidar do seu rebanho, fortificar a fé dele e consolidar o seu trabalho teológico-religioso. Da saúde pública, cuidamos nós.”
Unaids é o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS. E Pedro Chequer, que já foi coordenador-geral do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, conhece bem o problema da aids na África, onde existem milhões de infectados pelo HIV. Em 2004, trabalhou em Moçambique.
“Uganda é um exemplo de que a prevenção funciona”, observa Chequer. No início dos anos 90, o país teve uma epidemia muito importante de HIV, que, no final da década, começou a declinar. Várias medidas contribuíram para diminuir o risco de transmissão, entre as quais a camisinha. O preservativo foi considerado instrumento fundamental. Mas veio governo George W. Bush, que passou a pregar a abstinência sexual e fazer campanha contra o preservativo. Isso teve eco em Uganda. Em 2002, 2003, 2004 e 2005, devido à redução do uso da camisinha, a transmissão pelo HIV começou a aumentar de novo.
“A não recomendação do preservativo para a prevenção do HIV fere princípios humanitários e éticos”, salienta Chequer. “Como uma instituição, que busca preservar a vida e o bem-estar da população, é contra uma medida que protege a vida? Lamentável e efetivamente, uma incoerência da Igreja Católica.”
ASSINE A PETIÇÃO PARA O PAPA SE CALAR
Em função do retrocesso que representa a declaração de Bento XVI para a luta contra a aids no mundo, várias organizações não-governamentais nacionais e internacionais tem se manifestado. Uma delas é a Avaaz, que significa “voz” em várias línguas européias e asiáticas. É a autora de uma petição, pedindo para o papa parar de atacar os métodos comprovadamente eficazes de prevenção do HIV/Aids.
“Isso não é uma disputa religiosa, e sim uma questão séria de saúde pública”, diz a petição. “Nós não podemos pedir que a Igreja Católica mude sua posição mais ampla neste assunto, mas estamos pedindo que o papa pare de falar abertamente contra os estratégias de prevenção que funcionam. É importante que pessoas de todas as religiões, especialmente os católicos, digam ao papa que é necessário ter cuidado em relação a este assunto. Assine a petição. Depois, encaminhe-a para seus amigos e familiares. Ela pode realmente salvar vidas.”
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Fonte: Vi o Mundo
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