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por Luiz Carlos Azenha
Em julho do ano passado o Viomundo publicou um artigo de Mike Whitney, do Counterpunch, prevendo que até a metade de 2009 o governo americano seria obrigado a limitar os saques no sistema bancário dos Estados Unidos, diante do risco de quebradeira generalizada. Parecia uma loucura, então. O artigo está aqui.
Se essa previsão vai se cumprir ou não é uma questão de tempo. O pacote de ajuda do governo Obama ao sistema financeiro inclui uma generosa contribuição estatal: para cada 15 dólares investidos por fontes privadas, o contribuinte americano entra com 85 dólares, no resgate de 100 dólares dos chamados "bens tóxicos". Trocando em miúdos: o papelório sem valor está sendo resgatado graças a um forte subsídio estatal.
O governo Obama acredita que isso será suficiente para permitir que os bancos limpem os seus balanços e voltem a emprestar. Isso e mais o dinheiro que será transferido à população para que ela pague as dívidas... com o sistema financeiro. Mas os pessimistas acham que não será suficiente. Acreditam que a insegurança generalizada em relação a novos investimentos vai parar a economia: ninguem quer emprestar com medo da saúde financeira do cliente. Ninguem quer investir com medo de perder dinheiro. E os próprios consumidores, endividados, vão se retrair cada vez mais. Se eles estiverem certos, o governo Obama será forçado a assumir formalmente o controle do sistema bancário.
Seja como for, um fenômeno que se dá em tempos de crise está se repetindo agora. As empresas tiram dinheiro de suas filiais e levam de volta para a matriz para acertar as contas. E essa fuga de dinheiro para o centro pode causar grave crise econômica e social em dezenas de países, para não falar em golpes de estado e quebra-quebra. A briga política que se dá nesse momento é justamente essa: quem pagará a conta? Os governos darão prioridade ao resgate de suas empresas? Farão corte nos programas sociais? No Brasil, essas decisões estarão no centro da campanha eleitoral de 2010.
O governo Lula agiu com uma certa defasagem em relação à crise. Talvez por causa dos compromissos assumidos no Congresso, continua apostando na coalizão que garantiu a governabilidade desde 2003. Subestimou a crise internacional. Como já escrevi aqui, as decisões de governo, em última instância, definirão quais serão os países ganhadores na crise e quais serão os perdedores. Lá atrás, escrevi: se o Brasil crescer 2% em 2009 deveríamos soltar rojões. Agora eu diria que, se o Brasil crescer alguma coisa em 2009, deveremos ficar felizes. Mesmo que for 0,1%.
A cada dia que passa a situação social nos Estados Unidos está se agravando, por causa do desemprego. Não dá para descartar nem mesmo aquela previsão sombria de que, em algum momento, o governo Obama será obrigado a usar a guarda nacional para evitar saques. Se isso serve de conforto, o governo Lula não esta só: até agora as propostas do governo norte-americano obedecem rigorosamente à lógica do sistema econômico que existia antes da crise. Por exemplo, na ênfase de centralizar as soluções no FMI, cujo controle é exercido de Washington. Quais serão as condicionalidades impostas pelo FMI aos países que quebrarem com a crise? Corte de gastos públicos? Aumento de impostos? É isso o que está em jogo: quem é que vai pagar a conta. E como ela será paga.
Fonte: Vi o Mundo - Luiz Carlos Azenha
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Um comentário:
Ahá! Achei...posso adicionar no meu blog? beijos
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