segunda-feira, 6 de outubro de 2008

RECESSÃO E FALÊNCIAS EM CADEIA

::

por Rui Martins

Berna (Suiça) - Agora é um banco alemão ameaçado de falência e salvo, in extremis, pela chanceler Angela Merkel. Trata-se do banco Hypo Real Estate. Pobre Angela, que, em Paris, criticava o plano proposto pelo francês Sarkozy, mas obrigada, no fim do mini-encontro, de mini-resultados, a adotar medidas de emergência semelhantes também às do governo irlandês.

Os governos europeus de direita, endossantes ainda há pouco de um liberalismo pleno, vão baixando a cabeça para não deixá-la cair e concordando ser necessário apelar ao Estado para salvar os bancos.

Assim, Merkel aceitou desembolsar 35 bilhões de euros para salvar o Hypo Real Estate, mas a crise dos bancos alemães não se solucionará com essa ninharia. Esse total inicial é mero analgésico para a crise, pois se fala em um zero a mais para se evitar os bancos alemães da falência, 350 bilhões de euros.

O fim da tarde de domingo foi de rumores mas, nesta semana, a sequência não terá segredos – a situação é tão catastrófica entre os banqueiros europeus como nos EUA. Ainda há 15 dias, o maior banco suíço, o UBS quase faliu, embora num clima de discreção típico suíço. Esse banco parece ter se salvado da tormenda, foi recapitalizado, mas muitos outros estão balançando.

Para derrubar a economia européia e levar à falência todos seus bancos, bastará um movimento de pânico entre os pequenos depositantes, nesta semana, visto a fraqueza dos bancos alemães, de retirada de economias, tudo irá pro brejo. Não há mais dinheiro vivo para continuar salvando os banqueiros.

Merkel jura que salvará os depósitos dos pequenos depositantes, e isso ela enfatizou no seu retorno apressado a Berlim, depois do mini-encontro europeu reunindo a França, Itália e Inglaterra, justamente para evitar o pânico entre os que têm pouco para salvar, mas o essencial para suas existências.

Em Londres, um multimilionário não suportou a perda de uma grande parcela de sua fortuna nos EUA e se suicidou. Na Suíça, um dos diretores do banco UBS agraciado com paraquedas dourado, ou polpuda indenização por sua incompetência, descobriu, tarde demais, que esse dinheiro foi aplicado por um outro investidor londrino no banco Lehmans.

O ministro alemão do Interior lembrou que essa crise é tão importante como a de 29 e de repercussões tão grandes como o 11 de setembro. Pela primeira vez, uma autoridade fez referência aos riscos de tal tipo de crise terem repercussões na vida política. E lembrou que a crise de 29 gerou Hitler e a Segunda Guerra Mundial.

Embora muitos fechem os olhos e se recusem a ver, os relatos de economistas não são nada animadores – estamos ainda no início e a recessão criada pela turbulência da crise começará a se acentuar logo depois das eleições nos EUA, devendo se prolongar por todo ano 2009. Sem se falar que a crise dos cartões de crédito deverá estourar nesse mesmo período.

Se a maioria dos americanos não queria, de início, o plano para salvar os bancos americanos, que vai jogar 700 bilhões de dólares num verdadeiro buraco negro, mudou de idéia, nos últimos dias, porque os americanos perceberam estar todos endividados com seus cartões de crédito e, sem o apoio dos bancos, irão também à falência.

Mas parece ser tarde demais para se segurar o rojão. Um, dois, cinco bancos dá para salvar, mas quando todos parecem balançar com a ressonância européia, muita coisa ruim vai ainda acontecer. Um economista acentuava como uma das causas a cupidez dos banqueiros, traders, empresas de seguros, todos eles embalados pelo ávido desejo de lucros excessivos.

Foi essa gula que provavelmente irá mudar as regras do jogo financeiro mundial e exigir uma reavaliação do estatismo e liberalismo. Mas isso se fará nos anos que vão seguir, agora o momento é de atropelo geral. Assim como caiu o muro de Berlim, já caíram os de Wall Street e virão por tabela os de Londres, de Zurique e de Hong-Kong.




Fonte: Direto da Redação

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: