sábado, 25 de outubro de 2008

Ainda os segredos de Kassab

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por Guilherme Scalzilli

A quantidade de comentários sobre o assunto leva-me a ele novamente, pela última vez. A discussão caducou, mas suas distorções ainda aguardam respostas.
Empreendi uma extensa viagem pela blogosfera, encontrando todo tipo de reação à propaganda de Marta Suplicy. A grande maioria dos bons analistas condena a peça, mas salienta a hipocrisia da mídia na cobertura do caso. Esta é a postura mais ponderada e cômoda e, se quisesse evitar riscos, adotá-la-ia também. Mas o refúgio no politicamente correto leva à aceitação de certa leitura hegemônica e tendenciosa sobre o episódio.
Não estou convencido da venalidade absoluta das perguntas “É casado? Tem filhos?”, considerando o contexto em que apareceram. Discordo da afirmação inequívoca do tom discriminatório delas, porque foram descontextualizadas. A história de que os líderes do PT condenaram a propaganda embute má-fé: qualquer entrevistado rechaçaria a pecha de homofóbico, desde que esta fosse a premissa do questionamento.
Quando lembramos as inúmeras devassas mal-intencionadas realizadas por imprensa e adversários nas intimidades de candidatos petistas, surgem duas falácias: a da “coerência biográfica” (a vítima não pode imitar seus algozes) e a da “evolução democrática” (esse passado tenebroso foi superado). Babação eleitoreira. Todo tipo de preconceito continua sendo vomitado contra a própria Marta Suplicy, sob o pretexto de recordar seus padecimentos ou de exemplificar o que poderia estar sendo veiculado sobre ela, mas “não é” – claro que é, já que essas histórias são de fato repetidas.
Discutir se a “opção” sexual do candidato deve ser propalada ou se tem importância é um estratagema velhaco para simplificar outras questões contundentes. As supostas relações afetivas entre Kassab e um secretário seu (insinuadas por muita gente séria), caso verdadeiras, possuem relevância política. Abordar esse detalhe espinhoso forçaria a uma passagem pelo tema do homossexualismo, independente de homofobias, mas o mito da intolerância petista surgiu milagrosamente para desviar as atenções.
O mesmo ocorreu quanto a aspectos mais alarmantes do ambiente sucessório. O imbróglio sexual foi superdimensionado pela militância kassabista porque todos se constrangem ao lembrar a biografia política do prefeito. E é impossível tratar como trivialidade a hipocrisia jornalística às vésperas das eleições que trarão Orestes Quércia e Paulo Maluf de volta à maior cidade do país.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

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