sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Governo Lula já trata de forma diferente o capital financeiro

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A fotografia acima não tem preço

O conservadorismo brasileiro tem que se dar conta de uma realidade que veio para ficar: seu mundo caiu. Todas as justificações que sustentavam o modelo neoliberal agora jazem por terra. Falo justificação para não falar em conceitos e categorias, até mesmo porque estes eram muito débeis para sustentar a ideologia do business, business esse descolado do real, da economia mesmo.

A propósito disto, hoje, a Folha em editorial ("Pacote infeliz") ataca furibunda a Medida Provisória 443, editada para autorizar que o Banco do Brasil e a Caixa Federal intervenham no mercado adquirindo participações ilimitadas em instituições financeiras, públicas ou privadas.
O argumento da Folha é quase ingênuo, se não fosse caviloso, “dissemina a impressão de que, para o governo, os problemas com as finanças domésticas são muito mais graves do que se supunha”. Por fim, chama a MP de carente de democracia e incita ao Congresso Nacional para que não a endosse, “em nome do interesse público”.

Agora, eles lembram das velhas palavras mágicas “democracia”, “interesse público”. Quando mergulharam de cabeça na defesa da hipertrofia capitalista chamada neoliberalismo, lá pelo final da década de 80 – que nega e pulveriza todo o ideário liberal-democrático-burguês – eles jamais hesitaram em atropelar as conquistas e a acumulação começadas no Iluminismo.

O mais grave, entretanto, é que o conservadorismo – do qual a Folha é um dos porta-vozes mais refinados – reclama cataplasmas e remédios que fazem parte dos próprios fundamentos desastrosos que conduziram o mundo para a crise na qual chafurda. Continua a mesma lenga-lenga contra o alegado excesso de gastos públicos e a necessidade de menor intervenção do Estado na economia.

Já se vê que a crise ainda não está sendo suficientemente forte e duradoura para convencê-los que está tudo acabado para a hegemonia quase imperial do capital financeiro e seus aliados de ocasião (ou aposta).

Quarta-feira, depois do depoimento no Congresso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles fazia uma cara contrariada ao sair do recinto, no mesmo momento em que estava sendo editada a MP 443. Um fotógrafo da Agência Brasil captou o flagrante (foto acima), aparece Meirelles com cara estomagada (já sabia da MP 443), e Guido Mantega porta o sorriso-monalisa número 4. Essa fotografia não tem preço.

O governo Lula está agindo dentro dos ensinamentos de Lord Keynes. Já é um bom começo de conversa para superar as marcas neoliberais que contaminam o lulismo de resultados. Este, tem aproveitado a oportunidade única da conjuntura favorável para se desvencilhar de velhos medos, talvez, até de alguns compromissos odiosos de colaboração de classes, de reverências cordiais (no sentido buarqueano), e de caronas conciliatórias que lhe impediam o pleno movimento e a total soberania requerida para um chefe de Estado com os altos níveis de popularidade que ele alcança.

Muitas concessões ainda serão feitas – esse estímulo à indústria automobilística, em detrimento de alternativas sustentáveis – e muitos embates a direita interna ainda irá conquistar, mas o combate ao inimigo principal – o capital financeiro – já foi minimamente iniciado.

Fonte: Diário Gauche

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