por Eduardo Guimarães
Foi outra Marta Suplicy que debateu com Gilberto Kassab na Globo na última sexta-feira. Marta voltou a ser Marta. Vestiu vermelho e foi uma guerreira, resgatando o PT dos bons tempos, aquele PT que foi paixão de tantos e que infundia terror nos corações da elite.
Kassab, por sua vez, sentiu-se encurralado. Seu nervosismo saltava da telinha. A candidata do PT travou sua derradeira batalha com ele nesta campanha de uma forma que a fez sair daquele debate muito maior do que entrou.
Não foi por outra razão que até a Folha publicou texto opinativo de um tipo que não costuma publicar, isento. Foi do colunista Nelson de Sá, possivelmente o único colunista daquele jornal que, desde que começou a guerra do veículo com o PT há mais ou menos uns cinco anos, vem conseguindo se manter acima de paixões políticas e partidarismos.
Vejam trechos da avaliação de Nelson de Sá sobre o debate:
Marta adota estratégia de bate-estaca
NELSON DE SÁ - COLUNISTA DA FOLHA
Se Marta Suplicy se deixou abalar no debate anterior, na Record, ontem foi a vez de Gilberto Kassab. Embora tenha começado com agressividade acima do recomendável, sobretudo para quem tem rejeição tão alta, a ex-prefeita se estabilizou e atravessou o programa com aparente firmeza de argumentos. Com um questionamento constante, bate-estaca, mas que não feria o espectador.
(...) Talvez pelo impacto da propaganda com o "vagabundo" [a propaganda eleitoral de Marta transmitiu sexta-feira na tevê cenas em que Kassab agride fisicamente e xinga um munícipe que o questionou], Kassab tremeu.
Repetia as frases feitas, "cidade quebrada", "cidade falida", "Paris", mas não soava especialmente atento ao que ele mesmo falava. Deixou que Marta tomasse a iniciativa, no primeiro e depois no correr dos outros três blocos. Nem as questões generalistas tiradas do nada pelo âncora conseguiam conter a ex-prefeita, que seguia deixando marcas no adversário.
Depois de não pouca confusão, o documento de despejo repisado por ela deixou nele uma imagem de insensibilidade e até desconhecimento. Sobre educação, "Kassab, você nunca entendeu os CEUs". Sobre trânsito, "você não fez um corredor de ônibus". Pior, "quando é que vai começar o pedágio?". Sentia-se tão à vontade que tentou até “esclarecer” os túneis que ela fez.
Não faltaram acenos da ex-prefeita ao eleitorado feminino, aproveitando a desatenção kassabista. Ele falou em creches como tema "delicado", ela reagiu que "creche é um assunto concreto para a mulher, isso é que você não entende" (...)
Enfim, Marta foi Marta – e foi PT. Seu traje escarlate e seu discurso humanista foram esquerda pura. Seu discurso, diferentemente do que tinha sido no decorrer da campanha, voltou-se para quem vota ou deveria votar sempre na esquerda, para os pobres. Foi altiva sem ser arrogante, indignada sem se descontrolar, precisa e minuciosa sem ser maçante.
O nervosismo de Kassab o fez até dizer que ela “esquecia de omitir” alguma coisa. Isso tudo, ao lado do comentário destacado de Nelson de Sá na Folha, não me sugere necessariamente uma virada na eleição, mas talvez uma votação de Marta neste segundo turno que pode se tornar um drama sobretudo para institutos de pesquisa, por mais que um eventual erro grave deles venha a ser censurado no debate pós eleitoral.
De qualquer forma, Marta resgatou a dignidade petista no último debate de uma campanha que, até aqui, eu vinha preferindo esquecer pelas razões que vocês já conhecem.
Minha candidata, enfim, deixou-me orgulhoso nesta campanha. Conseguiu fazer um adversário com enorme vantagem nas pesquisas - e com o apoio incondicional de toda grande mídia - tremer como uma vara verde diante de si. Nada mal para uma campanha desastrosa, da qual a ex-prefeita poderá – eu disse que apenas po-de-rá – sair bem maior do que pensávamos.
Do blog do Favre:
No debate de ontem, Marta perguntou a Kassab qual era a opinião dele sobre o conteúdo da carta que aqui reproduzo. Kassab fingiu que não era com ele e até pôs em dúvida a autenticidade do documento.
A carta foi disponibilizada para a mídia, que manifestou o mesmo interesse pela carta que Kassab pelo destino das pessoas que a prefeitura despeja.
A Favela Jardim Edite fica ao lado da rede Globo. Ela devia ser substituída por moradia digna para seus habitantes, conforme projeto da Operação urbana deixado por Marta. Kassab completou só a ponte estaiada, com 2 anos de atraso, e procurou expulsar os moradores da favela. O protesto foi reprimido com bala de borracha e gás lacrimogêneo.
Mas o Ministério Publico interveio e Kassab foi obrigado a recuar. É bom salientar que, ao mesmo tempo em que Kassab recusa fazer moradias e procura expulsar os moradores da favela, conta com R$500 milhões da Operação urbana que estão no banco.
A Folha registrou hoje que, contrariamente à proclamação mentirosa de Kassab, na sua gestão foram feitas muito menos moradias populares do que na gestão da Marta. Segundo a Folha, não são 22 mil, como diz Kassab, e, sim, a promessa de 12 mil até o fim do ano.
Veja, abaixo, reprodução da carta-despejo de Kassab
Fonte: Cidadania.com
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