LEITORA RECLAMA DE MACHISMO NO JORNAL!
por Rodrigo Vianna
A leitora Fernanda Estima escreve-me indignada. Conta-me que leu no site do "Estadão" - pouco antes da eleição de domingo- uma enquete "engraçadinha". Engraçadinha, mas ordinária. Veja, e julgue você mesmo, leitor:
"Quais reivindicações femininas você faria ao Prefeito(a) eleito(a) no domingo?
Se todos os problemas estruturais da Cidade já estivessem resolvidos (Educação, Saúde, Transporte, Segurança ...) que reivindicações femininas você faria?
* Banheiros públicos femininos cheirosos e com secador de cabelo
* Vai e vem para o shopping, sobretudo na época das compras de Natal
* Programa "mãe paulistana em forma". Junto com o enxoval vem a "bolsa malhação"
* Kit maquiagem em casa, distribuído no dia de seu aniversário
* Vale-chapinha para usar em emergências, como os compromissos de última hora
* Bilhete múltiplo aceito em todas nas clínicas de estética
* Manicures poupa-tempo em pontos estratégicos: dentro do ônibus, na fila do banco"
Quando li a mensagem da leitora, confesso que cheguei a duvidar que o "Estadão" tivesse publicado algo do tipo.
Pedi que a Fernanda me enviasse o link da tal "enquete". E não é que ela existe mesmo!!
Está aqui: http://www.estadao.com.br/pages/enquetes/default.htm?id_enquete=320
Será que foi publicada "sem-querer"? Será que foi um erro? Ou tratar-se-ia (usando a linguagem dos editoriais da família Mesquita) de miragem eletrônica?
Será que alguém, usando o nome do "Estadão", quis fazer uma "brincadeirinha" pré-eleitoral?
Será que o jornal (ou site do jornal) já se desculpou pela enquete machista, e de péssimo gosto (sem falar que foi publicada perto da eleição em que uma das concorrentes em São Paulo era mulher)?
O "Estadão" é um jornal conservador. Todo mundo sabe. Defendeu o golpe de 64 (e depois ficou contra o golpe, porque viu que o regime se estenderia mais do que o imaginado). Isso também todos sabemos.
O jornal publica há décadas editoriais destrambelhados (alguns, até, incompreensíveis para simples mortais; parecem escritos por Camilo Castelo Banco), e nos últimos anos deixou que a posição editorial contaminasse de forma descarada o conteúdo jornalístico de suas páginas seculares. Tudo isso é sabido. Ninguém lê o "Estadão" enganado.
Mas, essa enquete ultrapassa qualquer limite de civilidade.
Transforma o "Estadão" em "estadinho".
Deixemos que a leitora Fernanda Estima conclua:
"Estou empenhada em encher a caixa de mensagens desta gente com minha indignação. Num país onde as mulheres seguem sendo mortas por seus supostos amores, é um desserviço, um retrocesso, um atraso para a vida das mulheres.
Reclamações podem ser encaminhadas para editor@estadao.com.br e para A responsável lucia.camargo@grupoestado.com.br
Saudações feministas"
Fonte: Blog do Rodrigo Vianna
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