quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mais algumas do José Dirceu

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por Mino Carta

No blog do Zé Dirceu surge uma resposta ao post em que, na sexta 17, contei a história de uma visita feita ao então diretor da PF, Paulo Lacerda, em companhia de Luiz Gonzaga Belluzzo e do redator-chefe de CartaCapital, Sergio Lirio.

Reproduzo o meu post, a bem da melhor compreensão do assunto.

"Contarei um episódio sugestivo. Certo dia de 2005, fui visitar em Brasília o então diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Iam comigo meu velho companheiro Luiz Gonzaga Belluzzo e meu braço direito na feitura de CartaCapital, Sergio Lirio. Foram variados os assuntos da conversa e lá pelas tantas chegou a vez de Daniel Dantas, o banqueiro orelhudo. Já se dera há bastante tempo a Operação Chacal da PF, que recolheu nos próprios escritórios de DD o hard-disk do banco. Estávamos interessados em conhecer o paradeiro do disco, ou dos discos (não sabíamos se de um se tratava, ou de alguns). Lacerda disse que o Supremo Tribunal Federal estava em poder do butim, mas que a PF tinha uma cópia. Era aquele tempo singular em que a ministra Ellen Gracie recusava-se a permitir a abertura dos discos pelas razões mais estranhas, ou, pelo menos, assim nos pareciam. Desde quando Dantas confessou com comovedora candura ter “facilidades” no STF, a gente mergulha na conclusão de que não cabia estranheza. Aí perguntei a Lacerda se porventura sofrera algum tipo de pressão a favor do orelhudo por parte de autoridades de calibres diversos. Anuiu. Sim, recebera. Parlamentares? Também, respondeu. E ministros? Um deles, disse, tranqüilo. Acrescentou: “Não é o meu”. Referia-se ao ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. Arrisquei: “O chefe da Casa Civil, José Dirceu”. Anuiu novamente, sem pestanejar."

Reproduzo agora a réplica do ex-ministro.

"Já publiquei, hoje pela manhã, nesse blog, uma resposta a acusações levianas que me foram feitas no Blog do Mino, pelo seu titular, o jornalista Mino Carta. Em respeito à verdade, a vocês, meus leitores, e aos dele, preocupei-me durante o dia em elaborar uma resposta mais completa e precisa ao jornalista.

Para tanto, como vocês verão pelo texto que enviei ao Blog do Mino e que transcrevo abaixo, falei com as pessoas por ele mencionadas colhendo de cada uma a visão que têm em relação às acusações que me foram assacadas por Mino Carta.

Transcrevo, abaixo, para conhecimento de todos, a resposta que enviei ao jornalista e que espero ele publique com o mesmo destaque dado às acusações que me fez.

'Para não deixar o jornalista Mino Carta sem resposta em relação as acusações que me fez em seu blog, publicadas no dia 17 pp, de que desencadeei pressões sobre a PF para favorecer Daniel Dantas, fiz uma série de telefonemas que sintetizo na seqüência desse texto que estou encaminhando ao jornalista.

Liguei para o drs. Márcio Thomaz Bastos e Paulo Lacerda e falei também com o professor Luiz Gonzaga Belluzzo. Este me confirmou ter havido a visita em que acompanhou o jornalista Mino Carta em encontro com o dr. Paulo Lacerda. Segundo Belluzzo, na conversa, o dr. Lacerda respondeu que parlamentares, sim, e ministros, sim, haviam tratado com ele do caso Daniel Dantas, mas meu nome não foi citado.

Dr. Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, reiterou-me o que já disse de público: que jamais exerci qualquer tipo de pressão ou influência sobre as operações da PF e muito menos no caso Daniel Dantas-Banco Opportunity.

O dr. Paulo Lacerda está surpreso porque, conforme contou-me, não deu entrevista agora sobre o assunto. Ele confirmou que recebeu o jornalista numa visita institucional à PF, que não se lembrava do que foi tratado, mas adiantou-me estar se perguntando por que essa revelação agora, quase 4 anos depois. Dr. Paulo assegurou-me poder afirmar que eu, José Dirceu, enquanto ministro, jamais o procurei para pressionar ou tratar de qualquer assunto referente às investigações da PF, incluindo as relativas ao banco Oportunity.

Como vemos Mino Carta, depois de quase 4 anos, lembrou de um furo jornalístico, mas confundiu-se ou está ficando esquecido. De qualquer forma, para escrever precisa calçar-se melhor em suas memórias e, principalmente deixar de me caluniar'."

Vamos à tréplica.

:: O episódio não remonta a quatro anos atrás. No quadro da reportagem da edição de 12 de outubro de 2005, lê-se lá pelas tantas, a propósito das origens do Valerioduto:

“Como em outras ocasiões, Daniel Dantas colocou sua bancada suprapartidária em ação para tentar conter as apurações do chamado Caso Kroll. Logo após a batida policial, políticos de diferentes siglas, inclusive o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, amigo íntimo do advogado Kakay (de DD), tentaram fazer contato com integrantes da Polícia Federal. Alguns buscavam informações sobre a investigação. Outros, como Dirceu, sugeriam sutilmente moderação no ímpeto dos delegados escalados no caso”. O texto é de autoria de Sergio Lirio.

:: No meu editorial daquela edição, centrava minha atenção na atuação de Paulo Lacerda, com quem tinha estado com Belluzzo e Lirio, não para uma entrevista, e sim para uma conversa sobre as atividades do orelhudo. Ou seja, o encontro não se deu agora, mas há três anos.

As referências a José Dirceu foram feitas exatamente nos termos relatados em meu post. Em momento algum o então ministro Marcio Thomaz Bastos ficou sob suspeita. Lacerda admitiu ter recebido pressões de ministros, mas logo apressou-se a excluir o “seu” ministro. A saber, o da Justiça.

:: O professor Belluzzo ligou-me ontem para me dizer ter sido procurado por Dirceu para lhe ouvir as queixas. Belluzzo confirmou-lhe o encontro e boa parte da conversa. Disse-lhe apenas não recordar se Lacerda pronunciara ou não o seu nome. Jamais duvidarei da boa-fé do meu velho e excelente amigo, companheiro de variadas aventuras.

Não posso dizer o mesmo em relação a Dirceu. Acho, até, que tenta ele neste instante solapar a amizade que me liga ao professor.

:: Sergio Lirio está pronto, de todo modo, a repetir, ponto por ponto, palavra por palavra, o que eu contei na sexta passada.

:: Mas Dirceu não sossega. Insiste em divulgar, via mensagens da sua lavra e de apaniguados diversos, que CartaCapital não lhe deu espaço para responder à recente reportagem de capa que o aponta como “O Grande Operador”. Deu-lhe, sim, desde que sua resposta permanecesse dentro das medidas da seção competente. Poderia chegar a dois mil toques, mais que suficientes, acreditamos, para sustentar as suas razões. Sem contar que, durante a produção da reportagem, assinada por Leandro Fortes, Dirceu foi procurado e limitou-se a dar uma resposta monossilábica via sua assessoria de imprensa. Negou os fatos, o que foi registrado no texto da revista.

:: Fizemos mais, no entanto. Propusemos uma entrevista de largo espectro e tamanho alentado. Faríamos as perguntas que nos parecessem necessárias e ele responderia o que bem entendesse, sem a menor possibilidade de retoques ou edições da nossa conveniência. Tudo ipsis litteris, conforme as tradições da revista e do jornalismo honrado que pratica. Quando Belluzzo me contou de sua conversa telefônica com Dirceu, evoquei a proposta de entrevista, feita há poucas semanas, e de tantas outras, que remontam inclusive a alguns anos atrás. Por exemplo. Para minha surpresa, Dirceu me ligou em dezembro de 2004. Hora do almoço, achou-me em um restaurante. Disse: “Chegou a hora da entrevista”. Obviamente, eu estava às ordens. “Logo no começo de janeiro combinamos”. Ótimo. Nos despedimos com cordialidade. Nunca mais me procurou, e nada ocorrera no ínterim para turvar as águas. Volúvel? Ciclotímico? Bipolar?

:: Voltemos ao papo meu com o Belluzzo. Sugeri: liga para ele e insiste na idéia da entrevista. Poderia ser capa. Horas depois, o professor informa: “Fiz a proposta, insisti muito, acho que seria a melhor saída para todos nós, tive a impressão de que ele gosta da idéia, mas que algum dos assessores resiste”. Quero deixar bem claro que eu também gosto da idéia. Mas hoje sou surpreendido pela resposta do Dirceu, e não sei mais o que dizer. Algo, porém, vou acrescentar.

:: Quem estiver interessado em conhecer as opiniões de José Dirceu a respeito dos últimos desenvolvimentos do Caso Dantas, pode recorrer ao seu blog, no período entre primeiro e 10 de setembro passado. Defesa ardorosa de Gilmar Mendes e de todas as suas atitudes e decisões. Ataque maciço contra as ações do juiz De Sanctis e do delegado Protogenes. Adesão pronta e compenetrada à tese do Estado Policial, defendida por Mendes e outros do mesmo porte. Clara fé na história, entre ridícula e grotesca, divulgada por Veja a respeito do pretenso grampo de uma anódina conversa entre Mendes e o senador Torres, bem como na atribuição do crime à Abin de Paulo Lacerda. De sorte a justificar pleno apoio ao seu afastamento da direção do órgão. Quem estiver interessado nesta reconstituição verificará que nem todos os navegantes aprovaram à época o almirante Dirceu.

Fonte: Blog do Mino Carta

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