por Luiz Carlos Azenha
As pesquisas são uma fotografia de um determinado momento da campanha eleitoral. E não merecem 100% de confiança. Há muitos casos de uso das pesquisas para influenciar o eleitorado. E há erros grosseiros. Eu mesmo já narrei a seguinte história no site:
Na minha carreira de jornalista, já vi erros aflitivos. Em 1985, como repórter da TV Manchete, fui para a sede da Folha de S. Paulo, na Barão de Limeira, para transmitir a apuração das eleições municipais em que se enfrentavam Fernando Henrique Cardoso e Jânio Quadros.
A TV Globo era acusada por Jânio de trabalhar abertamente em favor de FHC. Na TV Manchete tínhamos liberdade de colocar qualquer bobagem no ar, inclusive as ditas por Jânio. Uma pesquisa não-científica da Rádio Jovem Pan, baseada em entrevistas nas ruas, dava vitória de Jânio. Porém, as primeiras pesquisas de boca-de-urna do Datafolha davam vitória de FHC.
E eu enrolava o público, ao vivo, diante de resultados que não batiam com os da pesquisa Datafolha. A certa altura, os números trombavam tanto que um diretor da TV Manchete me instruiu, por telefone: "Entrevista o diretor do Datafolha, peça para ele explicar." Foi o que fiz. E ele: "É que a apuração começou primeiro em bairros onde Jânio é popular. À medida em que os votos forem chegando ao TRE, de outras regiões da cidade, nosso resultado vai se confirmar."
O tempo passou. E nada da pesquisa do Datafolha bater com o resultado da contagem dos votos. Até que o diretor da TV Manchete, Pedro Jack Kapeller, ligou de novo: "Esquece o Datafolha. Dá o resultado da apuração que o Jânio vai ganhar." Foi o que passei a fazer. Batata. Deu Jânio Quadros e ele reservou para a TV Manchete a primeira entrevista ao vivo, no estúdio da própria emissora, na rua Bruxelas, em São Paulo.
Não foi minha única experiência do gênero. Em 2004 eu estava no teto da sede da TV Globo em Nova York, no dia da eleição entre George W. Bush e John Kerry, pronto para entrar ao vivo no Jornal Nacional.
Foi quando recebemos ordem, vinda do Rio de Janeiro, para dar o resultado de uma pesquisa de boca-de-urna da Zogby, indicando vitória de Kerry sobre Bush. Ficamos todos apreensivos, mas como era ordem vinda diretamente do Ali Kamel, não teve jeito. Ainda bem que em seguida, provavelmente sem saber dos bastidores do episódio, o repórter William Waack entrou ao vivo de Boston e disse que era preciso ter cuidado com as pesquisas.
Não deu outra: Bush venceu e eu arquei com as consequências de ter dado uma notícia desmentida pelos fatos.
Hoje, de novo, lá está o Zogby afirmando, segundo a FolhaOnline:
"As coisas estão pendendo de volta para McCain. Seus números estão aumentando e os de Obama estão caindo em uma base diária. Parece haver uma correlação direta entre isso (mudança nas pesquisas) e McCain falando sobre economia", disse o pesquisador John Zogby.
O problema é que ele faz essa declaração montado em uma pesquisa em que foram ouvidos 1.203 eleitores, com margem de erro de 2,9%, que indica vantagem de Barack Obama sobre John McCain de 5%.
Se você consulta a pesquisa do Rasmussen, feita com 3.000 eleitores e margem de erro de 2%, Obama tem 52% a 44%. Faz 31 dias que o democrata tem entre 50% e 52% da preferência do eleitorado.
Além disso, não se pode descartar o que o próprio John Zogby disse em 2004:
Bush perdeu essa eleição faz muito tempo.
De acordo com a previsão de Zogby, John Kerry teria 311 votos no Colégio Eleitoral, contra 213 de Bush.
Bush venceu por 286 a 251.
Houve má fé? Não dá para dizer que sim. Mas no caso da Penn, Schoen & Berland, tudo indica que sim.
No referendo revogatório de Hugo Chávez, em 2004, a empresa divulgou em Nova York, quando as urnas ainda estavam abertas na Venezuela, uma previsão de que Chávez perderia por 59 a 41%. A legislação venezuelana proibia a divulgação de pesquisas, mas a empresa burlou a lei divulgando a pesquisa nos Estados Unidos e disseminando o resultado pela internet na Venezuela. Chávez venceu por 59% a 41%.
Douglas Schoen atribuiu o resultado à "fraude maciça". Que é justamente o papel que se esperava dele em uma disputa marcada pela controvérsia: tirar a legitimidade do resultado. Leia aqui os detalhes.
Em 2006, de novo, a empresa cometeu um erro grosseiro na Venezuela. Em 15 de novembro publicou uma pesquisa dizendo que Chávez tinha vantagem de 48% a 42% sobre Manuel Rosales. Dias antes da votação, Douglas Schoen disse que o resultado seria apertado. Chávez venceu com quase 63% dos votos
A PBS teve contratos com o Departamento de Estado americano, o que talvez ajude explicar os "fenômenos" acima citados.
Meu ponto: é preciso ficar de olho na utilização que se faz de pesquisas eleitorais, especialmente em eleições apertadas. A margem de erro muitas vezes justifica as previsões mais cabeludas.
Fonte: Vi o Mundo
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