segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PODE PIORAR

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IT COULD GET WORSE
If Entire Countries Go Broke, We'll Go With Them


By David Smick, Washington Post
Sunday, October 26, 2008

O mercado financeiro global é como um tio rico, às vezes paranóico. Normalmente, esse tio benevolente espalha dinheiro calmamente por toda a família, com cuidado para avaliar o risco e o retorno em potencial. Mas de vez em quando ele é tomado pela paranóia. Em pânico, fecha a torneira. Por que? Algumas vezes ele acha que os parentes não estão dizendo a ele toda a verdade. Em outras, a paranóia é causada pela distância entre os fatos e o que dizem os parentes.

Hoje o tio atingiu um nível de paranóia que não se via desde os anos 30, e a campanha de "choque e espanto" promovida pelos países mais ricos não conseguiu acalmá-lo. O mercado financeiro global ainda acha que os números não batem.

Isso se dá primariamente por causa de um sinal que aparece no radar: a preocupação de que países inteiros poderão falir. Enquanto Washington enfrenta falências bancárias e o colapso em potencial do setor industrial, o mercado financeiro vê bem adiante disso. Os mercados globais agora estão de olho nos naufrágios econômicos, sociais, políticos e de política externa que resultariam de uma onda de falências de países de todo o mundo.

Em um número alarmante de nações, a quantidade de dívida do sistema financeiro é muito maior que o PIB. Isso é particularmente verdadeiro em economias emergentes como Hungria, Islândia, Bielorrússia, Ucrânia e Paquistão.

É alarmante. No passado, algumas economias emergentes faliram (caso da Argentina) mas sobreviveram sem arrastar o resto do mundo para o buraco. Mas as coisas agora são diferentes. O sistema financeiro global está na UTI. Se um mercado emergente entrar em colapso, os danos não ficarão limitados a um país.

Isso é do interesse de todo americano: os mercados emergentes são compradores das exportações dos Estados Unidos e um motor crítico do crescimento global. Se as economias deles falirem, a nossa também vai falir.

A raiz da crise de crédito de hoje não é que o mundo não tem dinheiro; o mundo está cheio de dinheiro, com 6 trilhões de dólares parados nos mercados de crédito globais. Mas se os países começarem a falir, o que resta do capital pode cair fora dos investimentos produtivos.

E não temos as ferramentas necessárias para evitar o desastre. Os recursos do Fundo Monetário Internacional são pequenos em relação à exposição dos países que correm perigo. E como resultado dos programas de salvamento dos governos e das garantias bancárias, não haverá mais capital para os mercados emergentes que correm risco.

Considere, por exemplo, um país poderoso como a Alemanha. Os bens do Deutsch Bank representam 80% do PIB alemão. Na Suiça, os bens do banco UBS representam 450% do PIB do país. A exposição dos bancos britânicos é alarmante: os bens do Barclays PLC representam mais de 100% do PIB britânico e os do Royal Bank da Escócia representam 140% do PIB britânico.

E esses nem são os países que mais preocupam. Essa honra vai para nações da Europa Oriental e alguns dos países sem capital da Ásia. Mas a globalização significa que estamos todos conectados. Se a Hungria declarar moratória, os bancos da Áustria faliriam. Se isso acontecer, os bancos da Alemanha correm risco.

Há muita preocupação na Ásia, também. O Paquistão pode declarar moratória. Os investidores se preocupam com a Coréia do Sul: as exportações estão em queda, os investidores estrangeiros fogem e o mercado de ações está enfraquecido. Em uma emergência, o governo da Coréia ou o FMI poderiam resgatar a economia? Não temos certeza.

Nem os investidores americanos poderiam ajudar. Afinal, que banqueiro em nosso sistema parcialmente estatizado e que em breve será politizado gostaria de depor no Congresso para explicar um empréstimo a algum país estrangeiro quando poderia ter mais segurança emprestando nos Estados Unidos?

Note, também, que a redução da securitização -- a criação de papéis representando bens -- vai aumentar essa confusão. No passado, esse processo mandou grandes quantidades de capital para o mundo em desenvolvimento. Isso não vai mais acontecer, pelo menos não no curto prazo.

Não é surpreendente que os mercados globais estejam tão assustados com a possibilidade de falência. Os países desenvolvidos, ricos, tem grandes recursos e podem evitar o colapso financeiro. Mas esses recursos não são ilimitados. Na Europa, os impostos como proporção do PIB estão em 43% (comparados com cerca de 20% nos Estados Unidos). Tradução: se a Hungria, o Paquistão e Coréia do Sul falirem os governos europeus serão obrigados a aumentar os impostos para financiar o salvamento, causando uma tremenda dor.

É por isso que o "choque e espanto" ainda não estabilizou os mercados financeiros mundiais. Os investidores suspeitam que é um problema muito caro para enfrentar. O FMI estima que os bancos já perderam 1,4 trilhão de dólares. Quando o mundo mergulhar em recessão, no ano que vem, as perdas bancárias terão aumentado dramaticamente. Alguns especialistas calculam que chegarão a 5 trilhões de dólares.

Uma pergunta persiste: os governos do mundo têm recursos para uma operação de resgate tão maciça? Os mercados globais não estão certos disso.

Nosso próximo presidente, no dia seguinte à eleição, precisa pedir um plano de contingência global no caso da falência de países -- já que o mercado financeiro vai apostar contra a economia globalizada enquanto persistir a incerteza. Eliminar a incerteza, ou pelo menos demonstrar que o mundo pretende enfrentar essa calamidade, permitirá aos políticos voltar à tarefa de forçar os bancos a emprestar. Aquele tio ainda não acredita que o pior já passou.

Fonte: Vi o Mundo

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