quinta-feira, 23 de outubro de 2008

UMA TRAGÉDIA AMERICANA

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por José Inácio Werneck

Bristol (EUA) – Um e-mail anda correndo o mundo dando conta do resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos se os cidadãos dos demais países pudessem votar. Caso a memória não me falhe, eram 87,5% dos votos para Barack Obama, o candidato democrata.

A idéia de uma votação por parte de estrangeiros não chega a ser absurda, pois a vida deles, mesmo quando em seus países de origem, é diariamente afetada por decisões tomadas pelos governantes em Washington. O mais recente exemplo é a crise global desfechada pelas diretrizes da administração americana (sobretudo na gestão de George Bush) de desregulamentação das operações bancárias.

Há também outro e-mail no ar dando conta de que o governo de Bill Clinton, em 1999, pressionou o Congresso para cobrar juros menores de compradores de baixa renda desejosos de adquirir casa própria. Tais compradores eram e são sobretdo de minorias étnicas, como negros e hispânicos.

Mas a orgia da desregulamentação no setor, com hipotecas de alto risco transformadas em pacotes de investimentos e repassadas mundo afora, com tomadores colocando seu dinheiro em produtos pouco transparentes, é obra da administração George Bush. Tem a cara, o jeito, os cacoetes, as impressões digitais, a ideologia do Partido Republicano a partir da década de 80, depois da “revolução” de Ronald Reagan.

Favorito no mundo inteiro, Barack Obama também é favorito nos Estados Unidos, embora em escala bem menor. Impõe-se ainda levar em consideração o fato de que o pleito nos Estados Unidos é decidido por um processo singularmente anti-democrático, chamado Colégio Eleitoral. Pode ter feito sentido ao tempo em que a Constituição foi escrita, para evitar que populações urbanas fossem favorecidas em relação às do interior.

Mas o sistema desaguou hoje numa anomalia em que a luta eleitoral é efetivamente travada em estados rurais, de população branca e situados sobretudo no chamado “cinturão bíblico”. É uma geografia hostil ao Partido Democrático, favorável aos republicanos e seus pregadores evangélicos, que deram a George Bush a vitória em 2004 graças aos votos de Ohio, como a Suprema Corte lhe havia dado ao decidir sobre as urnas da Flórida no ano 2000.

Fica então uma sugestão (por coincidência, fiquei sabendo hoje que ela também foi lançada num projeto da revista britânica Economist) que jamais será levada em consideração, mas que deveria, pois o destino de chineses, indianos, brasileiros, iraquianos, congoleses, etc., depende diretamente dos resultados americanos, no dia 4 de novembro: o resto do mundo deveria ter também um peso, um certo número de votos no Colégio Eleitoral dos Estados Unidos.

Mas não tem e, nos últimos dias, os discursos de John McCain e Sarah Palin vêm crescentemente apelando para sentimentos racistas e xenófobos. Se encontrarem eco nos instintos menos nobres da população americana, os republicanos ficarão com o poder, mas se encontrarão totalmente desacreditados perante o mundo.



Fonte: Direto de Redação

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