quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pequeno, mas importante

::

por Maurício Dias

A história que se segue já foi contada aqui. Mas é preciso repeti-la em benefício de quem dela não se lembra ou de quem dela não sabe. Surpreso com os ataques da imprensa ao programa Bolsa Família, o presidente Lula sugeriu ao ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que conversasse com os controladores dos veículos de comunicação. Ele deveria explicar a finalidade do programa, recém-lançado, e ouvir as razões das críticas.

Patrus saiu a campo e voltou com a resposta: “Presidente, em geral todos julgam que é investimento demais em um programa social”.

Em todo o País, 11 milhões de famílias (quase 53 milhões de pessoas) são atendidas pelo programa.

Após uma trégua, os ataques voltaram. Nos últimos dias, o jornal O Globo desferiu três petardos contra o Bolsa Família. No primeiro, apontou o número de beneficiados; em seguida, ouviu políticos e acadêmicos dizerem que o programa não criava “porta de saída” para a dependência e, por fim, apresentou o resultado de um trabalho do Tribunal de Contas da União, que descobriu oportunistas entre os beneficiados. Uma tocaia articulada.

O tom do primeiro texto era a dimensão do alcance do programa. Em manchete alarmista, anunciou que o Bolsa Família beneficia mais da metade dos moradores de seis estados. O Globo bateu o escanteio para um historiador do interior de São Paulo cabecear: “É um número assustador. Isso vai ter uma influência decisiva em qualquer processo eleitoral”. Ele errou o gol.

A cegueira social dos críticos é incapaz de deixá-los perceber a única constatação que nasce de uma pergunta realmente assustadora: que país é esse onde um em cada três brasileiros (em 2010) dependerá do dinheiro do programa para viver?

A mesada é modesta, mas importante. Ela impede que a alma dessas pessoas se separe do corpo. Além disso, abre um caminho de esperança para as crianças.

Estudo feito pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais, com base em números do IBGE, mostra o impacto do Bolsa Família na educação.

Entre o público de 7 e 14 anos atendido pelo Bolsa Família, a taxa de frequência escolar é 3,6 pontos porcentuais acima da observada no conjunto dos não beneficiários. No público feminino, essa diferença chega a 6,5 pontos porcentuais e, no Nordeste, alcança 7,1 pontos porcentuais.

Os resultados da comparação indicam menor evasão escolar das crianças incluídas no programa. Neste caso, a taxa de evasão chega a ser 2,1 pontos porcentuais menor no conjunto das crianças em situação de extrema pobreza.

Esse é um caminho capaz de levar os miseráveis à porta de saída da miséria.


::

A razão cínica da reforma


Embora tenha entrado também em pauta o financiamento público, a grande estrela e o grande problema da proposta de reforma eleitoral é a substituição da lista aberta pela lista fechada de candidatos escolhidos pelos partidos.

Estamos diante de um golpe na soberania do eleitor.

As propostas foram empurradas para a votação, prevista ainda para 2009, em nome da moralidade. É uma razão cínica.

Uma pesquisa realizada pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos nos resultados das eleições municipais de 2008 retrata a falsidade do argumento moralista. Foram eleitos 51.915 vereadores em todo o Brasil. Ao investigar a lisura do pleito em 85% de todas as zonas eleitorais do País, a Corregedoria-Geral do Tribunal Superior Eleitoral encontrou motivos, em geral compra de votos, para cassar o mandato de 119 vereadores. Ou seja, apenas 0,2% do total de eleitos.

Wanderley Guilherme aponta para um escândalo: “O interesse na substituição do processo eleitoral é econômico. É uma vitória dos marqueteiros políticos”.

Os candidatos se livrarão dos eleitores e, naturalmente, de perguntas inconvenientes, de vaias ou mesmo de aplausos. Como consequência, a disputa se dará entre máquinas de propaganda das legendas partidárias, com a criação compulsória de um mercado de negócios notadamente “para as empresas de consultoria e para os analistas acadêmicos por elas contratados”, diz Wanderley Guilherme.

Um efeito colateral possível: a corrupção de parte da universidade brasileira.

Fonte: Carta Capital

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: