terça-feira, 12 de maio de 2009

GUERRA DE PALAVRAS

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por Mário Augusto Jakobskind

Mais uma vez os Estados Unidos comete uma chacina, desta vez no Afeganistão, com um bombardeio que matou mais de cem civis, entre mulheres e crianças. O presidente Barack Obama só pediu desculpas pelo que aconteceu. De concreto, o governo dos Estados Unidos continua empenhado em combater os talibans, que se imaginava fora de circuito.

Em relação a Cuba, depois do anúncio segundo o qual o governo estadunidense permitiu a viagem de cidadãos cubanos radicados nos Estados Unidos quantas vezes eles quiserem e até mesmo revogando o limite de disponibilizar dólares, o Departamento de Estado, agora sob a batuta de Hillary Clinton, não concedeu visto de entrada ao trovador cubano Silvio Rodriguez, impedindo-o de participar, em Nova York, de homenagem ao músico Pete Seeger, uma legenda da música popular estadunidense, que completou 90 anos no dia 1 de maio. Ou seja, o Departamento de Estado repetiu apenas o que outros governos fizeram ao longo de 50 anos.

Com isso, o simpático Barack Obama vai mostrando a que veio. Os primeiros cem dias foram de flores com perspectivas aparentemente promissoras, mas agora, pelo menos em relação aos dois acontecimentos mencionados, nada de novo no front.

No Brasil, integrantes sionistas da colônia judaica protestaram contra a vinda do presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, que acabou adiando a visita por motivo da eleição que ocorrerá naquele país nas próximas semanas. Misturaram alhos com bugalhos, ou seja, denúncias sobre desrespeito aos direitos humanos que ocorrem no Irã e posicionamentos contundentes do presidente iraniano contra o sionismo.

Não está em discussão a necessidade e a importância de os organismos que defendem os direitos humanos se posicionarem contra violações do governo iraniano ou de qualquer outro nessa área, mas o que não se deve aceitar é que sejam imputadas a alguém acusações com base em pronunciamentos traduzidos (deliberadamente) errados, como aconteceu em Genebra no discurso de Ahmadinejad na Conferência da ONU contra o racismo. Representantes da União Européia vestiram a carapuça se retirando do plenário. É muito incômodo para eles serem questionados em matéria sobre o pós II Guerra Mundial e o seu complexo de culpa em relação aos judeus. Para compensar aprovaram a criação de Israel, mas de forma a gerar um problema com os palestinos.

Conhecedores do idioma persa e que fazem traduções para o inglês, como Juan Cole, garantem que Ahmadinejad nunca falou em “riscar Israel do mapa” ou negou o Holocausto. Inclusive o teor do seu discurso em Genebra já foi repetido em outras ocasiões por vários analistas e acadêmicos, entre os quais o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, por sinal de origem judaica. Para ele, e também para Ahmadinejad, o holocausto é utilizado pelos sionistas de forma a justificar uma política discriminatória contra palestinos.

Não se trata, pois, de negar o Holocausto, mas apenas chamar a atenção para a sua utilização e manipulação pelos sionistas. Claro, isso desagrada e cria constrangimentos aos responsáveis históricos pelo anti-semitismo ao longo dos séculos, entre os quais a elite européia. Ahmadinejad ganhou fama, até porque se afirmar que ele nega o holocausto ou é favorável a riscar Israel do mapa serve de pretexto exatamente para os sionistas empedernidos continuarem agindo como agem.

Em relação a Israel, segundo Juan Cole e outros tradutores do persa, Ahmadinejad disse que "o regime que ocupa Jerusalém (een rezhim-e ishghalgar-e qods) deve ser apagado da página do tempo (bayad az safheh-ye ruzgar mahv shavad)". O presidente iraniano em várias oportunidades tem se posicionado, sempre de forma contundente, contra as atrocidades que Israel comete nos territórios palestinos ocupados. Isto não quer dizer necessariamente que Ahmadinejad falou em riscar Israel do mapa, associando a imagem a uma razzia sangrenta contra os habitantes daquele país. Se alguém fala em derrubar o regime vigente em um país não significa necessariamente riscar a referida Nação do mapa. Até porque, outros governos bem mais moderados do que o do Irã têm se manifestado com os mesmos argumentos. A própria ONU também, mas só que as resoluções aprovadas contra os governos israelenses não são respeitadas.

Neste momento, Israel é governado pela extrema-direita de várias matizes, do premier Benjamin Netanyahu ao Ministro do Exterior Avigdor Lieberman, passando por partidos fundamentalistas religiosos. A dupla não aceita nem a existência de um Estado palestino, que vem sendo defendido por Barack Obama. A questão é complexa, até porque não basta apenas a defesa verbal sem entrar em detalhes de como será o novo Estado a ser criado na região. Há os que defendem, mas só admitem a criação de um Estado palestino com o território sofrendo solução de continuidade e separado do vizinho (Israel) por muros.

Em suma: a situação no Oriente Médio chegou a tal ponto que não adianta nada discursos e sem atacar a raiz do problema, ou seja, a criação de um Estado Palestino sem que o território seja dividido e com soberania.

Fonte: Direto da Redação

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