segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Quero fazer mil cópias das fitas e distribuir para a imprensa"

::

A viúva do ex-assessor tucano, encontrado morto em Brasília em fevereiro deste ano, rebate tentativa de desqualificação feita pela governadora Yeda Crusius e por lideranças tucanas. "Eu quero as cópias das dez horas de fitas que a Veja tem e que eu escutei para fazer umas mil cópias e distribuir para a imprensa”, diz Magda Koenigkan. E acusa a governadora de mentir: "Ela mente ao dizer que me viu apenas uma vez em uma recepção do governo em Brasília".

A oposição à governadora Yeda Crusius (PSDB) iniciou nesta segunda-feira (11) novas articulações para instalar uma CPI na Assembléia Legislativa. As novas denúncias que anunciam chuvas e trovoadas para os tucanos incluem uso de caixa dois e desvio de recursos na campanha ao Palácio Piratini, em 2006, e foram publicadas em reportagem da revista Veja desta semana.

No dia 19 de fevereiro deste ano, o PSOL chamou uma coletiva na sede do partido em Porto Alegre quando alegou ter provas documentais, como áudios e vídeos, que comprovariam crimes eleitorais e de corrupção na campanha eleitoral de Yeda Crusius e na atual gestão tucana. Entre outras denúncias, haveria um vídeo com representantes de empresas fumageiras entregando dinheiro de forma irregular para a campanha de Yeda.

Neste sábado (9), quando a revista chegou às bancas com chamada de capa para a matéria “Caixa dois do caixa dois”, de Igor Paulin, balançou as estruturas já pouco alicerçadas do Palácio Piratini. Nas páginas da publicação está detalhado o conteúdo das gravações feitas supostamente por Lair Ferst (réu no caso de fraude milionária no Departamento Estadual de Trânsito - Detran), de conversas com o ex-representante do Palácio Piratini em Brasília, Marcelo Cavalcante, encontrado morto em 17 de fevereiro no Lago Paranoá, em Brasília.

Os áudios das gravações trariam afirmações comprometedoras de Cavalcante. Numa delas, o ex-representante do governo teria dito que repassou a Carlos Crusius, marido da governadora, a quantia de R$ 400 mil.

“Entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu 400 mil reais de dois fabricantes de cigarro, 200 mil de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa dois. Existia, inclusive, o caixa dois do caixa dois. Marcelo deu os 400 mil reais a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam”, disse Magda a Veja. Ela completa afirmando que Crusius teria dito aos credores que não tinha dinheiro e precisaria de mais prazo para o pagamento.

Quando perguntada como Marcelo teria reagido à situação, Magda revelou que Cavalcante teria cobrado satisfações de Crusius.

“Ele sempre me repetia essa história. Contava que disse a Crusius: "Como não tem dinheiro? Entreguei na sua mão". Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: "Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom". Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida. Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os 400 000 reais nisso”.

Ainda segundo a viúva, o dinheiro teria sido usado para a polêmica compra da casa da governadora. “O Marcelo falava que o pai de um dos secretários da governadora simulou ter comprado um apartamento dela na praia. Teria sido uma venda forjada para mostrar que ela tinha renda para comprar a casa. Contou também que a casa custou cerca de 1 milhão de reais, talvez mais. Mas esses 400 000 foram entregues por baixo do pano (ao vendedor”), afirmou.

A hipótese do suicídio induzido

Depois das revelações, a empresária Magda Koenigkan, ex-companheira de Cavalcante, virou alvo de duras críticas vindas dos tucanos gaúchos. O governo lançou sérias suspeitas sobre Magda. “Não considero as declarações dessa moça. É uma versão que ela está criando para se livrar da hipótese de suicídio induzido, o que é muito grave. Ela disse ter ouvido de uma pessoa que não pode mais falar. Marcelo está morto”, disse Yeda durante entrevista coletiva concedida logo após a revista chegar às bancas, no sábado.

Na mesma linha, tanto a governadora, quanto seu marido, insinuam que Magda era garota de programa ou seria acompanhada por garotas de programa. Sobre este tema, a viúva concedeu entrevista indignada na tarde desta segunda-feira na Rádio Gaúcha.

“Eu tinha uma imagem diferente da governadora, que me tratava muito bem. Ela mente ao dizer que me viu apenas uma vez em uma recepção do governo em Brasília. Nesta ocasião, que ela diz que eu me encontrava com acompanhantes suspeitas, eu cheguei duas horas atrasada e levei como convidados minha irmã e meu cunhado. Tenho fotos desta comemoração. O que é isso de insinuar este tipo de coisa? Ora, por favor, me respeitem”, disse Magda.

Durante a coletiva de sábado, a governadora afirmou ter visto Magda apenas em uma ocasião, em fevereiro, em recepção na chamada Embaixada do Rio Grande do Sul em Brasília. “Numa recepção na representação gaúcha, eu conheci essa moça que me foi apresentada como a esposa de Marcelo Cavalcanti. Ele não havia me dito que havia adquirido essa posição de esposo e foi a única vez que a vi. Naquele mesmo momento eu disse que tudo que fosse relativo à representação gaúcha teria que ter a liturgia e a seriedade que nos caracterizam, porque tinham convidadas ali que não pertenciam ao interesse daquele momento”. Magda sustenta ter encontrado Yeda pelo menos três vezes. Em uma delas, teriam almoçado juntas no restaurante do lago sul de Brasília Bargaço, na presença de outras seis pessoas.

Líder do partido na Câmara, o deputado José Aníbal (SP) teria telefonado para Yeda no último sábado, sugerindo que ela contrate advogados e seja mais incisiva na sua defesa. Nos bastidores, o partido já se preocupa com os efeitos de uma crise nas eleições de 2010. Para Aníbal, a governadora precisa assumir uma postura mais forte, inclusive de ataque, cobrando a apresentação de provas. Ele afirma que o PSDB vai colaborar para que ela entre com uma ação contra os acusadores. “São pessoas que merecem ser processadas pela irresponsabilidade. São bandidos”, acusou Aníbal. Em resposta, Magda se diz indignada e afirma que quer ser esquecida. “Essa história não me pertence. Eu quero as cópias das dez horas de fitas que a Veja tem e que eu escutei para fazer umas mil cópias e distribuir para a imprensa”, afirmou.

Fonte: Carta Maior

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: