quinta-feira, 14 de maio de 2009

Qual o futuro do "sonho americano"?

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Qual o futuro do "sonho americano"?

O que você promete a um povo a quem foi dito que poderia fazer o que quisesse, que foi repetidas vezes congratulado por viver na melhor de todas as circunstâncias possíveis? Como dizer agora que “os bons tempos” não voltarão? Os estadunidenses precisam de uma nova visão que os ajude a lidar com a realidade, uma história promissora do futuro que os ajude a superar o passado. O que é preciso na vida do povo dos Estados Unidos é uma redefinição dos conceitos de “vida, liberdade e busca da felicidade”. A análise é do jornalista político William Greider.

Como entendeu Franklin Roosevelt, os estadunidenses adiarão benefícios imediatos e experimentarão sacrifícios pesados – se conseguirem – à medida que forem convencidos de que o futuro pode ser melhor que o passado. Nós estamos, porém, frente a um problema muitíssimo mais difícil em nosso momento na história. O que você promete a um povo a quem foi dito que poderia fazer o que quisesse, que foi repetidas vezes congratulado por viver na melhor de todas as circunstâncias possíveis? Como dizer agora que “os bons tempos”, assim como os conhecemos, não voltarão? Os estadunidenses precisam de uma nova visão que os ajude a lidar com a realidade, uma história promissora do futuro que os ajude a superar o passado.

Eis aqui uma grande visão que eu sugiro os americanos podem perseguir: o direito de todos os cidadãos a vidas engrandecidas. Não a ficar mais rico do que o próximo ou acumular necessariamente mais e mais porcarias, mas o direito a viver a vida plenamente e a se engajar expansivamente nas possibilidades elementares da existência humana. Essa é a essência do que muitos, agora, parecem almejar em suas vidas. As pessoas – mesmo as bem sucedidas e afluentes – estão frustradas por causa das dimensões intangíveis que a vida assumiu ou deslocou, em grande ou pequena escala, pressionada pelas exigências implacáveis do sistema econômico de maximizar a produção de lucros e de riqueza. Nossas verdades morais comuns têm sido destruídas em nome de grandes recompensas. Os aspectos mais leves da experiência mortal estão diminuídos porque a própria vida não está tabulada na contabilidade do sistema econômico.

A ordem política aceita erroneamente essas concessões de limitação da vida como normal, como necessária para alcançar os “bons tempos”. Nos primeiros períodos de nossa história, os sacrifícios exigidos pela máquina capitalista dos Estados Unidos foram largamente tolerados porque a nação era jovem e subdesenvolvida. A máquina prometeu gerar níveis mais elevados de abundância, e o fez. Mas, agora, qual é a justificativa, quando a nação já está rica o suficiente e a máquina continua exigindo pedaços maiores de nossas vidas?

Famílias perderam a dignidade de dirigir suas vidas

O que as famílias, mesmo aquelas prósperas, tipicamente perdem na troca são os pequenos aspectos da graça da vida cotidiana, como o ritual de ter um jantar em família com todos presentes. A coisa mais substancial que sacrificamos é o tempo de experienciarmos as alegrias e mistérios da alimentação das crianças, os pequenos prazeres da curiosidade ociosa, de aprender a fazer as coisas com as próprias mãos e as satisfações da amizade e da cooperação social.

Essas coisas foram feitas para parecerem corolários triviais da acumulação de riqueza, mas muita gente sabe que tiveram de desistir de algo mais importante e lamentam a perda. Alguns decidem retomar isso mais tarde na vida, depois de estabilizados financeiramente. Outros ainda sonham em cair fora do sistema. Se pudéssemos de alguma maneira somar todas as dores e perdas privadas causadas pela busca da prosperidade material ilimitada, o resultado pode vir a parecer o maior lamento de nosso tempo.

Mais importante do que todas as outras perdas é que as pessoas também estão denegando outra grande, inatingível: a dignidade de dirigir as suas próprias vidas. No trabalho, em casa e na esfera pública, a maior parte das pessoas perdem o direito de exercitar muito de suas vozes nas decisões cotidianas da administração de suas vidas. Muitas pessoas (não todas) estão sujeitas a um sistema de comando e de controle sobre os seus destinos. Elas conhecem os riscos de ignorar as ordens que vêm de cima.

Não surpreendentemente, muitos cidadãos estão resignados a essa condição e aceitam a subserviência como “é assim que as coisas são” e, como resultado, suas vidas se tornam menores. Muitos acham difícil imaginar que esses confinamentos poderiam ser reduzidos, e até substancialmente removidos, se as organizações econômicas fossem informadas por princípios democráticos.

Vida, liberdade e busca da felicidade

O que é preciso na vida do povo dos Estados Unidos é uma redefinição dos conceitos de “vida, liberdade e busca da felicidade”. Dada a imensa riqueza da nação, as antigas ameaças de escassez e privações foram eliminadas. E ainda assim as pessoas permanecem sob o jugo das exigências econômicas, a despeito de quererem algo mais da vida – liberdade para explorar os mistérios e todas as coisas que eles trazem consigo.

Coletivamente, os estadunidenses precisam respirar fundo e reconsiderar o que significa ser rico.

O desafio, como John Maynard Keynes escreveu há muito, é como “viver com sabedoria, concórdia e bem-estar” quando o desespero e a privação não dirigem mais as condições de nossa existência. Como previu o economista britânico, os velhos problemas econômicos da escassez e da sobrevivência foram resolvidos, ao menos nas nações desenvolvidas. As pessoas deveriam afastar seus medos, sugeriu Keynes, e aprender a aproveitar a vida. Livres da escassez e das preocupações, enfrentamos um novo desafio: descobrir o que significa ser verdadeiramente humano.

Pequenos carros para grandes vidas

Essa maravilhosa busca é o que eu recomendo como alternativa à nossa velha definição de progresso. Nos próximos anos os estadunidenses vão sofrer perdas inevitáveis nos prazeres familiares e serão compelidos a alterar profundamente alguns hábitos arraigados de consumo. Esses dolorosos ajustes podem ser enfrentados se as pessoas confiarem que o país está caminhando em direção de uma transformação plena. A troca essencial poderia ser expressa num pára-choque: Pequenos Carros para Grandes Vidas.

Para alcançar essa mudança abrangente, as pessoas precisam de poder – mais poder para dizer o que pensam, sem serem bombardeadas por fazer escolhas que estejam mais em acordo com seus valores e aspirações.

Precisam de mais segurança – que lhes daria auto-confiança para explorar novas opções sem condenar suas famílias à pobreza. As pessoas precisam de mais espaço filosófico – o espaço para decidir o que é o “sucesso” em seus próprios termos e para cometer os seus próprios “erros”.

Poderíamos começar pensando que viver vidas engrandecidas é um direito humano fundamental e começar a se lançar para fora dos confinamentos impostos sobre nós pela velha ordem. Vencida a escassez, o sofrimento colateral produzido pelo sistema econômico também deveria ser declarado não-necessário – e mesmo imoral – numa sociedade rica e saudável. Uma minoria de estadunidenses, pessoas abençoadas com talentos especiais, com riqueza ou status, já podem aproveitar esse nível de liberdade. Mas, como podem atestar as pessoas ricas, riqueza não exime ninguém da luta humana, da busca pelo encontro de alguma melodia na vida, para obter forças e ter um sentido. Esse tesouro não pode ser comprado. Ele tem de ser ganhado.

O governo pode fazer muitas coisas, mas não pode transformar a sociedade. Só o povo pode fazer isso. Ele muda o tecido social gradualmente e de maneiras irrefletidas, com seu comportamento e criatividade, guiado aproximadamente pela persistência de valores morais. Se o governo começar a impor valores transformados sobre o resto de nós, os resultados seriam opressivos e errados. Durante a última geração, as pressões ásperas do sistema de mercado causaram muito dano em nossa sociedade, mas não conseguiram despir os estadunidenses de suas crenças. A maioria das pessoas ainda sabem da diferença entre o certo e o errado e, a despeito dos obstáculos, lutam para viver suas vidas de acordo com isso.

O que o governo pode fazer é construir as regras, estabelecer leis e apoiar plataformas que permitam ao povo buscar a transformação social mais agressivamente. Nossa inventiva cultura popular – a maravilha do mundo – faz isso espontaneamente. Com um pouco de ajuda e menos interferência de Washington, os americanos podem do mesmo modo reinventar a sociedade. Uma era de inovação e de experimentação seria desenhada com base no mesmo espírito, a força da vida dos estadunidenses, o povo que é prático e idealista.

Construir um novo conjunto de direitos

Uma condição importante que o governo pode providenciar é a plataforma das “necessidades essenciais” que darão a cada um mais segurança e portanto mais confiança para explorar novas e diferentes escolhas. Poderíamos varrer a poeira da “segunda Carta de Direitos” de Roosevelt e nos mover para suas metas inalcançadas. FDR reconheceu, no início de 1944 que os americanos estavam desgastados com os sacrifícios impostos pela Segunda Guerra Mundial e então anunciou uma ampla e compreensiva promessa. Depois da guerra ser vencida, disse, o país deve construir um novo conjunto de significativos “direitos” para todos, todas as coisas da saúde e da educação, para trabalhar com salários remunerados. Sua visão do futuro se tornou a agenda política dos democratas do Pós-Guerra e, em larga medida, as promessas foram mantidas.

Eu penso que Barack Obama pode eventualmente enfrentar uma necessidade similar para esclarecer a visão do que uma América transformada pode se tornar no outro lado da trincheira em que estamos.

Alguns objetivos já estão bem entendidos. O grosso das propostas legislativas que foram repetidas vezes bloqueadas por interesses poderosos ao longo da última geração deveriam ser revisitados a fim de se estabelecerem direitos concretos e proteção para famílias e crianças, trabalhadores e empregadores. A abrangente rede social centralizada nas famílias, na Europa, sugere oportunidades para reformas nos EUA. Reverter a política econômica nacional de trabalho e salário é, provavelmente, um passo necessário em direção da cura da sociedade. Se o governo constrói um nível social ascendente baseado no aumento de salários, dando o passo inicial, as pessoas de todos os níveis serão liberadas para buscar a invenção social criativa. Diante da recessão profunda e do desemprego crescente, não há muito o que cada um possa fazer neste momento para aumentar salários. Mas o governo pode fazer essa promessa para o futuro.

Quando a economia se recuperar e o desemprego declinar, as pessoas que vivem com um salário mínimo terão subido um degrau, e outras regras de melhorias no trabalho serão fortalecidas. O Congresso pode se adiantar e aprovar as leis e determinar o ritmo de seu encontro efetivo com as condições econômicas.

Sonhos são a semeadura do possível

Além desses passos essenciais, há montanhas mais altas para escalar. Podemos antever objetivos mais elevados que requeiram imaginação social e então fazer o teste prático antes de ganhar aceitação ampla e implementação.

É com isso de temos de sonhar um pouco. Podemos imaginar, por exemplo, um país virtualmente sem crianças pobres? Uma nação em que todas as crianças cresçam podendo explorar suas possibilidades de vida, livres para irem aonde quiserem neste país diversificado e se sentirem em casa?

Podemos imaginar um sistema econômico que não seja organizado sobre o princípio do comando e do controle, onde poucos dão ordens a tantos? Podemos antever uma economia concebida para servir à sociedade, antes de qualquer outra coisa? Alguns vão dizer que esse é um devaneio de desocupados. Eu digo que é nosso direito de nascença, nosso privilégio inerente. Nós somos americanos. Temos de pensar grande a respeito de nosso país e de nós mesmos. Sonhos são a semeadura do possível. Podemos depois perguntar como alcançá-los.

Para estimular as pessoas a libertarem sua imaginação, eu acrescento uma proposição radical: no lugar de perguntar o que seria bom para a economia, o governo deveria começar perguntando o que seria bom para o povo e a sociedade. No lugar de pensar primeiro em como ajudar os negócios a vicejarem, perguntar o que o povo necessita para vicejar na vida do país. Essencialmente, estou sugerindo uma reversão no processo usual empregado pelo sistema. No seu esforço para cuidar dos negócios, a questão social nunca é demandada. Aqui vão três grandes idéias – meus devaneios favoritos – para ilustrar o que significa pôr as pessoas em primeiro lugar.

Setor público deve garantir empregos

Primeiro, todos os estadunidenses que queiram e estejam aptos devem ter direito a um emprego que pague um salário digno para o seu sustento. Se o setor privado não fornecer esses empregos, então o setor público deve em último caso empregar. Franklin Roosevelt descreveu o objetivo – o equivalente prático do pleno emprego – em sua “segunda Carta de Direitos”, e a esmagadora maioria das pessoas endossou o princípio desde então.

Nas décadas recentes, a economia tem sido dirigida inclusive para além de suas promessas, criando no seu lugar um vasto mercado de trabalho de subclasses – empregos temporários pagando salários de miséria e frequentemente preenchidos por imigrantes ilegais. A garantia de empregos públicos pagando mais do que o salário mínimo iria estabilizar permanente e automaticamente a economia, inchando os índices de trabalhadores do setor público nas recessões e os encolhendo quando os empregos privados se tornarem mais disponíveis. No lugar de punir com severidade os trabalhadores pobres nos períodos de baixa, como o sistema faz agora, o governo iria redistribuir os custos da recessão de modo que todos os contribuintes arcassem com o fardo, como uma obrigação pública.

As consequências sociais de uma mudança como essa seriam profundas: seria um golpe direto contra a pobreza e a falta de esperança no interior dos distritos policiais e nas cidades decadentes do interior, onde as mesmas patologias devastam famílias e juventude, sem qualquer corte de raça ou etnia. Empregos reais significariam recursos certos que circulariam nessas comunidades, fornecendo bases concretas para o desenvolvimento econômico e para a restauração da vida comunitária nas proximidades, bem como a redenção de vidas danificadas, especialmente no que concerne às perspectivas para a juventude.

Obviamente que o emprego público permanente – empregos para todos que precisem – seria enormemente caro, mas o cumprimento de grandes metas pode começar com pequenos passos. O governo poderia lançar algumas diretrizes, e então apresentar 100 ou 200 projetos ao longo do país e convidar comunidades empobrecidas a competir por eles nas suas regiões. Qual o trabalho que precisa ser feito? Quais equipamentos e habilidades são exigidos? As pessoas podem fazer essas perguntas locais para si mesmas. Algum esforço inicial vai fracassar, mas o país aprenderá com seus erros e acertos.

Os que trabalham devem ser donos de seu trabalho

A segunda idéia é que todos os que trabalham, seja autônoma ou coletivamente merecem “ser donos de seu trabalho” - isto é, merecem o direito de exercitar a responsabilidade pessoal por aquilo que fazem e desfrutar do respeito mútuo e da capacidade de contribuir e colaborar nas decisões importantes tomadas no seu local de trabalho. Esses elementos de voz individual e de status são determinantes para a satisfação do trabalho de alguém, mas as qualidades democráticas estão largamente ausentes dos locais de trabalho nos EUA. Quando a maioria das pessoas vai ao trabalho, submetem-se a uma relação de senhor-servo na qual poucas pessoas determinam o comportamento de todos os demais e à maioria dos empregados a voz é denegada e eles não têm direito de objetar ou criticar. Esses confinamentos são especialmente estritos para trabalhadores com salários mais baixos, mas frequentemente expandem-se para os degraus dos trabalhadores de nível médio e profissionais.

Libertando-se desse rígido sistema vertical e liberando os trabalhadores para desfrutarem da liberdade (e da responsabilidade) de serem humanos representaria uma mudança profunda em nossa sociedade, um grande passo em direção ao nosso desenvolvimento social enquanto povo.

Enquanto isso, a transformação para lugares de trabalho mais cooperativos e respeitáveis também pode gerar ganhos econômicos para a nação. Como inúmeros estudos acadêmicos têm mostrado e algumas companhias excepcionais já entenderam, relações colaborativas entre dirigentes e força de trabalho são mais produtivas e lucrativas. No lugar de serem comandados por conflitos violentos, os diferentes elementos no interior dessas companhias trocariam informação constantemente e melhorariam de maneira regular ao aprender com seus erros. Os lucros seriam repartidos porque os trabalhadores também seriam proprietários.

Reorganização do emprego e da propriedade

Essa reorganização do emprego e da propriedade não pode ser comandada desde longe, porque requereria uma mudança de todos – trabalhadores e patrões -, para deixarem suas hostilidades de lado e começarem a confiar numa comunicação mais aberta. Essa mudança é muito difícil de ser alcançada pelas pessoas em qualquer setor. Contudo, o governo pode encorajar sua busca, ao pôr em cena alguns incentivos e a afrouxar algumas diretrizes de reforma do trabalho. Uma das mais promissoras rotas de mudança é o plano de aquisição de ações pelos empregados (employee stock ownership plan) que investe todos como co-proprietários com o mesmo incentivo econômico – repartindo os retornos do auto-progresso. Algo como 11 000 companhias – a maioria de negócios pequenos – estão organizadas dessa maneira, e os trabalhadores acumulam capital, além de salvarem suas pensões.

Essas iniciativas de recuperação de empresas com a sua aquisição por trabalhadores, contudo, também devem passar por reformas internas para estabelecerem responsabilidade mútua e comunicação honesta se querem obter os benefícios plenos de ter trabalhadores-proprietários. O conceito pode parecer estranho para muita gente, mas suas premissas centrais são muito americanas: uma crença prática em que a igualdade e a liberdade podem estar presentes na nossa vida cotidiana.

Criação de empresas sociais

A terceira idéia é que para abrir caminho para valores sociais a economia precisa de uma nova reforma do espírito das organizações – pode chamar a isso de uma corporação social – que competem com as corporações de velho tipo, ligadas a valores mais estreitos que reforçam a supremacia do lucro sobre a sociedade. As corporações sociais seriam autorizadas pelo governo a oferecerem alguns benefícios. Para buscar valores novos, elas precisam de algumas proteções na sua infância e talvez de alguns subsídios para darem o passo inicial, e serem eximidas de algumas regras usuais, mas a maior parte delas seria independente e apropriada privadamente. Produziriam bens necessários ou serviços que o setor privado não fornece e os venderia a preços mais acessíveis a maior parte das pessoas. Elas poderiam, por exemplo, suprir o mercado de computadores baratos e de outros dispositivos de alta tecnologia isentos dos acessórios (bells and whistles) que fazem os preços subirem. A corporação social seria um modelo de trabalho para como os imperativos sociais – valores ambientais e relações igualitárias entre trabalhadores e comunidades – podem ser integrados entre as empresas e nos processos eficientes de produção. A sabedoria popular dos negócios e os dogmas econômicos dizem que é impossível. As corporações sociais mostrariam que eles estão errados. O propósito dessa competição não é substituir companhias ortodoxas, mas introduzir verdadeiras pressões de mercado para elas mudarem. A criação de empresas sociais, inclusive de cooperativas não-lucrativas, pode nos liberar dos vetos políticos que os interesses dos negócios exercem sobre novas idéias promissoras.

Limitar o tamanho das organizações

Outro objetivo crucial é a limitação do tamanho das organizações de negócios, inclusive das corporações sociais, na linha do famoso ditado de E.F.Schumacher: “O pequeno é bonito”. O grau de inchaço das companhias de ponta dos EUA se tornou o maior impedimento para a inovação e as reformas experimentais, para não mencionar a influência corruptora na política. Os estadunidenses estão aprendendo de novo com a crise financeira por que é um erro permitir que empresas privadas concentrarem mais e mais poder sob uma direção. A falência dos megabancos que o governo ajudou criou ameaças ao bem-estar geral, e então o governo resgatou-os com o dinheiro do contribuinte porque eles são “grandes demais para falir”. Retomar leis antitrustes poderia simplesmente proibir a concentração de poder econômico como uma ameaça a valores sociais, bem como à competição saudável.

O poder econômico precisa ser disperso nesta imensa nação, especialmente os bancos e a finança. Precisamos de muito mais intermediários financeiros para alocar capital e crédito e demonstrar mais respeito pelas necessidades sociais. Isso inclui bancos regionais, que estão naturalmente próximos dos clientes. Isso significa apoiar e proteger firmas financeiras pequenas e arriscadas, baseadas em compromissos de responsabilidade social. Eles poriam capital em companhias que abraçassem preocupações ambientais, que cultivassem acordos equitativos com os trabalhadores e as comunidades e que tivessem um comportamento exemplar. Em muitos fronts pode-se ver o avanço gradual da “responsabilidade social” no capitalismo estadunidense. O ritmo está muito devagar para atrair respeito político, mas a atual desintegração da velha ordem clareará o caminho para progressos mais dramáticos.

Essas idéias podem parecer distantes das conversas usuais dos pensadores políticos, mas elas oferecem alternativas a um sistema econômico que tem abusado ao invés da servir à vida do país. Eu conheço muita gente esperta ao longo do país que está buscando essas idéias de maneiras diferentes – eles constituem o começo da formação de cidadãos que podem romper com a inércia da política e superar a timidez dos políticos eleitos. Esses agitadores estão engajados nas ações de longo prazo e os covardes não precisam se inscrever.

*William Greider é correspondente de questões nacionais e jornalista político há mais de 35 anos. Ex-editor da Rolling Stone e do jornal The Washington Post, é autor de best-sellers como One World, Ready or Not, Secrets of the Temple, Who Will Tell The People, The Soul of Capitalism (Simon&Schuster) e, mais recentemente, Come Home, America.

**Este texto foi publicado na The Nation, em 6 de maio de 2009 e é um excerto do seu mais recente livro, Come Home, America (Volte para casa, América).

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: The Nation (o original) e Carta Maior (tradução)

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