quarta-feira, 6 de maio de 2009

A prosa comovente do uruguaio Mario Benedetti

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por Rodrigo Vianna

Acabo de ler o belíssimo romance “A Trégua”, de Mario Benedetti. É prosa da melhor qualidade – serena e comovente. Muito longe de ser um crítico literário, falo aqui como simples leitor.











Fui fisgado pelo veterano Benedetti num passeio despretensioso, meses atrás, por uma dessas livrarias modernas de São Paulo. Por acaso, topei com “Correio do Tempo”, um livro de contos e textos curtos.
Folheei, o texto pareceu-me simpático e fluído – e era disso que eu precisava naqueles dias. Mas, confesso que o que me fez comprar mesmo o livro foram duas outras coisas: a nacionalidade (uruguaia) e a foto do veterano escritor – com um ar bonachão e um nariz “bolotudo”, ele lembra velhos imigrantes italianos que andam pela Móoca ou Brás, tipos tão familiares para quem vive em São Paulo.
O cara escreve com categoria: sem floreios, sem arroubos. A sabedoria para compor histórias emocionantes, a partir de fatos simplórios, é algo que me atrai. E me atraiu em Benedetti. Os textos de “Correio do Tempo” me lembraram as boas crônicas de Rubem Braga: a simplicidade, o gosto pelos tipos aparentemente sem brilho, tipos que constituem a maior parte de nossa sofrida humanidade.
Comentei sobre Benedetti com um conhecido. E ele me disse: se gostou dos contos de “Correio do Tempo”, experimente um romance do sujeito.
Fui atrás.
“A Trégua” foi o primeiro romance de sucesso de Benedetti, lançado em 1960. Na minha absoluta ignorância literária, não conhecia - nem de nome - a obra.
“ATrégua” é uma beleza mesmo.
Benedetti não tem a grandiloqüência de outros autores latino-americanos. Não espere dele a verborragia de Vargas Llosa, nem as tiradas fantásticas de Garcia Marques. A realidade basta ao velho uruguaio, nascido em Paso de los Toros. As frases curtas, ditas nos cafés, nos escritórios e nas ruas de Montevidéu são o suficiente para compor essa trama comovente.
Do que trata “A Trégua”? É um romance em forma de diário. Parece um recurso raso demais. Mas funciona. O diário traz as impressões de Martin Santomé - um homem com emprego burocrático, sem brilho, sem talentos especiais. Mas, é um homem que sabe olhar para sua pequenez com razoável sabedoria. E não é só isso. Santomé, um viúvo às portas da aposentadoria, conhece Avellaneda - jovem funcionária do escritório. Os dois se apaixonam. De novo: parece banal, mas é uma história com toques sublimes. Pelo menos, a mim assim pareceu.
A leitura também me deixou com vontade de voltar a Montevidéu, e aí retorno a uma questão que citei no começo desse texto: a nacionalidade uruguaia foi um dos atrativos para que eu começasse a ler Benedetti.
Não consigo entender por que, mas desde muito jovem tenho uma afeição especial pelo Uruguai. No começo, era afeição por um nome, e por uma pequena mancha no mapa da América do Sul. Talvez, fosse simples curiosidade por uma país tão pequeno – plantado ali aos pés do gigante Brasil.
Depois, passei a admirar a fibra dos uruguaios, pela conquista de 1950. Meu pai contava sempre as histórias de Obdúlio Varella, o capitão que calou o Maracanã com seus gritos na vitória sobre o Brasil.
Tive a felicidade de viajar três vezes para lá.
Quando fui a primeira vez ao Uruguai (em 1991), quis conhecer o "Museo Del Futbol" – no Estádio Centenário. Meu objetivo era ver o busto em homenagem a Obdúlio. E lá estava ele: um herói uruguaio.
Depois, retornei ao país em 2005, a trabalho, cobrindo a cúpula do Mercosul em que a Venezuela foi aceita como sócia permanente do bloco.
Ano passado, voltei a terras uruguaias com meus dois filhos mais velhos. E , aí, tive a chance de visitar Colônia do Sacramento (uma linda cidadezinha fundada pelos portugueses, bem em frente a Buenos Aires, no Rio da Prata), antes de seguir a Montevidéu.
Ler Benedetti é viajar um pouco por Montevidéu. Cidade simples, sem a pompa e as atrações de Buenos Aires, mas cheia de reentrâncias e orgulho próprio.
Outra hora eu falo mais de Montevidéu, de Colônia do Sacramento e da sensação de paz que é viajar pelo interior uruguaio - com aquela paisagem plana, que induz a serenidade e quietude.
Por enquanto, basta-me dizer o seguinte: Benedetti e o Uruguai merecem ser conhecidos.

Fonte: O Escrevinhador

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Um comentário:

patricia mc quade disse...

e olha que o autor desse texto nem falou da poesia de Benedetti.

é tb maravilhosa.

bjs demais.