por Luis Nassif - Coluna Econômica - 01/05/2009
Desde a campanha das diretas, tinha-se uma estrutura relativamente estável regulando a opinião pública, cujo epicentro era a chamada grande mídia - quatro ou cinco jornais do Rio e São Paulo, algumas revistas semanais e o jornalismo da TV Globo.
A partir desses centros, a informação se espraiava para os rádios, para a mídia regional e para veículos menores.
Nesse período, crises econômicas ou de credibilidade restringiram ainda mais esse núcleo. Jornal do Brasil e IstoÉ perderam sua dimensão política, estreitando ainda mais o mercado.
Por outro lado, houve avanço considerável da mídia regional, que em muitos casos recuperou valores do jornalismo - como a grande reportagem - deixados de lado pela mídia central.
A implosão final se deu com a Internet e as diversas formas de manifestação de pensamento - de comunidades de leitores de Blogs até as chamadas redes sociais. Em que isso muda a política?
O primeiro ponto é que limita gradativamente o uso da informação para jogadas políticas. A campanha do impeachment de Fernando Collor, por exemplo - independentemente dos erros e acertos de seu governo - foi eivada de manipulações primárias de informação.
Hoje em dia, esses absurdos tendem a ser cada vez mais coibidos pela própria expansão da Internet. Vide o caso da Folha, que divulgou uma suposta ficha no DEOPS da Ministra Dilma Rousseff - imputando-lhe assaltos e terrorismo. A ficha era falsa, não tinha sido obtida no DEOPS - como afirmara o jornal -, mas através de um desses spams que circulam na Net. O jornal errou, resistiu em admitir o erro mas acabou desmascarado por uma rede de blogs e uma corrente de emails.
Essa transparência obrigará os jornais, a partir de agora, a serem cada vez mais exigentes com a qualidade da informação. Mas não apenas isso.
A sociedade brasileira, hoje em dia, é composta por uma enorme quantidade de grupos de interesse, com um perfil de país avançado. Tem-se grupos em torno de temas como qualidade, gestão, saúde, políticas sociais, educação, inovação, políticas industriais, automobilismo etc.
Na Internet, esses grupos formam alianças em torno de temas específicos, mas não há um alinhamento automático.
Por exemplo, no ano passado resolvi enfrentar a revista Veja usando a Internet (http://luis.nassif.googlepages.com/). Em pouco tempo, mais de 800 blogs estavam reproduzindo a série - sem que houvesse qualquer convocação. Se colocar a palavra Veja no Google, os dois primeiros links são da própria revista, o terceiro, da minha série.
Terminada a batalha, vai cada qual para o seu lado, juntando-se com uma formação ou outra dependendo do tema tratado. No caso da Satiagraha, por exemplo, houve um apoio maciço dos Internautas ao juiz, ao delegado e ao procurador - em qualquer site que se passasse.
Esse modelo mostra que, daqui para frente, cada vez mais as ideias terão que ser discutidas, as informações checadas e questionadas, os grupos aprenderão a conviver entre si, a respeitar as ideias contrárias.
Enfim, o país começa a caminhar, finalmente, para uma ampliação histórica do conceito de democracia.
Fonte: Luis Nassif Online
::
Nenhum comentário:
Postar um comentário