terça-feira, 12 de maio de 2009

A culpa da crise é a Miriam Leitão!

Stiglitz: ponto por ponto, onde os neoliberais (alô, alô, FHC !) erraram

Stiglitz: ponto por ponto, onde os neoliberais (alô, alô, FHC!) erraram.

por Paulo Henrique Amorim

O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir texto do site Vermelho, do PC do B, com análise de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, sobre a gênese da crise.

O texto foi extraído de jornais portugueses.

Se fosse de jornais brasileiros, alguém diria que Stiglitz atribui a crise à Miriam Leitão, que simboliza de forma exuberante o pensamento neoliberal no Brasil e a sua propagação fulminante através da Globo.

Veja a critica de Stiglitz à Miriam:

11 DE MAIO DE 2009 - 12h38
Stiglitz: crise é resultado do pensamento da direita

O prêmio Nobel da Economia Joseph Stiglitz considera que a crise mundial provou que o “pensamento da direita sobre a economia de mercado” está errado. “O pensamento da direita sobre a economia de mercado — provou-se agora — está errado”, disse o professor norte-americano, que participa em Portugal de debates sobre a crise econômica global.

Por Osvaldo Bertolino

“Não há dúvida sobre isso. A direita dizia que os mercados se regulariam por si, se ajustariam por si, que se houvesse algum problema os mercados arranjariam-se por si e muito rapidamente”, disse Stiglitz, acrescentando que também “havia a noção da sobrevivência dos mais fortes”.“Mas os bancos mais prudentes não sobreviveram — foram os bancos que arriscaram mais que sobreviveram”, recordou, sublinhando que por isso mesmo a crise “fragilizou todas as teorias da direita”.

“Os meus trabalhos sempre foram muito claros em afirmar que os mercados são em geral ineficientes quando a informação é imperfeita. E a informação é sempre imperfeita”, afirmou.“Os mercados financeiros têm tudo a ver com informação, por isso era óbvio que os mercados por si só não iriam funcionar bem”, sintetizou. Stiglitz prevê para os próximos tempos “uma economia global muito fraca”. “O cenário mais provável é o de crescimento negativo este ano e não-crescimento para o ano que vem”, disse.

Novo sistema de reservas que elimine o dólar

Stiglitz não vê portas que possam conduzir a uma saída da crise tão cedo. “Anteriormente os países saíam das crises com exportações, mas quando temos uma desaceleração global e sincronizada, não há ninguém para quem exportar”, afirmou o economista, acrescentando que “o modelo que funcionou em 1997/1998 não vai funcionar agora”. Ele usa expressões duras como “depravação moral das instituições financeiras” para classificar o comportamento dos bancos que, na sua opinião, “roubaram os sonhos e o dinheiro de muitas pessoas”.

Sobre o papel dos bancos centrais, ele disse não ter dúvidas de que a idéia de controlar apenas a inflação com recurso a taxas de juro de curto prazo falhou. Um novo sistema de reservas, que elimine o dólar, foi considerado por ele como a medida ”mais importante a médio prazo”. Essa é uma das recomendações que a comissão nomeada pelas Nações Unidas, e liderada por Stiglitz, apresentou para ser discutida na reunião de alto nível da ONU para debater a crise financeira, que decorrerá no início de junho.

Monopólio das ajudas financeiras

A discussão sobre o tema foi reforçada pelas autoridades chinesas — que detêm muitos milhões de dólares em reservas — quando em março se mostraram desconfortáveis com a possibilidade de os EUA desvalorizarem o dólar, chegando mesmo a sugerir a criação de um modelo deste tipo. Entre as recomendações para o curto prazo estão a necessidade de mais dinheiro no combate à crise, especialmente para os países “em desenvolvimento”.

A comissão liderada por Stiglitz defende também que seja retirado do FMI o monopólio das ajudas financeiras aos países em dificuldades. A proposta faz sentido. Segundo o jornal Le Monde Diplomatique, um estudo sobre os empréstimos concedidos a nove países, de outubro de 2008 a janeiro de 2009, revela que, com recursos triplicados, o Fundo não dá sinais de que abandonará políticas do passado. Continua exigindo, para a concessão de créditos, medidas como o aumento de juros, redução dos investimentos públicas e congelamento dos salários.

A comissão diz ainda que os países ricos devem compensar os países pobres pelo fato de, através dos subsídios que estão concedendo aos seus bancos, ditar saídas significativas de dinheiro dos países “em desenvolvimento”. As propostas da “Comissão Stiglitz”, como está sendo denominada, são apresentadas como complementares às medidas já tomadas, nomeadamente pelo G-20, mas surgem em forte contraste com o rumo imprimido pelas propostas para tentar salvar o mundo da crise econômica global.

Dinheiro posto em bancos e na AIG

É o próprio Stiglitz que fundamenta a crítica. Para ele, o programa do governo do presidente Barack Obama de auxílio ao setor financeiro por meio de um sistema de parceiras público-privadas é um exemplo de “mau investimento público”. Ele enfatizou que “as pessoas que aplicaram a desregulamentação” que levou à crise com epicentro nos EUA “são as mesmas que estão no Departamento do Tesouro”.

Em relação ao programa do governo para a banca, ele disse que não faz sentido pôr “92 por cento do dinheiro” nas parcerias porque se houver lucro ele vai “quase todo para o sector privado”, mas “se houver prejuízo vai todo para o Estado”. “Se tivesse sido submetido por um país em desenvolvimento ao Banco Mundial teria sido liminarmente rejeitado”, disse Stiglitz, que foi vice-presidente e economista-chefe daquela instituição e tem criticado, com palavras duras, a promiscuidade de interesses das autoridades financeiras do seu país com o setor financeiro.

“O dinheiro que puseram nos bancos e na AIG foi um mau investimento e provavelmente nunca será recuperado”, disse. Stiglitz criticou também os “testes de estresse” às 19 principais instituições financeiras dos EUA por trabalharem com um cenário de desemprego apenas pouco acima de dez por cento, quando muitos observadores prevêem que atinja os dez por cento ainda este ano.“Não são testes de estresse. Seriam testes de estresse com cenários de desemprego de 12 ou 13 por cento”, afirmou.

Críticas às “agências de risco”

Ele também fez duras críticas às chamadas “agências de riscos” — ou agências de “ratings”, no jargão do noticiário econômico. O jornal Econômico, de Portugal, encaminhou a seguinte pergunta de um leitor a Stiglitz:

Considerando que as agências de “rating” falharam em soar o alarme quando a crise começou a emergir, considera que elas devem manter o seu papel atual ou entende que devem ser impostas alterações?

Stiglitz respondeu:

As agências de “rating” acreditavam que os bancos de investimento eram financeiramente saudáveis. Na Idade Média havia a noção de que se podia criar riqueza convertendo metal em ouro. As agências de “rating” acreditaram numa nova alquimia: converter créditos hipotecários de má qualidade em instrumentos com bons “ratings” para vender a fundos de pensões. Foi uma idéia estúpida.

Em 1992, previ que a securitização acabaria em desastre, porque estavam sendo cometidos erros. Um deles foi subestimarem a correlação entre os ativos. Outro problema foi que as agências de “rating” disseram que os preços nunca caem. Mas os preços caem. Subestimaram este risco.

Uma das razões que leva as pessoas a pensar que as agências falharam foram os incentivos errados. Um dos problemas é que são pagas pelas entidades a que atribuem “ratings”. Pior do que isso, as agências também prestaram serviços de consultoria onde explicavam como se podia obter um bom “rating” e cobravam por isso. Todo o sistema era uma fraude.

Mas o problema real foi a credibilidade dada às agências de “rating” pelos governos, bancos, fundos de pensões e outros investidores. Quase que as consideravam como uma agência governamental. Era como pedir à Federal Drug Administration (reguladora do setor farmacêutico nos EUA) para classificar e dizer que determinado medicamento é seguro e ser paga pela empresa que o produz.

Ninguém iria confiar nesse sistema. Uma das idéias que estamos debatendo nos EUA é a criação de um centro que analise a segurança dos produtos financeiros. Não para atribuir um “rating”, mas para dizer se determinado produto é seguro e se faz o que é seu dever.

Visão simplista do governo Bush

Stiglitz lembrou que ainda prevalece a visão simplista do governo do ex-presidente norte-americano George W. Bush de que a crise foi causada apenas pela construção exagerada de casas. Para ele, os bancos tomaram riscos demais. “Foram estruturas de incentivos ruins que levaram a esse pensamento de curto prazo. Havia problemas de governança corporativa. Havia bancos grandes demais. Havia incentivos para a tomada de risco porque os contribuintes pagariam a conta das eventuais perdas”, afirmou.

O que é preciso fazer agora? “Precisamos de uma segunda rodada de estímulo”, afirmou. “Mas há um consenso de que mesmo um grande estímulo não vai cuidar do problema. Quando acabar a recessão entraremos num período de desconforto, e não de forte crescimento”, disse. Stiglitz também propõe outras medidas:

1) criar políticas para evitar a existência de bancos grandes demais para quebrar no futuro; 2) aumentar a regulamentação do sistema financeiro; 3) usar os DES (direitos especiais de saque, a moeda do FMI) como moeda global; 4) implementar uma rede de proteção financeira para os países emergentes por meio do acúmulo de reservas globais; 5) aumentar o poder dos países “emergentes” no sistema financeiro global com a reforma do G-20; e 6) estabelecer uma política monetária focada na estabilidade financeira.

Ele defende que o governo tenha maior papel na economia. “As instituições que criamos na primeira metade do século 20 não estão preparadas para o século 21. Precisamos de uma nova estrutura para o sistema financeiro após a crise. Temos que achar um equilíbrio entre o mercado e o Estado. As sociedades no mundo todo estão repensando isso, reconhecendo que uma economia mais próspera e justa exige esse equilíbrio com o governo”, destacou.

Fonte: Conversa Afiada e Vermelho

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