segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A derrota da esquerda no Rio

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por Emir Sader

Mais uma vez os cariocas de esquerda ficam sem candidato no segundo turno e a cidade fica entregue nas mãos da direita.

Responsabilidade grave da esquerda realmente existente, que não soube estar à altura do Rio, parecendo que tem mais amor a suas candidaturas e a seus partidos que à cidade, que pede a gritos um governo de esquerda.

Pode-se imaginar os balanços, todos impávidos: a culpa será das outras candidaturas e dos outros partidos – o inferno são sempre os outros, como dizia Sartre -, ou, finalmente, dos eleitores, que ainda não entenderam a superioridade das candidaturas de esquerda derrotadas, sobre as da direita. Anunciando então nova catástrofe para daqui a dois anos.

Uma esquerda que não reconhece a direita, é o melhor caminho para sua derrota. Quem não se deu conta que a candidatura da Jandira era a melhor colocada para chegar ao segundo turno e que deveriam ter muito mais em comum com ela do que com os outros candidatos com possibilidades de chegar ao segundo turno, de que ela era a única candidatura que, ao longo de toda a campanha, teve chance de chegar ao segundo turno - demonstrou uma grave desvinculação da realidade. Ou esteve fechado nos guetos da zona sul a que tem sido condenada a esquerda na cidade ou tomou seus desejos pela realidade – melhor caminho para afirmar interesses corporativos sobre os políticos.

O certo é que os argumentos utilizados para não concentrar-se na candidatura que tinha melhores condições eram absolutamente inconsistentes e talvez escondam vontade de afirmar nomes para candidaturas parlamentares daqui a dois anos ou para sobrepor os interesses de cada partido aos do Rio. O PT nunca saiu da casa dos 5%, salvo na – já longínqua no tempo – candidatura de Benedita. Assim era e assim reproduziu-se mais uma vez nesta eleição. Foi uma candidatura do PT e não para tentar que a esquerda do Rio triunfasse.

O argumento do candidato do PSOL não foi mais consistente: uma vez mais enganaram-se sobre onde está a direita, negando-se a apoiar a Jandira, dizendo que ela é “da base governista”, o que parece condenar o candidato a estar na direita, já que o PSOL entrou no caminho sem volta de tomar o PT como o inimigo fundamental – como já provou ao abster-se entre Lula e Alckmin no segundo turno e aliar-se à direita em tantas situações, em votações do Congresso ou na própria eleição presidencial. Dane-se o Rio, contanto que se contem os votos próprios, por minguados que sejam.

Havia candidaturas também do PDT, do PCB, do PCO, no campo da esquerda, que igualmente se guiaram pela lógica da candidatura própria, independente do campo político e do enfrentamento entre direita e esquerda, sacrificando também a possibilidade de projetar uma força de esquerda no segundo turno. Não estou afirmando que o PC do B e o PSB pudessem estar imunes a cometer erros similares, mas desta vez a projeção eleitoral da candidatura da Jandira fez com que eles promovessem a única candidatura com chances de vitória para a esquerda.

O que esperar da esquerda carioca a futuro? Dependerá, hoje, da atitude que tomarem diante da grande derrota sofrida. Antes de tudo, reconhecer, sem subterfúgios, que é uma derrota da esquerda como um todo, em que todos têm responsabilidades. Em segundo, reconhecer seus erros e se comprometerem a trabalhar seriamente e sem ambições pessoais ou corporativas por uma candidatura única da esquerda nas eleições para o governo do Estado.

Fonte: Blog do Emir Sader

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