terça-feira, 2 de setembro de 2008

Quantos chineses são necessários para se fazer uma toalha?

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por Leonardo Sakamoto


Indústrias têxteis brasileiras estão se instalando na China na busca de custos de produção mais baixos do que no Brasil. Juros atraentes, possibilidade de planejamento de longo prazo, incentivos fiscais são colocados como justificativas para aumentar o número de negócios em yuans. Mas a razão do “Custo China” ser baixo passa mais pela bizarra exploração da mão-de-obra local e pela falta de direitos que protejam o trabalhador do que pela estrutura financeira do país.

Considerando que a China é uma ditadura, a quem o trabalhador vai recorrer? Ao governo, que apóia e incentiva tudo aquilo em nome do crescimento? Fiscalização do trabalho só acontece de forma séria após denúncias internacionais virem à tona, como nos casos de escravidão em olarias no ano passado. Mas que duram o tempo da notícia sumir da pauta.

Anos atrás, conversando com o presidente de um grande indústria têxtil daqui, ele reclamava que os produtos chineses faziam competição desleal no mercado brasileiro. O que tornava a vida de quem atuava dentro da lei mais difícil. Isso é verdade, mas não significa que temos que afrouxar o pacote mínimo de direitos dos que vivem por aqui e sim forçar os outros países a adotaram as convenções da Organização Internacional do Trabalho, disciplinando a exploração de mão-de-obra. É difícil pacas, mas necessário.

Algumas empresas têxteis nacionais, como a Coteminas e a Vicunha, aderiram ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, comprometendo-se a atuar em suas cadeias de fornecedores. Isso não funciona como um salvo-conduto, mas pelo menos aponta que elas aceitaram agir sobre o tema. Outras companhias, como a Teka – que está produzindo itens de cama, mesa e banho de primeira linha na China – foram convidadas a aderir e não se manifestaram até agora.

Podemos dar preferência para os produtos de empresas que operam dentro da lei no Brasil. E cobrar dos que vêm de fora informações sobre sua origem. Se o importador não puder mostrar como aquilo foi feito, boicote mesmo. Há meses, venho restringindo pesadamente a quantidade de produtos chineses da minha lista de compras por incapacidade dos fornecedores de explicar como a mercadoria foi feita.

É difícil falar em consumo consciente em um país onde as pessoas não têm dinheiro nem para comprar o essencial, o que dirá de transformar seu ato de compra em uma ação política. Mas quem está em uma situação mais privilegiada do ponto de vista financeiro, não tem desculpas. Para estes, não refletir antes de comprar é uma demonstração de conivência. E não há fronha macia que livre uma consciência pesada...

Fonte: Blog do Sakamoto

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