terça-feira, 2 de setembro de 2008

Foco no vazamento

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por Luiz Weis



Os principais jornais deram que, em reuniões no Palácio do Planalto, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix, praticamente acusou Daniel Dantas de ter recrutado arapongas da Abin para grampear – e vazar – um telefonema entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM.

O vazamento veio acompanhado da versão segundo a qual a Abin também interceptou conversas ao telefone da ministra do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, e do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, entre diversos outros.

No Valor, matéria assinada pelo repórter Juliano Basile abre com o seguinte prognóstico:

”A divulgação [do grampo] deverá aumentar o clima de animosidade entre a Corte [o Supremo] e a Polícia Federal e, com isso, favorecer o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.”

Já na Folha, o relato da suspeita do general Felix – repassado pelo senador Demóstenes – desemboca na seguinte previsão:

”No fim da investigação vai aparecer muito jornalista que recebeu do Opportunity.”

Vamos a ver, como dizia um famoso locutor esportivo dos velhos tempos, Raul Tabajara.

Dantas pode ter sido – ou não – o mandante da bisbilhotagem. Mas é como raciocinam os italianos: si non è vero, è bene trovato. Pois, se fosse, faria sentido: grampeou-se o que se grampeou com a principal, ou única, intenção de divulgar um precioso produto do grampeamento.

Precioso não pelo que foi dito, gravado e vazado; a conversa entre o juiz e o senador é apenas banal. Mas por quem foi escutado – a mais alta autoridade do Poder Judiciário – e por quem teria escutado: a Abin, o serviço de informação do governo.

E a Abin, a sucessora do SNI da ditadura, tem fama na praça de ter gosto pela coisa – e não é de hoje que é alvo de denúncias contundentes de funcionar como um órgão para-policial, a serviço de interessados variados, a começar dos seus próprios.

Pensar na história a partir do vazamento, portanto, talvez ajude o leitor a juntar pelo menos as peças essenciais do noticiário do dia – com muita matéria, muito retrospecto e muito bastidor do agito da véspera, no governo, no Supremo e no Senado.

Abrindo o leque para a questão geral da farra da invasão de privacidade no Brasil – em que se encaixa este episódio escandaloso, ou melhor, provavelmente feito para escandalizar –, fique-se com a tirada do colunista da Folha, Jânio de Freitas.

Partindo da constatação – ou alguém duvida que seja? – de que no Estado brasileiro “ninguém sabe quem foi e quem está sendo gravado”, ele o descreve como “um mundo sem olhos e com ouvidos demais".

Fonte: Observatório da Imprensa

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