sábado, 2 de maio de 2009

Sabesp - São Paulo: O esgoto no rio

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Morador paga, mas esgoto vai para o rio

Desconfiados, moradores da zona leste fizeram o teste e descobriram que não há tratamento

por Naiana Oscar

Moradores do bairro Jardim Nélia, na zona leste, descobriram que pagam por um serviço público que não têm. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) cobra pela coleta e tratamento de esgoto e despeja tudo no Córrego Itaim. Revoltados com o valor das contas que chegam todo mês, os moradores resolveram testar o serviço para cobrar uma solução.

Despejaram tinta branca no vaso sanitário de uma das residências do bairro e, depois da descarga, correram para o rio. “Para nossa surpresa, a água começou a ficar branca”, disse o presidente da Associação de Moradores do Jardim Nélia, Joãoberto da Silva Neto. “É um absurdo a gente pagar para poluir nosso próprio bairro.”

O comerciante Antônio Cândido Rodrigues, de 55 anos, mora na Rua Antônio Vieira de Lima bem perto do córrego Itaim. Ele se instalou ali com a família há 30 anos, quando ainda se pescava no córrego. “Fomos nós mesmos que poluímos o rio. E por isso acho certo pagar, mas com a garantia que vamos ter o benefício”, disse com a conta de água e esgoto na mão. Em janeiro, ele pagou R$ 99 pelos dois serviços.

A própria Sabesp admite que o esgoto é coletado e jogado no córrego. Em nota, a assessoria de imprensa da companhia informou “ainda não existe um coletor-tronco neste trecho”. Com o coletor, seria possível levar o esgoto para a estação de tratamento.

A despoluição do córrego Itaim está prevista no programa Córrego Limpo, uma ação conjunta da Prefeitura e do governo do Estado para melhorar a qualidade das águas na capital. Segundo a Sabesp, estão previstos R$ 9,3 milhões para as obras do córrego, numa área de 9,4 km². No ano passado, a companhia diz ter instalado 5 quilômetros da rede coletora e que a obra só será concluída em julho de 2010.

Na primeira fase do programa Córrego Limpo, entre março de 2007 e março deste ano, 28 córregos foram despoluídos e a previsão é de que outros 58 sejam recuperados até o segundo semestre de 2010, com um total de R$ 440 milhões. “Ao mesmo tempo que investe, a Sabesp agrava a situação. Basta saber que nem 20% do esgoto coletado passa por um tratamento”, disse o engenheiro Julio Cerqueira Cesar Neto, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Cerqueira aponta a necessidade de revisão da cobrança do serviço feita pela companhia. “Para ela ter direito a esse pagamento, tem que fazer coleta, transporte e tratamento.”

Em novembro, o JT mostrou que a Sabesp despeja esgoto in natura em 6.670 pontos de rios e córregos da Região Metropolitana.

Fonte: Vi o Mundo/Jornal da Tarde

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