segunda-feira, 4 de maio de 2009

O milenarismo suíno

::


por
Luiz Carlos Azenha

O sonho com o fim do mundo é algo recorrente na história dos humanos. Presumo que tenha relação com um dado inescapável de nossa existência: todos morreremos. Essa angústia existencial que nos acompanha aflora de formas imprevisíveis.

Só os adventistas são explícitos: o mundo vai acabar, o joio será separado do trigo e os maus vão pagar caro pelos seus pecados. Nós presumimos ser muito sofisticados intelectualmente para aceitar algo tão simplista. Nem por isso ficamos livres desse fato incômodo, fonte de boa parte de nossa ansiedade: morreremos.

É a única explicação razoável para os três alertas de saúde que o mundo enfrentou em anos recentes, por conta da SARS, da gripe aviária e, agora, da gripe suína. Houve evidente exagero nas três ocasiões, especialmente da mídia e seus "especialistas". Curiosamente, o público parece ter derivado um certo "prazer mórbido" de se ver ameaçado por vírus invisíveis.

No passado, antes do politicamente correto, os grupos humanos tiravam satisfação de comparações favoráveis em relação ao "outro", ao "diferente". É só dar uma olhada nas justificativas ideológicas que acompanharam a ocupação colonialista da África: tudo em nome de resgatar os "selvagens".

Ainda não surgiu uma ONG em defesa do direito dos vírus à vida e à reprodução, de forma que atribuir a eles algum plano diabólico e insidioso para antecipar nossa morte é socialmente aceitável. Além disso, o fato de que os vírus são "trazidos" por viajantes nos permite fantasiar que estamos sob ataque de alienígenas. A resposta dos fascistas é a higienização social: a separação entre "puros" e "impuros", consumidores e não-consumidores, ricos e pobres, nacionais e estrangeiros. O resgate divino é garantido a todos aqueles que cumprem rigorosamente as normas sociais, os "homens de bem".

Eu acho que é isso o que se esconde sob esse medo neurótico de doenças "exóticas", mas não tenho certeza.

Fonte: Vi o Mundo

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: