segunda-feira, 11 de maio de 2009

EUA treinam exército na Palestina

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EUA treinam um exército na Palestina

10/5/2009, Robert Dreyfuss, na The Nation


5ª-feira, em sua primeira manifestação pública, o general Keith Dayton, coordenador norte-americano de segurança da Autoridade Palestina, falou no Simpósio Soref-2009, organizado pelo Washington Institute for Near East Policy (WINEP). WINEP, como se sabe, é o principal think-tank do lobby israelense em Washington. Em sua fala, o gen. Dayton disse coisas importantes; e fez um alerta.

Antes, o contexto. Nos últimos três anos e meio, Dayton viveu e trabalhou em Jerusalém e na Cisjordânia, coordenando a criação de três batalhões de soldados palestinos, escolhidos a dedo na Cisjordânia, treinados em academia militar na Jordânia e, depois, alocados no território ocupado.

São três batalhões de 500 soldados, previstos para desdobrarem-se até dez batalhões. A missão desses soldados, disse o general, é "criar um Estado palestino". Sabendo que a maioria dos presentes no simpósio do WINEP não são exatamente apaixonados pela ideia de uma Palestina independente, Dayton foi logo avisando: "Se não gostam da ideia de um Estado palestino, não gostarão do que tenho a dizer."

Pelo informe detalhado que Dayton apresentou, vê-se que o exército palestino que ele está organizando pode sim ser acusado de praticar uma política de autopoliciamento da Cisjordânia que só interessa aos israelenses.

A Cisjordânia é território ocupado por Israel, coberto já de colônias ilegais – além de ser cercado por muro, além dos 600 postos de passagem super militarizados e além da rede de estradas para trânsito exclusivo de judeus – e os soldados palestinos que Dayton está organizando obedecem ordens de Israel.

O nome de cada recruta é examinado pelas forças de segurança dos EUA (i.e, a CIA); se aprovado, cada nome é então examinado pela Shin Bet, o serviço de inteligência de Israel para questões internas; se aprovado, o nome é examinado pelo super-eficiente serviço de inteligência da Jordânia. Só então, afinal, o recruta começa a formação e treinamento em território jordaniano. Dayton disse com total clareza que as unidades palestinas assim treinadas estão sendo preparadas para enfrentar dois inimigos na Cisjordânia: as gangs criminosas e o Hamás.

Para isso, já receberam 161 milhões de dólares; dinheiro norte-americano.

Dayton contou como, durante o ataque de Israel a Gaza, em dezembro e janeiro, a Cisjordânia foi mantida calada – por mais que alguns analistas previssem movimentos de solidariedade ao Hamás, que governa Gaza, e atos de violência, mesmo uma terceira intifada. "Nada disso aconteceu", disse o general, que acrescentou que os batalhões palestinos permitiram as manifestações pacíficas de solidariedade ao Hamás, mas impediram ações violentas. Israel, disse ele, "não apareceu" e não houve palestinos mortos na Cisjordânia durante as três semanas de carnificina em Gaza.

A maior parte do trabalho já feito, disse Dayton, foi feito na Cisjordânia, a partir de junho de 2007, quando o Hamás foi eleito em Gaza. "O que fizemos foi criar 'homens novos'" – acrescentou.

Agora, o alerta. Reconhecendo que, pelo trabalho de organizar e treinar milhares de soldados palestinos, os EUA estão criando de fato um exército nacionalista, Dayton avisou os cerca de 500 membros do WINEP que o ouviam de que esses soldados palestinos só podem ser mantidos como são hoje por tempo limitado. "Onde haja altas expectativas, há altos riscos", disse o general. "Há um prazo de validade, talvez de dois anos, para a ideia de que se está criando um Estado, se não se está criando Estado algum."

Não sei de você, leitor. Mas aos meus ouvidos, pelo menos, essa frase é sutil aviso de que, se não houver progresso algum na direção de realmente ser criado um Estado palestino, os próprios soldados que Dayton está recrutando e treinando poderão rebelar-se.

Dayton respondia a pergunta feita por Paul Wolfowitz, ex-secretário da Defesa e neoconservador, que agora pendura o paletó no American Enterprise Institute, controlado pelos neocons. "Quantos palestinos vêem seus soldados como colaboracionistas?" – Wolfowitz perguntou. Na resposta, o general teve de reconhecer que o Hamás e seus eleitores e simpatizantes acusam os batalhões palestinos de "colaborarem com a ocupação sionista". Mas acrescentou que todos os seus soldados creem que estejam lutando pela Palestina independente. Mensagem das entrelinhas: EUA e Israel que façam logo o que dizem que estão fazendo. Por isso, o prazo limite de dois anos. Acho que aí está o cronograma, também para o governo Obama.

Mais um detalhe: o gen. Dayton já foi nomeado para outro período de serviços na Cisjordânia e aceitou. Por quanto tempo? Adivinharam: dois anos.

Fonte: Vi o Mundo

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