sexta-feira, 15 de maio de 2009

“Estamos rogando uma praga antecipatória às futuras gerações”, diz Marina Silva

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Por Camila Souza Ramos

Em uma época em que crise é a palavra mais citada para identificar não só a atual situação financeira, mas o panorama de nossa civilização, reforça-se a palavra sustentabilidade como prática de proteção ao meio ambiente, mas do próprio ser humano. Com uma forma não convencional de explicar sustentabilidade, Marina Silva também atribuiu um novo significado ao termo, retomando a necessidade natural que o homem tem em ser sustentável.

A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente esteve presente em evento do Movimento Nossa São Paulo nesta sexta-feira, 15, e falou para o auditório do SESC Consolação lotado sobre a ressignificação de sustentabilidade nos dias atuais. “Essa é uma crise civilizatória, estamos em uma esquina ética em que teremos que fazer escolhas”, disse. “Estamos para decidir entre tomar três tipos de atitudes: podemos ficar estagnados e sermos levados; podemos fraudar o teste e fingir que tomamos atitudes que não resolvem; ou passar no teste, levando em conta o princípio da precaução”.

O caminho que nos levou a essa encruzilhada, diz Marina, iniciou-se a partir da cisão entre nós e o ambiente, e do domínio de nossas vontades sobre nossas necessidades. “Desde que o ‘id’ dominou a Terra, esquecemos de cuidar da sustentabilidade em todos os aspectos da vida”, afirma. Por isso ela acredita que precisamos ser “sustentáveis espiritualmente” também.

Os discursos gerados a partir dessa cisão entre o eu e o ambiente criaram objetivos individualistas e autodestrutivos. “Nossa civilização criou a idéia de que o céu é o limite. Mas o aquecimento global tem mostrado que o céu é quem tem nos limitado. Estamos agora encontrando os limites da natureza”, fala.

O comportamento derivado dessa cisão e sua reprodução são a ponta mais evidente desse processo. Marina lembra que “ninguém nasce querendo ter as coisas”. “Primeiro a gente aprende a ser gente, depois aprende a ter coisas. Acontece que aprendemos primeiro a ter as coisas do que a fazer com respeito. E esse fazer-fazer para ter-ter que tornou nossa civilização inviabilizadora”, coloca.

Mas esquecemos que esta reprodução de comportamentos e discursos resulta na determinação de um destino para as futuras gerações. “Qual o projeto antecipatório que nós temos para aqueles que ainda não nasceram? No atual contexto, o que temos é uma praga antecipatória”, provoca.

“Se não houvesse ninguém que nos formássemos, morreríamos. E o homem é um ser que depende da sustentação do outro, ele depende que os outros signifiquem para ele. É o outro que faz significação para dar sentido às coisas”, continua a senadora.

Marina defendeu a criação do novo índice de qualidade de vida. “Tudo depende de nossos referenciais. Índices nem sempre apontam felicidade do povo”, defende. “Temos que pensar o que é essa história de bem-estar”. Mas Marina ressalta que o índice não deve servir somente para a população cobrar das autoridades uma melhora nos números registrados. “Os fóruns não deve colocar tudo para o governo. As pessoas acham que tudo é o governo. Existe responsabilidade do cidadão comum, podemos eleger caminhos diferentes”, completa.

Fonte: Revista Fórum

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