por Leonardo Sakamoto
Marcio Barbosa é um dos principais nomes da Unesco há quase uma década. Ele, que já havia presidido com competência o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é um dos brasileiros mais reconhecidos no sistema das Nações Unidas e tinha grande chance de ser eleito diretor-geral neste ano.
Tinha se não fosse o raciocínio bizarro adotado por nossa diplomacia: “Cada candidatura que você lança tem um custo para outras. Pode ser gerado um desgaste em termos de apoio. Nós, no momento, temos duas candidaturas: a da ministra Ellen Gracie [hoje no Supremo Tribunal Federal] para a Organização Mundial do Comércio e a do Rio para sede dos jogos olímpicos”, disse o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
Sei que, historicamente, o país não dá muita importância para temas como educação, ciência e tecnologia e cultura. Pra que, né? Não dá lucro… Mas mostrar para o mundo inteiro que estamos trocando isso por questões comerciais é vergonhoso.
Vamos analisar o caso. Primeiro temos que considerar os interesses do nosso chanceler, que vê com bons olhos a cadeira de direção da Agência Internacional de Energia Atômica quando deixar o Itamaraty. E, a bem da verdade, é preciso dizer que não haveria nenhum desgaste para o país acumular o cargo na OMC e na Unesco.
Trocar algo na marca do pênalti e com grandes chances, como a candidatura de Barbosa, por algo que vai ser um mar de corrupção e de desvio de verbas como a talvez-quem sabe-possível Olimpíada no Rio é uma comédia.
“Fizemos uma opção geopolítica. O Brasil tem uma política de aproximação com os países árabes e africanos, que apoiam a candidatura egípcia”, afirmou Amorim. O Brasil irá apoiar o candidato egípcio, Farouk Hosny, ex-ministro, que não é um exemplo de tolerância às diferenças…
É interessante que Celso Amorim esteja tratando a candidatura do Egípcio como se fosse uma unanimidade entre os países árabes, o que também está longe de ser verdade. Tanto que alguns deles já afirmaram, reservadamente, que votariam em Márcio Barbosa e não no egípcio. Ou seja, corre o risco de estarmos, ainda por cima, puxando o saco de forma errada.
Acho que Amorim vem cumprindo bem o seu posto na chancelaria e a política internacional vem obtendo reconhecimento internacional. Mas isso não o absolve de decisões equivocadas como essa.
Pela cadeira no Conselho de Segurança e por um bom superávit comercial a gente faz qualquer negócio. De fechar os olhos para o genocídio no Sudão a negar lá fora os impactos sociais e ambientais do etanol no Brasil… Quando isso ainda envolve supostos interesses pessoais, fica pior ainda.
Fonte: Blog do Sakamoto
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