domingo, 17 de maio de 2009

Blog do Leandro Fortes, muito bom!

textos do blog do Leandro Fortes, jornalista excelente da Carta Capital

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Dedada tucana





por Leandro Fortes


Leio uma notícia emblemática sobre o enterro que se aproxima do governo Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul. O advogado José Eduardo Alckmin sentou praça em Porto Alegre para preparar a defesa da governadora, esta suspeita de tudo e mais um pouco, inclusive de colocar um caraminguá de caixa dois no bolso para realizar o sonho da casa própria. Leio a biografia do nobre causídico em questão e me vem um soluço de risada. Alckmin, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, teria sido escolhido “a dedo” pela cúpula do PSDB para defender Yeda. Os últimos governadores que foram defendidos pelo doutor Alckmin são, pela ordem, Cássio Cunha Lima, do PSDB da Paraíba, e Jackson Lago, do PDT do Maranhão. Ambos foram cassados.

Agora, pergunto eu: de quem é esse dedo?


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Eu e minha boca grande... (13/05/2009)

Simon apóia CPI...em Brasília

O senador Pedro Simon (PMDB) assinou hoje pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobrás. O pedido protocolado pelo senador tucano Álvaro Dias (PR) obteve 32 assinaturas: 12 do DEM, 13 do PSDB, 1 do PDT (Cristovam Buarque), 2 do PTB e 4 do PMDB (Jarbas Vasconcelos, Mão Santa, Pedro Simon e Geraldo Mesquita). A CPI quer investigar “indícios de fraudes em licitações de plataformas e denúncias de desvios de royalties do petróleo”.

Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, Simon e outras lideranças peemedebistas decidiram não apoiar a criação de uma CPI para investigar, entre outras coisas, indícios de fraudes em licitações de obras do governo Yeda. A bancada do PMDB na Assembléia Legislativa decidiu ontem não apoiar a CPI.
Fonte: http://rsurgente.blogspot.com

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Simon e Yeda (11/05/2009)



Coisa difícil, no Brasil, é falar bem de político. Fui elogiar o senador Pedro Simon, e logo chegou uma saraivada de críticas à aliança dele com o a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, do PSDB. Para mim, é bastante claro que Simon respeita os termos de uma aliança eleitoral, firmada dentro das circunstâncias da política local, embora isso não seja justificativa para nada, muito menos para apoiar um governo em franca degradação. É, também, como de resto, um cavalheiro ao tratar com a governadora, o que não me surpreende. Sabe o senador, no entanto, que o governo Yeda é uma gestão terminal, perdida entre a arrogância da titular e a corrupção endêmica denunciada diuturnamente pela oposição, com base em investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Não fosse a leniência com a qual a RBS, maior grupo de comunicação do estado e da região Sul, cobre os temas ligados ao governo tucano, talvez o caso já estivesse resolvido, com o impeachment de Yeda e o fim necessário de um desgoverno proverbial.

Toda informação realmente necessária sobre o caso, desde a deflagração da Operação Rodin, só foi possível de ser disseminada graças a uma rede de blogs informativos, com destaque para o imprescindível RS Urgente (http://www.rsurgente.blogspot.com), de Marco Aurélio Weissheimer, e o divertido Cloaca News (http://cloacanews.blogspot.com), apenas para citar os meus preferidos. Não posso deixar de lembrar que quando a imprensa nacional ignorava solenemente o caso de corrupção no Detran, fui duas vezes a Porto Alegre. Como resultado, a CartaCapital publicou duas capas a respeito. A recente matéria da Veja, tardia, mas, ainda assim, bem vinda, demonstra que nem mais a direita concebe conviver com esse cadáver insepulto, a cheirar mal e com potencial para impregnar a campanha de José Serra, o homem dos porquinhos espirrantes.

A bronca de muitos comentaristas, postadas aqui no blog, tem absoluta razão de ser. Simon precisa se pronunciar sobre Yeda Crusius e fazer o que se espera de um político de real grandeza: reconhecer o erro a tempo de torná-lo uma lição. O presidente Lula, quando foi eleito, em 2002, correu a Porto Alegre para se encontrar com Pedro Simon. A ele, ofereceu um ministério, oferta gentilmente declinada pelo senador, sob o argumento de que, ministro, traria muitos problemas ao presidente eleito por causa do PT do Rio Grande Sul. Preferia ajudar de fora. Eis aí uma grande oportunidade para fazê-lo, ou como se diz nos pampas, de montar um cavalo encilhado a lhe passar pela frente. Chegou a hora de Simon denunciar, da tribuna, o descalabro do governo Yeda e a farsa ideológica da elite gaúcha montada em torno da gestão do PSDB, revelada, no fim das contas, como um sinistro sorvedouro de verbas públicas gerenciado por quadrilheiros profissionais.

De minha parte, não espero menos do nobre senador.


Escrito por Leandro Fortes

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Simon (09/05/2009)

Gastei hora e meia do dia, na semana passada, no gabinete do senador Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul. Fui como repórter, interessado em ouvi-lo sobre a decadência do debate político no Congresso Nacional, mas a conversa com Simon é sempre uma oportunidade a mais de se estabelecer melhores parâmetros para o entendimento da política no Brasil. Trata-se de um político em extinção, orgulhoso da própria biografia e apegado a velhos valores de relacionamento e comportamento moral, embora esteja longe de ser um moralista. Não temos qualquer outra relação, eu e Simon, a não ser esta, eventual, de jornalista e fonte, mas tenho sempre muito prazer em ouvi-lo, embora ele só tenha uma vaga idéia de quem seja eu. O senador, no entanto, é um admirador da CartaCapital, além de ter como assessor de imprensa um jornalista de verdade, Luiz Cláudio Cunha, este sim, meu amigo e guru.

Ser um repórter desconhecido dos parlamentares, aliás, é o meu trunfo no Congresso, além de reforçar minha tese de que a única forma de cobrir política, no Brasil, é não tendo relação alguma com os políticos. A intimidade, quase sempre falsa e forçada, entre repórteres e parlamentares no Congresso está na origem da cobertura aborrecida e inútil da rotina parlamentar, estampada burocraticamente no noticiário. O jornalismo no Congresso é feito em bando, com dezenas de jornalistas ouvindo as mesmas fontes sobre os mesmos assuntos, diariamente. As tentativas de se descolar da manada nem sempre são felizes, baseadas muitas vezes na bajulação ou na submissão de interesses em troca de migalhas de informação. Quando não na exibição patética de gritinhos e interjeições melosas. Raras e honrosas exceções, como essa saborosa e impecável cobertura do site Congresso em Foco (www.congressoemfoco.com.br) sobre a farra de passagens aéreas, servem apenas para reforçar a minha visão. Para coisas assim, os chamados repórteres “setoristas” trabalham com uma venda nos olhos. Depois, têm que caminhar a reboque.

Pedro Simon, aos 78 anos, é lúcido e positivo, mas sabe que os modos de sua geração estão caindo em desuso, sobretudo em um Senado Federal onde as grandes lideranças políticas são protagonizadas por José Sarney e Renan Calheiros. Na noite que o encontrei, ele tinha acabado de descer da tribuna de onde tinha desancado o PMDB, partido do qual é uma espécie de membro fantasma. Estava revoltado com a postura de seus pares com relação às medidas moralizadoras levadas a cabo na Infraero pelo brigadeiro Cleonilson Nicácio, por ordem do ministro da Defesa, Nelson Jobim. O velho senador estava de estômago embrulhado com a reação do partido ao corte de quase uma centena de cargos na estatal dos aeroportos, a maioria dos quais ocupados por afilhados e parentes de peemedebistas. Indignação totalmente fora de moda no Congresso, ainda mais no PMDB. Aí eu fiz uma pergunta que há muito tempo eu queria fazer:

- Senador, porque o senhor não sai do PMDB?

Simon tem olhos claros e aguados que contrastam de forma interessante com a pele sempre bronzeada e os cabelos brancos. O conjunto lhe dá a aparência simpática e acolhedora de um mouro sábio. Nessas horas, ouve a tudo com um sorriso maroto que ele, invariavelmente, engatilha antes de responder a uma pergunta embaraçosa. Dá um suspiro de lado e desembaralha as mãos sobre a mesa, uma gesticulação muito típica dele.

- Sair do PMDB e ir para onde?

Normalmente, me irrito quando o entrevistado me responde com uma pergunta. Mas, no caso de Pedro Simon, o expediente serviu para gerar uma resposta precisa, mais ainda, uma síntese da encruzilhada em que ele e a política nacional se meteram. Em um Congresso comandado por malandros e nulidades, com um espectro de atuação reduzido a uma exposição permanente de escândalos de bordel, a saída de Simon do PMDB não faria diferença nenhuma.

Aliás, a única diferença possível no Congresso é, justamente, a presença de Simon.


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Fonte: Brasília, eu Vi



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