domingo, 31 de maio de 2009

Israel: “Racistas pela Democracia”*

::

Israel: “Racistas pela Democracia”*

por Uri Avnery

QUE SORTE, para Israel, ter a extrema direita a postos, a zelar pela democracia!


Essa semana, o Parlamento israelense aprovou em primeira votação, por ampla maioria (47 a 34), projeto de lei que pune com pena de prisão todos que se atrevam a negar que Israel seja Estado judeu e Estado democrático.

O projeto de lei, apresentado pelo deputado Zevulun Orlev, do partido "Lar Judeu", e que já ultrapassou a primeira sessão de votação, ameaça com um ano de cadeia "quem negue a existência de Israel como Estado judeu e democrático", no caso de a negativa decorrer de ou provocar "ações de ódio, desprezo ou deslealdade contra o Estado, as instituições do governo ou as cortes de justiça".

É fácil prever os próximos desenvolvimentos. Ninguém pode esperar que 1,5 milhão de cidadãos árabes reconheçam Israel como Estado judeu e democrático; todos eles querem que Israel seja "o Estado de todos os seus cidadãos" – judeus, árabes e outros. Protestam também, com razão, porque Israel os discrimina e, portanto, não é Estado realmente democrático. Além disso, também há judeus que não querem que Israel seja definido como Estado judeu no qual os não-judeus tenham status de, no máximo, marginais tolerados.

As consequências são inevitáveis. Não haverá prisões suficientes para encarcerar todos os condenados pela prática do novo crime. Terá de haver campos de concentração em toda a Israel, para prender todos os negadores da democracia israelense.

Faltará polícia para policiar tantos criminosos. Terá de haver novas unidades policiais. Um novo serviço policial, de "Segurança Especial", abreviadamente, uma SS.

Esperemos que essas medidas bastem para preservar a democracia israelense. Se não bastarem, outras medidas terão de ser tomadas: revogar a cidadania dos negadores da democracia e deportá-los de Israel, com toda a esquerda israelense e outros inimigos da democracia dos judeus.

Depois da primeira votação, o projeto de lei passará agora a ser examinado pela Comissão de Legalidade do Parlamento, que o porá em forma para a segunda votação em plenário e, depois, para a terceira. Em algumas semanas ou poucos meses, será lei em Israel.

Deve-se considerar que o projeto de lei não cita explicitamente os árabes – apesar de claramente se referir a eles e de todos os deputados entenderem que, sim, se aplica aos árabes. O projeto também proíbe judeus de pregarem qualquer alteração na definição do Estado, ou a criação de um Estado binacional em toda a Palestina histórica, ou de disseminarem qualquer dessas ideias não-convencionadas.

Pode-se imaginar o que aconteceria se, nos EUA, um senador apresentasse projeto de lei que autorizasse o Estado a prender qualquer cidadão que propusesse alguma emenda à Constituição dos EUA.

O projeto que está agora em votação em Israel, não é anômalo, no atual panorama político em Israel.

O governo já aprovou em primeira votação lei que pune com três anos de prisão quem manifeste pesar pela Nakba, a Catástrofe palestina – de 1948, quando mais da metade da população da Palestina foi expulsa de seus lares e de suas terras.

Há quem espere que os cidadãos árabes festejem a Catástrofe palestina. Sim, houve um certo incômodo para os palestinos, mas foi só efeito colateral da fundação do Estado de Israel. O "Dia da Independência" do Estado Judeu e Democrático tem de encher todos de júbilo. Quem não manifeste júbilo será metido na cadeia por três anos. E pode haver mais, a caminho.

Esse projeto de lei já foi aprovado na Comissão Ministerial de Legislação, antes de chegar ao plenário do Parlamento. Dado que o governo de direita tem maioria no Parlamento, o projeto será aprovado quase automaticamente. (Haverá pequeno atraso, porque um ministro pediu vistas do projeto; então, agora, a Comissão Ministerial terá de re-aprovar o que já aprovou.)

Os que votaram a favor da nova lei esperam, talvez, que, no "Dia da Catástrofe", os árabes dancem nas ruas e metam bandeiras de Israel no topo das ruínas de cerca de 600 vilas árabes que foram apagadas do mapa e agradeçam a Alá, nas mesquitas, a boa sorte miraculosa que se abateu sobre eles.

TUDO ISSO me faz lembrar os anos 60s, quando a revista semanal que eu editava, Haolam Hazeh, publicou uma edição em árabe. Um dos jornalistas que trabalhava comigo era um jovem, Rashed Hussein, da vila de Musmus. Apesar de muito jovem, era bom poeta, com futuro promissor.

Rashed contou-me que, poucos anos antes, o governador militar da região onde vivia o havia chamado ao seu gabinete. Naquele tempo, todos os árabes em Israel estavam submetidos a um governo militar que controlava todos os campos da vida, das menores às maiores questões. Sem autorização, nenhum cidadão árabe podia sair de sua vila ou cidade, sequer por algumas horas, nem trabalhar como professor, nem comprar um trator, nem escavar um poço.

O governador recebeu Rashed com cordialidade, ofereceu-lhe café e elogiou seus poemas. Depois, foi direto ao ponto: faltava um mês para o "Dia da Independência", e o governador ofereceria uma grande recepção para os árabes "notáveis"; e queria que Rashed escrevesse um poema especialmente para a ocasião.

Rashed era jovem e orgulhoso, nacionalista apaixonado e valente. Disse ao governador militar que o "Dia da Independência" não era dia de alegria para ele, porque parentes seus haviam perdido casa e terras; e quase toda a terra da vila de Musmus havia sido expropriada.

Ao chegar de volta à vila, algumas horas depois, Rashed sentiu que todos o olhavam de modo estranho. Ao entrar em casa, teve um choque. Toda a família sentada no chão, as mulheres lamentando aos gritos, as crianças encolhidas de medo, num canto. Contou que seu primeiro pensamento foi que alguém morrera.

"O que fez você?!" – gritou uma das mulheres. "O que fez à nossa família?" "Que mal lhe fizemos nós, para merecer isso?!" – gritou outra. "Você destruiu a família! Você acabou conosco!"

O governador telefonara à família e contara que Rashed se recusara a cumprir seu dever em relação ao Estado. A ameaça, clara: dali em diante, toda a família expandida, das maiores da vila, passaria a figurar na lista negra do governo militar. Todos sabiam o que aquilo significava.

Rashed não conseguiu suportar os lamentos da família. Cedeu e escreveu o poema que o governador pedira. Mas algo quebrou-se, nele, para sempre. Alguns anos depois, emigrou para os EUA, conseguiu emprego no escritório da OLP e morreu tragicamente: queimado, em incêndio provocado por ele, que dormiu sem apagar o cigarro.

ESSES DIAS foram-se, para sempre. Participamos de imensas manifestações contra o regime militar, que foi finalmente abolido. Como deputado recém eleito ao Parlamento, tive o privilégio de votar para abolir o regime militar, em 1966.

A minoria árabe, assustada e subserviente, então cerca de 200 mil almas, recobrou a auto-estima. Nasceram e cresceram uma segunda, depois uma terceira geração. O orgulho nacional, destruído naquele momento, renasceu. Hoje, os árabes são comunidade autoconfiante, de 1,5 milhão de pessoas. O que não mudou foi a direita israelense. Não melhorou. Ao contrário: piorou.

Na cozinha do Parlamento de Israel (que em hebraico se diz "máfia") estão sendo cozinhadas outras leis. Uma delas estipula que quem solicite a cidadania israelense terá de declarar lealdade a um "Estado judeu, sionista e democrático"; e terá também de comprometer-se a prestar serviço militar, no próprio exército ou em organismos civis. O projeto foi proposto pelo deputado David Rotem do partido "Israel Nosso Lar" – o mesmo partido do presidente da Comissão Parlamentar de Legislação.

Até se admite a declaração de lealdade ao Estado e suas leis – que é meio para salvaguardar os direitos e o bem-estar dos cidadãos. Mas... jurar lealdade a um Estado "sionista"?

O sionismo é uma ideologia. Em Estados democráticos, prevê-se que a ideologia do Estado mude de tempos em tempos. Exigir juramento sionista como condição para obter a cidadania em Israel, seria como alguém, para receber a cidadania nos EUA, ser obrigado a jurar lealdade ao capitalismo; ou ter de jurar lealdade à direita, para ser cidadão italiano; ou à esquerda, para ser cidadão espanhol; ou ao catolicismo, para ser cidadão polonês; ou ter de jurar lealdade ao nacionalismo, para ser cidadão russo.

Não haverá problema direto para as dezenas de milhares de judeus ortodoxos israelenses que rejeitam o sionismo, porque nenhum judeu estará jamais submetido a essa lei. Todos os judeus recebem cidadania israelense automática, no instante em que pisam em Israel.

Outro projeto de lei que espera para ser votado no Comitê Ministerial propõe alteração na declaração que todos os deputados têm de fazer, antes de tomarem posse no Parlamento. Em vez de terem de jurar lealdade "ao Estado de Israel e suas leis", como se faz hoje, o deputado ou deputada eleita terá de jurar lealdade "ao Estado judeu, sionista e democrático de Israel, aos seus símbolos e seus valores". Essa exigência impedirá quase automaticamente a eleição de deputados árabes, porque, a partir do momento em que qualquer deputado árabe declare lealdade ao Estado sionista... nunca mais voltará a ser eleito.

A lei também criará problemas para os judeus ortodoxos eleitos ao Parlamento e que se recusem a jurar lealdade ao sionismo. Pela doutrina ortodoxa, os sionistas são pecadores depravados e a bandeira sionista é considerada bandeira imunda. Deus exilou os judeus da terra onde viviam por causa dos pecados dos judeus; e só Deus pode permitir que voltem.

Para os judeus ortodoxos, o sionismo tentou usurpar o trabalho do Messias e, aí, cometeu pecado imperdoável. Muitos rabinos ortodoxos escolheram permanecer na Europa, onde foram mortos pelos nazistas, para não cometer o pecado sionista de imigrar para a Palestina.

A fábrica de leis racistas, em que se converteu o parlamento de Israel, com forte odor fascista, trabalha hoje a pleno vapor. O odor fascista está impregnado na nova coalizão de governo.

No centro da coalizão está o partido Likud, formado em grande parte de racistas puros (perdoem o oxímoro). À sua direita, está o ultra-racista partido Shas; à sua direita, está o ultra-ultra racista partido de Lieberman, "Israel Nosso Lar"; à sua direita, está o ultra-ultra-ultra racista partido "Lar Judeu"; à sua direita, está o partido "União Nacional", ainda mais racista que todos os demais, e onde se esconde o partido Kahanista, já proscrito, e que vive com um pé na coalizão de governo e o outro pé na lua.

Todas essas facções racistas estão tentando ser mais racistas que as demais. Quando um partido apresenta um projeto racista de lei racista, o outro fica na obrigação de propor projeto ainda mais insano. E assim vamos.

Tudo isso é possível, porque Israel não tem Constituição. A competência da Suprema Corte para anular leis que contradigam as "leis básicas" não está fundada em Constituição escrita. Agora, os partidos da direita estão tentando quebrar a competência e a legitimidade também da Corte Suprema. Não por acaso, Avigdor Lieberman pediu – e ganhou – o ministério da Justiça e o ministério da Segurança Interna.

E agora, quando os governos de EUA e Israel entram em muito visível rota de colisão sobre as colônias ilegais, essa febre racista está infectando toda a coalizão de governo.

Quem se deita com o cachorro, não se surpreenda se acordar coberto de pulgas (e me perdoe o cachorro que por acaso me leia). Os que votaram para eleger esse governo e, mais ainda, os que se uniram a ele, não se surpreendam com as leis que, claramente, estão criando uma democracia racista, só para judeus.

O melhor nome para esses fanáticos religiosos é "Racistas pela Democracia."

* URI AVNERY, "Racists for democracy", em Gush Shalom [Grupo da Paz], na internet em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1243720987/.

Fonte: Vi o Mundo

::

Share/Save/Bookmark

Serra recebe um "abraço mortal"

::

por Luiz Carlos Azenha

José Serra ainda é o favorito para vencer as eleições em 2010. A não ser por dois pequenos detalhes: um, o eleitor. O segundo, a conjuntura.

Conjuntura? Quem é esse cara?

A conjuntura mostra que o brasileiro está satisfeito com o Brasil. As coisas não estão às mil maravilhas, mas estão melhores que antes. E o Brasil, francamente, é "o cara" na conjuntura política e econômica internacional.

O mundo caminha à esquerda. Não é um fenômeno apenas brasileiro. Nem é a esquerda tradicional, aquela de muito discurso e pouco resultado. É a esquerda "de resultados".

Quem aqui acredita que o Hugo Chávez e o Evo Morales são populares em seus respectivos países apenas pelo discurso fortemente ideológico? Ora, gente, deixem de bobagem. Ambos prometeram entregar o almoço e entregaram. Talvez não tão bom quanto esperavam os comensais. Mas o rango saiu. Talvez o prato tenha vindo com "menas" carne que o prometido, com abobrinha no lugar do ovo. Mas o PF foi entregue.

E, da mesma forma, Lula entregou o almoço no Brasil. O almoço veio no Bolsa Família. Nos aumentos do salário mínimo. Na criação de escolas técnicas. Nos empregos criados nos estaleiros do Rio de Janeiro. No ProUni. No programa habitacional Minha Casa, Minha Vida -- que é um sucesso extraordinário de público. Nas obras do tão criticado PAC. Na mera existência melhorada do SUS, o maior programa de saúde do mundo.

Quando o muro de Berlim caiu, a direita imaginou que poderia turbinar o capitalismo às custas do chicote no lombo da malta. Nasceu o neoliberalismo. Da reação a ele, na América Latina, nasceu o "socialismo do século 21", ou como você quiser chamar esse modelo que mistura iniciativa estatal com iniciativa privada, democracia "burguesa" turbinada com plebiscitos e referendos, as tradicionais liberdades democráticas mas, acima de tudo, uma mesa de almoço mais ampla, com mais gente, graças a políticas públicas de inclusão social.

Eu conheço muita gente que acha, sinceramente, que o José Serra é melhor candidato que a Dilma Rousseff. Eu conheço gente que, sinceramente, acredita que a FIESP apóia a Dilma, não o Serra. Eu conheço gente que, sinceramente, acredita que Serra está à esquerda de Dilma. O problema, na verdade, é que quem "faz companhia" a Serra pretende cortar impostos e, ao fazer isso, terá que chutar alguns convidados para fora da mesa de almoço.

Querem um exemplo? O Instituto Millenium, que diz incorporar todos os objetivos do "liberalismo" tradicional, promove o Dia da Liberdade de Impostos.

liberdade_de_impostos.jpg

Quem são os patrões do Instituto? Armínio Fraga, Roberto Civita e Roberto Irineu Marinho, entre outros.

Quem são os funcionários do Instituto? Eurípedes Alcântara, editor da revista Veja, entre outros.

Quem são os "escribas" do Instituto? Demétrio Magnoli, Carlos Alberto Sardenberg e Alexandre Barros, aquele que escreveu que a Dilma deve desistir de sua candidatura.

Notem, no site do Instituto, como a GloboNews já se articula com o comentarista Alexandre Barros para tratar da CPI da Petrobras. É uma tremenda armação, que mistura a campanha pró-Serra com os interesses dos Marinho, dos Civita e de seus patrocinadores.

O Millenium é o que encontrei de mais próximo, na conjuntura atual, ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), que na era pré-golpe de 1964, com financiamento de empresários brasileiros e norte-americanos, acabaram promovendo a agitação intelectual que justificou a quartelada.

É o que de mais próximo existe no Brasil do American Enterprise Institute, o instituto de Washington que, com financiamento dos graúdos, promoveu as políticas propostas pelo neocons nos Estados Unidos, especialmente o irresponsável corte de impostos dos mais ricos patrocinado pelo governo Bush -- mas também a invasão do Iraque.

CHENEY.jpg

Veja aqui quem são os "bolsistas" e os financiadores do American Enterprise Institute.

No Brasil, é a turma do Instituto Millenium que "cerca" José Serra.

Se ele insistir com essa turma, é mais fácil o Vesgo do Pânico se eleger (será que alguem já pensou nisso?).

Serra pode até pretender se apresentar como "de esquerda", mas hoje ele é o candidato "dos" e "para" os neocons brasileiros, aqueles que querem cortar impostos -- isto é, extinguir os programas sociais --, criminalizar os movimentos sociais -- isto é, prender o MST -- e "promover a democracia" para poucos -- isto é, invadir o Paraguai, a Bolívia e a Venezuela.

Serra é o candidato dos que querem expulsar gente da mesa do almoço. É o candidato dos brancos de olhos azuis. É o candidato do Higienópolis e do Leblon. É o candidato do Gilmar Mendes. Do Ali Kamel e do Reinaldo Azevedo. É o candidato da direita e não tem como escapar disso.

PS: Até pequenos empresários, que em tese seriam eleitores naturais de José Serra, admitem hoje que quanto mais gente come, estuda e trabalha no Brasil, mais gente consome e participa da sociedade; ou seja, percebem que as políticas públicas de inclusão social melhoram todo o Brasil e também o Brasil habitado por eles.

PS2: Serra ajudou a implantar no Brasil nosso arremedo de "democracia de massas". É inacreditável que tente se eleger aliado a gente que é contra ela.

Fonte: Vi o Mundo

::


Share/Save/Bookmark

Economia versus preservação

::

por Danilo Pretti di Giorgi*

Os recentes ataques desferidos contra as leis ambientais no Brasil mostram que está, enfim, chegando a hora de enfrentarmos com seriedade e sem esquivas o dilema ‘crescimento econômico versus preservação do meio ambiente’.

Exemplos não faltam, mas o mais chocante vem de Santa Catarina, onde, ironicamente, o desrespeito às leis ambientais foi um dos maiores responsáveis pela tragédia das enchentes no ano passado. A Assembléia Legislativa catarinense aprovou em março um código estadual do meio ambiente que, entre outras coisas, reduz de 30 para cinco metros a área de proteção obrigatória das matas ciliares (vegetação que protege as margens dos rios, com função similar à de sobrancelhas e cílios para os nossos olhos). O tal código estabelece também que toda terra já cultivada no estado seja considerada "área consolidada", o que garante a continuidade de produção mesmo onde ela ocorre ilegalmente em regiões de preservação.

Curto e grosso assim, um exemplo seco de total desprezo pelas mínimas necessidades da vida selvagem em nome de uma aparentemente incontrolável necessidade de expansão da área cultivada. Um detalhe: o código é francamente inconstitucional, pois a legislação estadual não pode ser mais permissiva que a federal equivalente.

Em Brasília, estão tentando reduzir as reservas legais, as áreas que devem ser preservadas nas propriedades rurais (sendo que as porcentagens variam de uma região para outra do país) e há iniciativas para revogar decretos de proteção de dez milhões de hectares em unidades de conservação federais (uma área que corresponde a mais de duas vezes o estado do Rio de Janeiro).

A ofensiva, liderada por políticos da bancada ruralista, tenta também anular os efeitos de recentes iniciativas governamentais para frear o desmatamento, como o Plano de Combate ao Desmatamento da Amazônia, que corta o crédito rural de fazendeiros que desmataram ilegalmente, e o decreto 6.514, que prevê sanções administrativas pelo descumprimento do Código Florestal.

Enquanto isso, nove reservas em diferentes pontos do país estão emperradas na Casa Civil esperando autorização, pois o Ministério das Minas e Energia tem interesse nas áreas. Já o Ministério do Meio Ambiente recebeu apenas mil dos três mil novos fiscais que pediu para lutar contra o desmatamento na Amazônia. E a intenção de criar a Guarda Florestal Nacional ficou só na intenção. A lista de ataques não pára por aí, e seria cansativo para o leitor se eu tentasse esgotá-la neste espaço.

Enquanto tudo isso acontece, assistimos, perplexos, ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, elogiar o exemplo catarinense e brincar de vidente ao "prever leis ambientais mais flexíveis no país". Stephanes também tem defendido crimes como a liberação da agricultura em topo de morros e encostas e quer que a compensação de áreas desmatadas ilegalmente possa ser realizada com reflorestamento em locais distantes, até mesmo em outros estados (algo tão absurdo quanto propor que você resolva o problema causado pelo buraco no telhado da sua casa consertando o telhado da casa do seu vizinho). O ministro podia perguntar aos catarinenses que tiveram parentes mortos e casas destruídas pelas enchentes o que acham das suas idéias.

Stephanes está na linha de frente da ofensiva, fazendo ameaças, como a previsão de que, caso não sofra modificações profundas, o Código Florestal inviabilizará "quatro milhões de hectares produtivos, quinze milhões de toneladas de produtos, além de provocar o desaparecimento de milhares de agricultores, propriedades e até de pequenos municípios".

Essa fala do nobre ministro esclarece, portanto, o que a maior parte dos ambientalistas prefere fingir que não vê: ao contrário do que ouvimos muito por aí, meio ambiente e crescimento econômico se chocam, sim, e não são naturalmente compatíveis. É preciso tirar de um para dar ao outro. E é preciso coragem para encarar um debate sobre esse fato, para que se possa questionar o paradigma da premência do crescimento econômico sem fim.

Quando a discussão acerca da questão ambiental se acentua, os defensores da teoria furada do crescimento eterno usam em sua defesa os argumentos da ameaça ao crescimento econômico, aos empregos, à saúde da economia. É neste ponto que os ambientalistas costumam recuar, afirmando ser possível aliar crescimento econômico e preservação, discurso sempre presente na mídia de massa e nos bolsos dos coletes do ministro Minc.

É claro que poderíamos adiar este embate se a elite brasileira não fosse tão pré-histórica em suas práticas nem tão cega para qualquer coisa que não signifique o lucro imediato, com o menor esforço possível e a qualquer preço. Se empresários e ruralistas aceitassem a possibilidade de uma margem de lucro um pouco menor, o choque entre preservação e crescimento da economia poderia ser empurrado para frente, para daqui a dez ou quinze anos, caso houvesse, por exemplo, real interesse na recuperação dos tais 60 milhões de hectares em áreas degradadas, ao invés de desmatar novas áreas. Ou se aplicássemos técnicas para melhor aproveitamento das áreas produtivas. Ou ainda se buscássemos seriamente alternativas para aproveitamento econômico da floresta com atividades verdadeiramente sustentáveis. Ou se pensássemos na agricultura em termos mais amplos, com olhos voltados para todos os tamanhos de propriedades e para a diversificação e não só nas grandes propriedades monocultoras. Ou talvez se enxergássemos a função social da propriedade, tal qual manda a Constituição.

Mas nada disso é mais rentável que simplesmente derrubar mata virgem e tocar fogo, e esse fato singelo faz a conversa terminar por aí quando falamos de capitalismo brasileiro. Mesmo na hipótese da aplicação de opções como as descritas acima, depois de certo tempo o embate entre crescimento econômico e preservação voltará à tona. Não há como fugir disso. Enquanto não tivermos coragem de enfrentar seriamente essa verdade continuaremos a ser presas fáceis daqueles que se aproveitam das brechas nas nossas argumentações para enriquecerem às custas da natureza.

Não é possível que toda vez que alguém fale em "ameaça ao crescimento econômico" os ambientalistas corram para apagar o fogo e tentar apaziguar, apegando-se ao discurso oficial, amparado em grande parte pela sede das grandes ONGs ambientalistas por patrocínios polpudos. É preciso, ao invés disso, que cada um mostre realmente de que lado está, comprando a briga e aprofundando este debate, sem medo de suas conseqüências.

*Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

E-mail: digiorgi@gmail.com

Fonte: Correio da Cidadania

::

Share/Save/Bookmark

O Eixo do Mal redivivo

::

por Guilherme Scalzilli

É patético esse esforço da imprensa conservadora para vilanizar a Coréia do Norte. Inventar “inimigos do mundo civilizado” pode combinar com o oportunismo iletrado da política diuturna, mas não condiz com jornalismo respeitável.
O desenvolvimento de tecnologia nuclear tem sido simplificado a um nível de indigência mental que só compete com as baboseiras histéricas da Guerra Fria. A insistência em qualificações datadas como “ditadura comunista” para classificar o regime norte-coreano (ninguém diz “ditadura capitalista”, certo?) evidencia o logro.
A questão primordial em jogo: impedir que países não-alinhados a Washington tenham acesso a fontes alternativas de energia. A mobilização uníssona das potências econômicas visa preservar a dependência de combustíveis fósseis (e de toda a tecnologia adjacente), cuja enorme importância geopolítica dispensa comentários.
Guerras não têm nada a ver com isso, embora os mísseis de Kim Jong-il estejam muito distantes de qualquer outra meta que não uma simples afirmação de poderio militar para seu estúpido regime em frangalhos. A fabricação de armas atômicas não é sequer um objetivo proveitoso em si, quiçá uma ameaça considerável em eventuais conflitos bélicos, já improváveis no domínio regional chinês.
E por que um arsenal do tipo estaria mais seguro sob imbecis como George W. Bush (ou seus semelhantes indianos, paquistaneses, russos) do que em mãos iranianas ou chinesas? Querer que estes países abram seus laboratórios e usinas ao escrutínio vampiresco de “autoridades” estrangeiras apenas revela, na melhor das hipóteses, a xenofobia e o racismo que alimentam a ilusão da superioridade ocidental. Na pior delas (e mais realista), demonstra que esse pacifismo tem utilidade puramente propagandística, sem qualquer pretensão prática.
Se quisesse mesmo contribuir para o tal desarmamento, o governo estadunidense reconheceria que protagonizou o único ataque nuclear da História, assassinando desnecessariamente centenas de milhares de civis japoneses na II Guerra. E tomaria a iniciativa de destruir um arsenal inútil sob todos os pontos de vista.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

::
Share/Save/Bookmark

Frases para entender o Brasil

::

por Leonardo Sakamoto

Mais duas para as “Frases para entender o Brasil”: curtas, grossas, maravilhosamente elucidativas do que faz o Brasil Brasil.

Tema: Meio Ambiente

“Se essa defesa antipatriótica do meio ambiente que fazem aqui no Brasil fosse feita por essas pessoas na China, elas já teriam levado tiro e família ter pago a bala.”

Antônio Fernando Pinheiro Pedro, presidente do Comitê de Meio Ambiente da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em debate sobre o tema para empresários associados, revelando certos desejos.

“O que os defensores do meio ambiente devem entender, é que o universo é violento e destrutivo. Portanto preservar o meio ambiente deve considerar isso, porque senão poderá às vezes nos prejudicar. Ao derrubar uma árvore, estamos na verdade dando o direito de outra nascer.”

Luciano Pizzatto, deputado federal pelo DEM do Paraná, também no debate na Amcham, usando uma retórica política de alto nível para explicar como a motosserra equilibra as forças do universo. Para ver mais pérolas do debate, entre no blog do Greenpeace.

Fonte: Blog do Sakamoto

::


Share/Save/Bookmark

Lula e a democratização da propaganda

::

por Luiz Antônio Magalhães

A Folha de S. Paulo também publica neste domingo uma matéria muito interessante sobre os gastos da propaganda do governo Lula. O que a Folha vê como negativo este blog reputa muitíssimo positivo. A questão é simples, conforme se pode ver abaixo. Com praticamente o mesmo dinheiro, o governo Lula anunciou em mais de 5 mil veículos de comunicação. Durante a gestão de Fernando Henrique, eram apenas 500 os beneficiados.

A Folha sustenta que esta prática não é condizente com as regras de mercado e cita exemplos da Fiat e Itaú, que publicam anúncios para menos de 200 veículos. De fato, o governo Lula não obedece às regras de mercado, o que é a melhor notícia que se pode ter nesta área.

Com a maior distribuição dos recursos de propaganda, na prática o governo fomenta a democratização dos meios de comunicação. Antes, só os grandões levavam o meu, o seu, o nosso dinheirinho, impedindo o crescimento de outras publicações. Agora, jornais regionais e pequenos também levam e podem se tornar competitivos, o que é ótimo para a sociedade de várias formas: dinamiza o mercado de trabalho do setor, possibilita que diferentes vozes tenham meios de expressar suas ideias, enfim, é tudo de bom. Abaixo, a matéria da Folha sobre o assunto.

Propaganda de Lula chega a 5.297 veículos

Com PT no Planalto, o número de meios de comunicação que recebem verbas de publicidade federal aumentou 961%

Ao tomar posse, comerciais do petista atingiam 21 TVs e 270 rádios; no fim de 2008 já havia 297 TVs e 2.597 rádios veiculando anúncios oficiais

por FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os comerciais do Palácio do Planalto atingiram no ano passado 5.297 veículos de comunicação no país. O número representa uma alta de 961% sobre os 499 meios que recebiam dinheiro para divulgar propaganda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, quando o petista tomou posse.
Esse padrão de pulverização na publicidade é incomum na iniciativa privada. Segundo dados do Ibope Monitor, a Fiat anunciou em 206 meios de comunicação diferentes no ano passado. O banco Itaú, em 176. Trata-se de uma pesquisa por amostragem, mas mesmo com um desvio de 1.000% o número de veículos nos quais essas duas empresas anunciam não se aproximaria dos 5.297 escolhidos pelo governo federal.
A regionalização da propaganda federal é parte de uma estratégia de marketing do governo. Presidente mais bem avaliado no atual ciclo democrático, Lula viu sua alta popularidade se consolidar numa curva quase paralela ao avanço da distribuição de seus comerciais pelo interior do país.
"O fato de ter ampliado a presença do presidente na mídia regional pode ter ajudado [a elevar a popularidade do governo]", admite Ottoni Fernandes, subchefe-executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que está sob o comando do ministro-chefe da Secom, Franklin Martins.

Mudança de estratégia
Diferentemente dos antecessores, Lula regionalizou radicalmente a distribuição de verbas de publicidade. Não houve um aumento expressivo no valor gasto, mas uma mudança de estratégia. Grandes veículos de alcance nacional passaram a receber um pouco menos. A diferença foi para pequenas rádios e jornais no interior.
O orçamento total consumido em mídia por Lula e pelo tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), seu antecessor, oscilou sempre na faixa de R$ 900 milhões a R$ 1,2 bilhão por ano -sem contar patrocínios e outros custos relacionados à produção de comerciais.
No caso das verbas apenas para a Presidência, só há dados disponíveis a partir de 2003. Antes a propaganda presidencial era feita de maneira dispersa pelos vários organismos da estrutura federal. Lula gasta anualmente um pouco acima de R$ 100 milhões com comerciais idealizados pelas agências que servem ao Planalto.
A diferença em relação ao governo anterior é a distribuição das propagandas por muitos meios de comunicação de pequeno porte. Logo depois de tomar posse, os comerciais do petista atingiam, por exemplo, apenas 270 rádios e 21 TVs. No final do ano passado, já eram 2.597 emissoras de rádio e 297 TVs recebendo dinheiro do Planalto para divulgar mensagens da administração federal.
Não se trata de publicidade de utilidade pública. Campanhas de vacinação ou sobre matrículas escolares continuam sendo executadas pelos ministérios. A propaganda produzida pelo Planalto é sobre ações de interesse político-administrativo -como divulgar a lista de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Às vezes o governo também atua como animador da população. No final do ano passado, uma campanha nacional foi veiculada para que os brasileiros não interrompessem o consumo por receio dos efeitos da crise econômica internacional.
"O presidente Lula, se eu pudesse escolher, deveria ser o profissional de comunicação do ano. Ele reduziu, no gogó, a tensão da população, da classe C ascendente. O presidente é ótimo em comunicação integrada. A regionalização da mídia é uma parte. Já existia antes de a crise chegar e ajudou", diz Mauro Montorin, publicitário da agência 141, uma das responsáveis pela conta da Presidência da República.
A capilaridade dos comerciais de Lula pode ser também mensurada pelo número de cidades brasileiras nas quais há propaganda do Palácio do Planalto. Em 2003, eram 182 municípios atingidos. Agora, são 1.149 -uma alta de 531%.
"A mídia regional é mais ligada às comunidades e tem mais credibilidade localmente (...) Partimos para uma política de atender a mídia regional, com mais entrevistas do presidente. Há uma mania no Brasil de achar que a mídia é só em São Paulo e no Rio", diz Ottoni Fernandes, subchefe da Secom.
A diretriz geral é dada pelo ministro Franklin Martins: "A imprensa regional está crescendo no Brasil. O objetivo do governo é se comunicar com a população e esses veículos do interior atingem uma parcela relevante da população".

Rádios e jornais
Em 2003, havia 5.772 rádios no Brasil, de acordo com o Ministério das Comunicações. Hoje, são 8.307 emissoras, incluindo as 3.685 chamadas "rádios comunitárias", cujo alcance do sinal é limitado.
No meio jornal, quando Lula tomou posse, existiam 2.684 títulos no país, segundo a Associação Nacional de Jornais; em 2006, último dado disponível, já eram 3.076 veículos.
Uma das razões para a iniciativa privada não anunciar na maioria desses veículos é a falta de mecanismos para auditar a penetração da mensagem e aferir a eficácia do comercial. Poucos jornais no país têm tiragem comprovada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação). Essa entidade só inspeciona 118 dos mais de 3.000 títulos.
O governo afirma exigir comprovação de impressão por parte do pequenos jornais antes de fazer o pagamento. No caso das rádios, diz Ottoni Fernandes, "há cadastro com todas as emissoras em cidades com mais de 50 mil habitantes", que precisam emitir faturas e dar alguma prova de veiculação do comercial. Essa é uma exigência do TCU (Tribunal de Contas da União), que foi consultado ao longo do processo de regionalização para aprovar os métodos do Planalto.

Fonte: Blog Entrelinhas

::

Share/Save/Bookmark

Datafolha: coitada da oposição...

::

por Luiz Antônio Magalhães

Aprovação recorde de Lula, crescimento da candidatura de Dilma Rousseff e aumento do apoio à tese do terceiro mandato. Tudo isto em meio a tal "maior crise da história do capitalismo". É o que revela a pesquisa Datafolha publicada neste domingo na Folha de S. Paulo. Parece incrível e de fato é incrível. O que sobra para a oposição? O bom desempenho do governador José Serra (PSDB), sem dúvida. Ainda na liderança para a sucessão de Lula, Serra vive uma certa ilusão - seu recall é tamanho que só na campanha vai dar para saber como o povo reagirá ao entender que ele é o principal candidato da oposição, coisa que ainda não está clara para o povão. É evidente que Dilma vai subir muito mais e embaralhar o jogo - se o candidato fosse Lula, a eleição nem teria graça, conforme atestam os números da pesquisa espontânea, na qual o presidente tem 27% das intenções de voto contra 5% de Serra.

Na verdade, o grande enigma do cenário captado pela pesquisa Datafolha é a questão da crise. Afinal, seria natural que a popularidade presidencial continuasse caindo em função dos acontecimentos na economia. De duas uma: ou a crise parou de se agravar e os jornalões não estão conseguindo retratar este movimento; ou Lula se tornou imune aos efeitos da crise. Não dá nem para saber o que é pior para a oposição...

Fonte: Blog Entrelinhas

::
Share/Save/Bookmark

DEM quer Serra na rua (fazendo campanha)

::

por Luiz Antônio Magalhães

Boa apuração do repórter Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, reproduzida abaixo. É fato: o governador José Serra está se escondendo do debate público. Acha que pode ganhar a eleição de 2010 da mesma maneira que venceu em 2006 o governo de São Paulo: sem dizer o que vai fazer, sem programa, sem discurso. A verdade é que Serra venceu com facilidade a disputa pelo palácio dos Bandeirantes porque enfrentou um dos piores quadros petistas - o senador Aloizio Mercadante, um verdadeiro mico em loja de louças da política nacional. O DEM, portanto, está com a razão, pois a eleição presidencial é uma parada muito mais dura. Sim, Dilma Rousseff não é uma candidata "natural" à sucessão do presidente Lula, mas nem de longe poderia ser comparada a Mercadante. Dilma tem compostura, pegada de boa administradora e um discurso coerente. Mal comparando, Serra em 2006 disputou a corrida com um Barrichelo da política (garantia de vitória para o adversário), agora pode não pegar um Ayrton Senna, mas terá que enfrentar um Felipe Massa, piloto que tanto pode chegar em segundo ou vencer a corrida, mas vai sempre dar trabalho a quem estiver na liderança. Isto sem falar em Ciro Gomes, que pode fazer o papel desses pilotos que ninguém dá muita bola e acabam fazendo bonito nas pistas, surpreendendo os favoritos. É, melhor Serra pelo menos começar a esquentar o carro ou corre risco de acabar ficando para trás...
A seguir, a íntegra do texto de Josias de Souza, originalmente publicado em seu blog.

DEM pressiona Serra a antecipar a campanha de 2010

Condenado a uma aliança com o PSDB na sucessão de Lula, o DEM está incomodado com a passividade do tucano José Serra.

O incômodo, que era latente, tornou-se explícito numa reunião-almoço realizada nesta quinta (28), no Rio de Janeiro.
O repasto foi oferecido pelo prefeito carioca, o ‘demo’ Cesar Maia. Dividiu a mesa com as principais lideranças do DEM.
Fez-se uma análise da conjuntura política. Serra foi à berlinda. Lero vai, lero vem produziu-se a unanimidade.
Um a um, os presentes foram expressando sua irritação com a decisão de Serra de priorizar o governo de São Paulo em detrimento da campanha.
Eis a conclusão a que chegaram: a estratégia do governador podia fazer sentido no início do ano. Mantê-la agora pode resultar em grave erro de cálculo.
O DEM espanta-se com o crescimento da candidata de Lula nas pesquisas.
Na semana passada, o PT divulgara sondagem que atribui a Dilma entre 19% e 25% das intenções de voto, dependendo do cenário.
No mesmo levantamento, feito pelo instituto Vox Populi, Serra despenca dez pontos percentuais, situando-se entre 33% e 46%.
Para o DEM, Serra precisa levar sua campanha à vitrine imediatamente. Avalia-se que, sem contrapontos, Dilma vai encostar no rival.
Eis o que disse ao blog um dos participantes do conciliábulo ‘demo”:
“O Serra precisa sair em campo. Do contrário, mesmo com a crise financeira e com a doença, Dilma vai crescer um pouquinho a cada pesquisa...”
“...Vamos chegar a dezembro com uma diferença muito pequena. E ficará bem mais difícil costurar os acordos para a montagem dos palanques nos Estados”.
Puseram-se de acordo: o anfitrião César Maia; o filho dele, Rodrigo Maia, que preside o DEM; e Jorge Bornhausen, presidente de honra da legenda.
Compartilharam do ponto de vista o governador do DF, José Roberto Arruda, e os líderes no Legislativo: José Agripino Maia (Senado) e Ronaldo Caidado (Câmara).
Também presente, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo –hoje, o ‘demo’ mais próximo de Serra—, silenciou.
“Quem cala consente”, avaliaria depois, em conversa com o blog, um dos comensais de Cesar Maia.
Coube justamente a Kassab a missão de transmitir a Serra, em nome do partido, a animosidade verificada na reunião-almoço.
De resto, foram à mesa as rusgas que envenenam as relações do DEM com o PSDB nos Estados. São mais graves no Distrito Federal e na Bahia.
No DF, o DEM tentará reeleger o único governador que lhe restou. E irrita-se com o flerte de Serra com Joaquim Roriz (PMDB), o principal opositor de Arruda.
Na Bahia, os ‘demos’ vão de Paulo Souto. E não se conformam com o namoro do tucanato local com o grupo de Geddel Vieira Lima (PMDB).
Ministro de Lula, Geddel oscila entre a candidatura ao Senado ou ao governo do Estado.
Se fizer a segunda opção, vai romper a aliança que o une ao governador petista Jaques Wagner, candidato à reeleição.
É um movimento que, na visão do DEM, Geddel não se animará a fazer. Sobretudo porque Paulo Souto encontra-se nem-posto nas pesquisas.
Noves fora a hesitação do tucanato baianos, o DEM incomoda-se com um assédio subterrâneo que o PSDB faz para atrair Paulo Souto para os seus quadros.
Ouça-se, de novo, um dos presentes à reunião do Rio: “Esses arranjos estaduais passam pela definição da candidatura nacional...”
“...Há toda uma estrutura a ser colocada na rua. Essa estrutura só se move se tiver uma voz por trás. A voz do candidato à presidência...”
“...A previsível queda de Serra nas pesquisas deve reduzir o tamanho do salto. E o PSDB vai se dar conta de que os acordos regionais ficam mais difíceis...”
“...De nossa parte, há toda a boa vontade. Mas as pessoas na base, que caminhavam para uma aliança com a perspectiva de poder, já não vêem mais essa perspectiva tão segura”.

Fonte: Entrelinhas

::

Share/Save/Bookmark

Choque de gestão do PSDB: mais um livro impróprio é distribuído a crianças de 9 anos

::

por Luiz Antônio Magalhães

Nem vale a pena comentar mais esta lambança da secretaria de Estado da Educação de São Paulo reproduzida abaixo, em matéria da Folha de S. Paulo. O que tinha de ser dito a este respeito já foi escrito aqui. Pelo visto, a área educacional tem tudo para virar o calcanhar de Aquiles do pré-candidato José Serra (PSDB) em 2010. Choque de gestão é isto aí, a desculpa da secretaria beira o ridículo...

Livro para adolescentes é entregue a crianças em SP

A obra, uma coletânea de poesias, tem frases como "Nunca ame ninguém. Estupre"

Volume faz parte do mesmo programa da rede estadual de ensino que teve um livro recolhido por conter palavrão e conotação sexual

por FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo enviou a alunos de terceira série (faixa etária de nove anos) um livro feito para adolescentes, que possui frases como "nunca ame ninguém. Estupre".

A coletânea de poesias faz parte do mesmo programa de melhoria da alfabetização que teve um livro recolhido por conter palavrões e expressões de conotação sexual: "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol", também distribuída para a terceira série.

A nova obra, "Poesia do Dia -Poetas de Hoje para Leitores de Agora", foi enviada às escolas há cerca de duas semanas para ser usada como material de apoio. Foram distribuídos 1.333 exemplares.

"Não é para crianças de nove anos. São várias ironias, que elas não entendem", afirmou o escritor Joca Reiners Terron, autor do poema mais criticado por professores da rede, chamado "Manual de Auto-Ajuda para Supervilões".

Alguns dos versos são "Tome drogas, pois é sempre aconselhável ver o panorama do alto"; e "Odeie. Assim, por esporte".

"Espero que o Serra [governador José Serra] não ache o texto um horror, como ele disse do outro livro. Horror é quem escolhe essas obras para crianças", disse Terron.

Em nota, a direção da Abril Educação (responsável pela Ática) afirma que o livro é recomendado para adolescentes de 13 anos, "indicação reforçada na contracapa, na apresentação e no suplemento ao professor".

Após questionamento da Folha, a Secretaria da Educação da gestão José Serra (PSDB) decidiu ontem retirar os livros das salas de aula. Os exemplares, no entanto, permanecerão nas escolas, para consulta de alunos mais velhos.

O entendimento é que os assuntos do poema devem ser abordados na escola, mas com supervisão de um especialista.

A secretaria não esclareceu como é feita a escolha dos livros. A sindicância aberta para apurar o caso do outro livro ainda não foi concluída.

Críticas

Professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Paro afirma que a escolha do livro para crianças de nove anos "é produto da incompetência e ignorância do governo".

"Por que os livros só foram retirados após o jornalista questionar? A análise não deveria ter sido feita antes?", diz.

A coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Angela Soligo, classifica como "um horror" o poema. "Tem uma ironia que talvez só o adulto entenda. É totalmente desnecessário para uma escola."

"Já é o segundo caso. Os professores ficam inseguros com o material", disse ela.

Fonte: Blog Entrelinhas

::

Share/Save/Bookmark

O PSDB social x PSDB policial

::

Do Estadão:

Para voltar ao poder, PSDB aposta até em neurociência

Na busca por uma agenda que neutralize a propaganda governista em 2010 e evite a terceira derrota consecutiva em eleição presidencial, o PSDB começou a calibrar seu discurso, baseado em análises de especialistas em “psique” eleitoral e em célebres estrategistas estrangeiros que defendem a emoção como fator determinante na política. A ideia é engavetar o lema da “gerência”, usado na campanha de 2006, e focar na defesa de projetos e iniciativas sociais.

Há cerca de três meses, os tucanos contrataram o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor de A Cabeça do Brasileiro e Por que Lula?, para fazer pesquisas que deem um diagnóstico sobre o que o eleitor deseja na próxima disputa. Almeida já produziu duas análises para o PSDB, que foram submetidas à direção do partido e a seus parlamentares. Essas informações têm servido de ponto de partida para a formatação de um discurso que atinja grande parte do eleitor que aprova o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Comentário de Luis Nassif:

Compare o post de baixo com este. Em nenhum momento o principal candidato do PSDB, José Serra, deu atenção às políticas sociais. Trabalhou com a ideia de que eleitor não tem memória, mandou às favas sua biografia e suas ideias históricas, trocou pelo figurino Maluf de truculência policial. E, agora? O principal candidato do PSDB passou a encarnar a direita do DEM - que sempre causou urticária nos melhores quadros tucanos? Como retomar o discurso social?

O cientista social a quem estão recorrendo é o mesmo cujo livro foi utilizado pela Veja para demonstrar que a elite é ética e o povo não, um monumento à segregação, quando a grande obra política consistiria em unir elite e povo em torno de um projeto comum.

A rigor, a única bandeira consistente do partido continua sendo o modelo de gestão em Minas.

Melhor seria, em vez de neurocientistas, consultar um pai-de-santo.

Fonte: Luis Nassif Online

::


Share/Save/Bookmark

Serra e o autoritarismo que lhe é peculiar!

::

O padrão Maluf na segurança paulista

por Luis Nassif

No espectro político, é evidente a necessidade de um partido conservador, assim como os de centro esquerda, centro direita. Mas a transição de José Serra rumo à direitização é chocante.

O “modelo PSDB” tinha a cara do ex-Secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furokawa. Consistia em união com a comunidade, em cidades menores, de maneira a criar um envolvimento no atendimento ao criminoso de pequena expressão. Depois, concentrar a força do Estado no combate ao crime organizado.

Esse modelo foi por água abaixo ainda no governo Alckmin, com a nomeação de um troglodita, Saulo de Castro Abreu, para Secretaria de Segurança. Saulo desmontou qualquer possibilidade de trabalho integrado entre sua Secretaria, a de Administração Penitenciária e a da Justiça. Esbanjou violência, prepotência e despreparo. A explosão do PCC em 2006 liquidou com ele. Mas trouxe de volta o padrão Maluf de segurança, agora assumido pelo governo de São Paulo.

Com Serra, o jogo continua. Não apenas foi totalmente omisso para segurar a corrupção que grassava na Polícia Civil, como permitiu a adoção da truculência ampla não contra marginais, mas contra população de áreas “sublevadas”. Talvez pela tendência de Serra de enxergar conspiração em qualquer manifestação que exponha seu governo.

Leia abaixo a matéria “82 dias de medo em Paraisópolis”, do repórter Bruno Paes Manso, do Estadão, um relato chocante do que se transformou José Serra. Percebendo que a centro-esquerda havia sido ocupada por Lula, orientado por FHC decidiu se transformar no líder da direita. Por falta de inteligência e imaginação políticas - e de escrúpulos -, mandou sua biografia às favas e foi se espelhar no que a direita havia produzido de mais estúpido, o figurino Paulo Maluf.

Do Estadão:

82 dias de medo em Paraisópolis

Moradores denunciam violência da PM - Barracos foram invadidos sem mandados judiciais. Trabalhadores, crianças e idosos relatam sessões de tortura. Comando da PM nega abusos e agressões na favela

por Bruno Paes Manso

Os números oficiais da Operação Saturação da Polícia Militar em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, são chocantes. De acordo com a Prefeitura, moram 60 mil pessoas no bairro. Durante pouco menos de três meses de operação, entre 4 de fevereiro e 26 de abril, 400 policiais em 100 viaturas e um helicóptero, com 20 cavalos e 4 cachorros, aplicaram 51.994 revistas a moradores do bairro.

A operação teve início depois dos tumultos provocados por algumas dezenas de moradores, em 2 de fevereiro, que deixaram três PMs baleados. Entre os agitadores havia integrantes do tráfico de drogas local. Como resposta, nos dias que se seguiram ao quebra-quebra, parte da tropa deixou rastros de abusos e violência. “Durante a ocupação, tentativas de desestabilização das forças de segurança foram levadas a efeito por parte de pessoas que se sentiam incomodadas com a presença da polícia”, defende o capitão Emerson Massera, da Seção de Comunicação Social da PM. Segundo ele, não há provas de abusos e agressões.

Na semana passada, o Estado esteve em Paraisópolis. Ouviu dezenas de histórias chocantes, em diferentes pontos do bairro. Testemunhos semelhantes já foram ouvidos por entidades como Associação dos Juízes pela Democracia, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e Associação Paulista dos Defensores Públicos.

De acordo com a polícia, no balanço da operação constaram 93 flagrantes, captura de 61 procurados, 31 armas e 9,9 kg de cocaína apreendidos. Mas o saldo final vai além: sobrou raiva, humilhação, revolta, indignação que ninguém ainda é capaz de dizer o que isso de fato pode significar para a cidade. Seguem os testemunhos de moradores colhidos pelo Estado:

EM DEFESA DOS FILHOS

Auxiliar administrativa em uma empresa de telefonia, Gisele Cristina dos Santos, de 28 anos, teve o barraco invadido seis vezes pela polícia. Em nenhuma delas havia autorização judicial. Na primeira, um domingo de manhã, ela, marido e seis filhos, crianças de 1 a 12 anos, estavam em casa. O marido esticava um novo varal e chamou a atenção dos policiais por causa de uma tatuagem. Perguntaram se ele tinha “passagem”. Ele informou que estava sob condicional, mas não devia na Justiça. Os policiais chutaram o portão e invadiram o quintal perguntando por drogas. Em seguida, entraram na casa e rasgaram o sofá. O pai apanhou na frente dos filhos. Em outras duas vezes, policiais entraram quando só havia crianças em casa. Falaram para a mais velha que o pai havia pedido a eles que buscassem o revólver. “Onde está a arma?”, perguntavam os policiais. “Meu pai não rouba”, a criança respondeu. A casa também foi invadida quando não havia ninguém. Dois baldes de água com latas de leite que ela recebeu do programa da Prefeitura, misturadas com detergente e pó de café, foram espalhados pelo chão e paredes. Gisele teve seu MP5 furtado. Depois das seguidas sessões de abuso, ela fundou o movimento “Paraisópolis Exige Respeito!”, com um blog na internet. Perguntada se o nome dela podia aparecer no jornal, Gisele foi categórica: “Coloque em negrito, com letras maiúsculas.”

CHAMADA ORAL DA BÍBLIA

Nos cálculos da aposentada Maria Alves da Rocha, de 59 anos, policiais invadiram a casa onde ela mora com a neta de 17 anos e dois filhos por cerca de 15 vezes. Nunca apresentaram mandado. Na primeira invasão, eles entraram com um pontapé na porta. Os vizinhos avisaram ao filho, que é pedreiro e trabalhava na vizinhança, que chegou em instantes e sugeriu para a mãe que deixasse a polícia trabalhar. “Quem não deve não teme”, disse. A polícia depois não se cansou de voltar. Bagunçavam o guarda-roupa, xingavam e humilhavam os que estavam em casa. Dona Maria contou aos policiais que era evangélica. Um deles solicitou uma Bíblia para perguntar o que estava escrito em dado versículo do Evangelho de João. “Sou analfabeta, mas entendo a palavra dos pastores e consegui responder”, diz Maria. O pé de capim-santo que ela cultivava no quintal para fazer chá foi arrancado pelos policiais, para checarem se não era droga.

É PROIBIDO CHORAR

Quando viu o movimento de policiais na viela em que mora, Antonio, de 13 anos, entrou em casa correndo. Os policiais o seguiram. Na porta do barraco, um anúncio escrito a giz pela mãe oferece: “Fais chapinha.” Dentro de casa, Antonio teve a arma apontada para cabeça. “Por que estava correndo? Onde é a boca?”, perguntava um deles, enquanto o estapeava. Outro policial revistava a casa. Antônio, que aparenta 10 anos, estava sozinho com o irmão, de 9. Os dois choravam muito. “Cala a boca vacilão. Vamos levar você para um quartinho escuro na Febem”, ameaçava o policial. Com os braços cruzados, esfregando os ombros, Antonio explica que ficou ainda mais assustado porque há alguns anos teve um tio assassinado por policiais. Os vizinhos, do lado de fora, viam tudo sem poder intervir porque temiam apanhar.

ESPINGARDA DE BRINQUEDO

Agnaldo Jesus Viana teve o sobrado em que mora, em cima do bar de sua propriedade, invadido quatro vezes. Os policiais cismaram com o jogo eletrônico que ficava na frente do estabelecimento e tinha uma espingarda a laser como acessório. Perguntaram para ele onde estavam as armas e quem fazia o tráfico na favela. Ele respondeu que “não mexia com isso”. A arma do videogame foi quebrada pelos policiais. A mulher de Agnaldo, nervosa, para tentar intimidar, disse que as câmeras que ficam dentro do bar estavam gravando os abusos. Eles obrigaram o casal a retirar o material do vídeo e entregar a eles. As visitas se repetiram. Agnaldo conta que a câmera digital e o notebook do vizinho foram roubados.

QUEM APANHA É A MÃE

Solange conta que estava bêbada no dia em que apanhou da polícia. Foi reprimida depois de chegar chorando e pedindo para não baterem no filho, que estava sendo revistado. Eles se irritaram com a cena e pediram a ela que os levasse em casa para ver se não havia drogas. O filho foi junto, sob tapas e socos. Na confusão, ela acabou levando uma cabeçada do filho agredido pelos policiais. Ficou com o olho roxo. “Hoje eu só sinto ódio”, diz o filho de Solange.

COMPENSADO DE MADEIRA

O ajudante geral Luiz Claudio Carlos, de 23 anos, estava na viela perto de casa sem documentos quando foi abordado por três policiais. Sem poder provar quem era, foi esculachado. Os policiais pegaram um compensado de madeira, jogaram em cima dele e começaram a pular em cima. Perguntavam sobre drogas e davam tapas no seu rosto. A alguns metros de distância, um menino jogava bolinhas de gude. Uma delas desceu em direção ao local onde ocorria a sessão de tortura. O policial perguntou o que menino queria e começou a estapeá-lo. O garoto apanhou sem dizer nada. Quando foi liberado, disse ao policial: “Muito obrigado.” O soldado ficou irritado e voltou a agredir o menino.

RODÍZIO PARA BATER

Sílvio de Moraes Pereira, de 21 anos, quer ser tatuador. Tem piercings, sobrancelhas cortadas e tatuagens. Fez estágio na Galeria do Rock. Andava pela viela às 8 horas da manhã quando foi abordado e obrigado a tirar a roupa e ficar de cueca. Sentou em cima da mão e o acusaram de trabalhar no tráfico. Ele negou a ligação. Os seis homens perguntaram se ele teria coragem de levá-los à sua casa. Pereira topou. Jogaram o jovem em cima da cama e ele apanhou em rodízio: um dava socos na cara, outros nos rins e todos chutaram ao mesmo tempo com coturnos de bico de ferro, quando ele caiu no chão. Com medo de novas represálias, acabou se mudando.

CABEÇA DE MENINO

José Maria Lacerda, de 54 anos, coordenador da União de Defesa dos Moradores, revoltou-se com a prisão de William, que é deficiente mental. “Tem corpo de homem, mas cabeça de menino”, explica . Em um sábado de março, policiais viram a porta da casa do jovem aberta e a invadiram, enquanto William dormia. Ele apanhou, tomou um soco na boca e foi levado como traficante e até hoje se encontra preso no CDP de Osasco. Lacerda decidiu brigar em defesa do rapaz, que trabalhava como ajudante de carretos. Pediu ao amigo e advogado Gilberto Tejo Figueiredo, que atua na associação em processos imobiliários de usucapião, para defender William. “As testemunhas sempre são apenas os policiais que efetuam a prisão. Nunca levam os moradores que presenciaram a cena. É uma covardia”, diz Figueiredo. Mineiro, há tempos na luta por moradias, Lacerda é daqueles que preferem evitar conversas sobre crime, como se não fosse assunto de pessoa correta. Mas observa que os moradores de Paraisópolis estão sendo estigmatizados e ganharam na cidade a pecha de ladrões. “Para conseguir emprego precisamos evitar dizer o nome do bairro em que moramos”, diz.

OUTROS OLHOS PARA O MUNDO

Extrovertida, vaidosa, unhas pintadas de vermelho, a cabeleireira Aurenice Soares dos Santos sempre gostou de policiais. Na última eleição, fez campanha para Gilberto Kassab. “O Kassab é um homem lindo!”, diz. Passou a enxergar o mundo com outros olhos em uma manhã de março. Na viela onde mora, quatro casas foram invadidas. O marido estava no andar de cima do sobrado, com a máquina de lavar ligada. Um grupo de 11 policiais chegou ordenando que ela abrisse a casa. Nervosa, disse que não conseguia encontrar a chave. Os policiais quebraram a janelinha da porta, colocaram a cabeça para dentro e tentaram forçar a entrada. Aurenice aguardou calada. Os policiais desistiram quando parte do grupo começou a entrar na casa de baixo. No vizinho, a polícia abriu a janela com um soco, assustando as duas irmãs de 16 e 17 anos que estavam de pijama e acordaram com o barulho. Ela ouviu o choro do outro irmão, de 3 anos, com deficiência nas pernas. Viu o filho da vizinha ser humilhado e obrigado a se sentar em cima de uma poça d?água. Enquanto a operação durou, Aurenice evitou sair de casa. Permanece em depressão e toma diazepam, clonazepan, Tofranil e Diurex.

IZAQUE CIRIACO MARTINS

Izaque Ciriaco Martins, de 26 anos, trabalha como copeiro em uma churrascaria do Morumbi e chega todo dia em casa após a 1 hora da manhã. Cansou de ser revistado nas operações da polícia. Foram pelo menos cinco vezes em que era tratado como bandido por viver em Paraisópolis. Em certas madrugadas, teve de dar longas caminhadas a pé para chegar em casa porque o caminho mais curto estava bloqueado pela polícia.

A POSIÇÃO DA POLÍCIA

O capitão Emerson Massera, da Seção de Comunicação Social da PM diz: “A presença de criminosos na comunidade exigiu uma pronta ação, que culminou na estratégia de ocupação, objetivando criar um clima de segurança às pessoas de bem. E foi o que efetivamente ocorreu! Duas denúncias chegaram a ser feitas formalmente.” E completa: “Restou provado que não houve abuso ou agressão.”

Fonte: Luis Nassif Online

Por Hamilton:

Neste link, o repórter conta como fez a matéria.

http://blog.estadao.com.br/blog/metropole/


Share/Save/Bookmark

Um retrato honesto da experiência venezuelana

::

Livro analisa conquistas e limites do processo político venezuelano. Em "A Revolução Venezuelana", Gilberto Maringoni desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? Para o autor, é errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década.


por Igor Fuser (*)

Na lista dos demônios da mídia empresarial, o posto número 1 pertence, disparado, a Hugo Chávez, com sua boina vermelha e língua ferina. Raramente se passa um dia sem que alguma publicação da chamada “grande imprensa” despeje regulares doses de veneno contra o presidente venezuelano, apresentado como louco, fanfarrão, ditador ou incompetente. Essa cantilena se mantém há mais dez anos. Para ser exato, desde o início de 1999, quando o antigo coronel iniciou, após sua chegada ao governo, a transformação de um dos países de estrutura social mais iníqua no planeta – mais de 50% dos habitantes na miséria, em contraste com os lucros nababescos das exportações de petróleo – em uma referência mundial para todos os que cultivam os valores da justiça e da igualdade.

O livro de Gilberto Maringoni (A Revolução Venezuelana, Editora Unesp, 2009) merece ser saudado com um antídoto perfeito contra a manipulação informativa que, na imprensa brasileira, atingiu as raias de uma lavagem cerebral. Jornalista e historiador, Maringoni fala de um tema que conhece em primeira mão. Viajou várias vezes à Venezuela e lá entrevistou quase todos os nomes que valiam a pena no tumultuado enredo político local – dos caciques da oposição conservadora, como Teodoro Petkoff, às figuras mais graduadas do regime esquerdista, entre as quais o próprio Chávez, além das mais variadas fontes na esfera acadêmica.

Com dados confiáveis em mãos, o autor desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? É errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década. O Venezuela já viveu outros períodos de alta dos preços do petróleo, sem que a população tivesse tido acesso a mais do que umas magras migalhas do banquete. A marca da gestão chavista é algo que as primeiras gestões municipais petistas defendiam no Brasil e que, lamentavelmente, diluiu-se no lodaçal dos compromissos com as classes dominantes: a inversão das prioridades em favor das multidões oprimidas, ainda que ao preço do confronto aberto contra as elites privilegiadas.

Na Venezuela, os gastos sociais aumentaram de 8,2% do PIB, em 1998, para 13,6% em 2006. Os índices de pobreza caíram de 55,1% para 27,5%. O salário mínimo se elevou numa escala sem precedentes em qualquer outro país do chamado Terceiro Mundo e milhões de venezuelanos passaram a ter acesso a uma infinidade de benesses antes inalcançáveis – desde serviços essenciais, como assistência médica e dentária, aos ícones do consumo descartável, como telefones celulares. Nesse cenário em que a mudança passa do plano da retórica para a existência cotidiana, torna-se fácil entender porque Chávez foi vitorioso em todas as freqüentes consultas eleitorais que promoveu, com apenas uma exceção.

O grande mérito de Maringoni é que ele não se limita a salientar as conquistas do processo político venezuelano, mas também aponta, sem medo de entrar em polêmica com os defensores mais entusiastas do chavismo, os limites do festejado “socialismo do século XXI”. Concretamente: após dez anos de “revolução bolivariana”, o velho modelo de desenvolvimento dependente latino-americano, erigido com base na exportação de produtos primários (no caso, o petróleo), permanece inalterado. Os ganhos desse modelo, é verdade, passaram a beneficiar, pela primeira vez, a maioria da população, sobretudo depois que Chávez retirou a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) das mãos da camarilha que a controlava, enquadrando a empresa sob o controle público. Mas o caminho ainda está no seu início: “O Estado continua ineficiente, lerdo, corrupto e avesso às interferências populares”, escreve o autor.

Mesmo que seja prematuro falar em uma verdadeira revolução na Venezuela, é inegável que o governo de Chávez mudou a face política daquela sociedade e, em certa medida, de toda a América do Sul. A influência venezuelana se faz presente em todo um conjunto de países onde, pela primeira vez, o poder de Estado passa a ser exercido em benefício das maiorias. Como afirma Maringoni, referindo-se à época de ofensiva conservadora mundial pós-1989: “A Venezuela é, com todos os problemas, o país onde mais se avançou, nesse período, na contestação ao neoliberalismo e no questionamento do poder global dos Estados Unidos.” Aí reside a explicação para o ódio que Chávez desperta entre os donos da mídia brasileira e internacional. Ele é, de fato, um sapo difícil de engolir.

(*) Igor Fuser é jornalista, professor na Faculdade Cásper Líbero, mestre em Relações Internacionais e doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo.

Título: A Revolução Venezuelana
Autor: Gilberto Maringoni
Número de páginas: 200
Formato: 10,5 x 19 cm
Preço: R$ 20
ISBN: 978-85-7139-904-4
Coleção: Revoluções do Século 20

Nota do Site: O Azenha é suspeito para publicar isso, já que o Maringoni é amigo dele.

Fonte: Vi o Mundo

::


Share/Save/Bookmark

Paulo Renato, o lobista

::


SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DE SERRA É LOBISTA DE EDITORAS DE LIVROS DIDÁTICOS

Escritório do tucano é vizinho de porta de cliente controlado por gigante mundial do setor


O deputado federal licenciado e atual Secretário da Educação do governo tucano de José Serra, Paulo Renato Souza, é também o feliz proprietário da PRS Consultores, empresa criada em 2003, especializada na “Indústria do Conhecimento”.

No rol de clientes desse insuspeito empreendimento cultural, é possível identificar alguns gigantes do mercado brasileiro de livros didáticos, como as editoras Positivo, Moderna e Santillana. Esta última, por sinal, é um caso à parte, já que, além de controlar as operações da própria Editora Moderna, tem sob seu domínio as editoras Objetiva, Salamandra e Richmond, o Sistema Uno de Ensino e a empresa de avaliação educacional Avalia. Guarde este último nome: AVALIA. Agora, sente-se, por favor.

Observe o endereço da Avalia: Avenida: São Gabriel, 201, conjuntos 1408, 1409 e 1410, no 14º andar do Edifício Garden Tower Business, no chiquérrimo bairro paulistano do Itaim Bibi.

E veja onde funciona a difusora da "indústria do conhecimento" de Paulo Renato, ex-ministro da Educação de FHC: Av. São Gabriel, 201, conjunto 1406.

Para começar a compreender o que está por trás do pornográfico relacionamento dos tucanos com essa pujante "indústria do conhecimento", sugerimos que você clique aqui e releia o artigo de Rui Falcão, publicado em 03/10/2007, no Blog do Favre.

Já podemos adiantar aos leitores deste Cloaca News que temos mate na cuia. A semana promete.

Clique aqui para ir ao Cloaca News


Share/Save/Bookmark

Um jornal que zomba de seus próprios leitores

::

O que mais me impressiona na mídia corporativa brasileira é a crença dos redatores de que os leitores são absolutamente estúpidos e incapazes de raciocinar. O Eduardo Guimarães se deu ao trabalho de desmontar a lógica de um editorial da Folha publicado neste domingo que zomba da capacidade dos leitores:

por Eduardo Guimarães, no Cidadania.com

Pode não ter sido o herdeiro Otavio Frias “Júnior” quem escreveu o editorial da Folha de São Paulo deste domingo que trata da nova pesquisa Datafolha, instituto que um leitor bem-humorado chamou aqui de “Databranda”. Porém, o texto foi escrito sob sua encomenda e refletindo sua visão deturpada dos fatos.

Esse sujeito que ditou os termos do editorial “Assunto encerrado” (31/05), para mim nem é mais mentiroso e mistificador: acho que é maluco mesmo. Sofre daquele problema mental chamado “Complexo de Napoleão”.

Aquele herdeiro do velho Frias acha que seu jornal tem poder para encerrar a discussão sobre um terceiro mandato de Lula. Nesse afã, seu editorial omite e distorce fatos e se esquiva da opinião que o jornal defendeu no passado sobre um governante promover, mandar promover ou permitir que seus aliados promovam mudança na Constituição em benefício próprio.

Além disso, o texto chancelado por Frias faz uma leitura absolutamente despropositada de um dos fatos que visivelmente mais irritaram aquele “Napoleãozinho” da Barão de Limeira*, o fato de Lula ter recuperado (todinha) a pouca popularidade que teria perdido ao fim do primeiro trimestre deste ano por ação óbvia do surto de desemprego ocorrido em dezembro do ano passado.

Comento a seguir, portanto, alguns trechos do editorial em tela.

REFORÇAM-SE mutuamente os números, publicados nesta edição, da pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial e sobre a tese de um eventual terceiro mandato para o presidente Lula.

Fruto bizarro, ao que tudo indica, dos interesses bajulatórios e do maquiavelismo rústico do baixo clero governista, a proposta da "re-reeleição" para o presidente petista não alcança, pelos dados da pesquisa, densidade suficiente para se impor.


Ao contrário: com 49% dos entrevistados contra a ideia, e 47% a seu favor, comprova-se acima de tudo o quanto haveria de arriscado na manobra.

O editorial contraria a própria pesquisa, que revela que entre o ano passado e este o percentual dos que apóiam a re-reeleição de Lula subiu de 34% para 47%, segundo o “Databranda”. Ou seja: sem campanha pelo terceiro mandato e com o presidente Lula dizendo que não o quer, seus entusiastas aumentaram de forma impressionante.

A possibilidade de instituir-se uma fratura profunda de opiniões, em assunto diretamente ligado à estabilidade institucional, surge com clareza - e, do frio registro dos números às vicissitudes de um entrechoque real no debate público, certamente esse potencial divisivo tenderia a intensificar-se gravemente.

Gozado é que, antes, o jornal não via na mudança das regras do jogo com ele em andamento qualquer ameaça à “estabilidade institucional”, pois em editorial publicado em 5 de janeiro de 1996, cerca de um ano antes de a emenda constitucional que permitiu reeleição de FHC em 1998 ser aprovada, a Folha disse exatamente o contrário, disse que essa mudança de regras “apenas” permitiria que FHC se recandidatasse, pois, segundo escreveu aquele jornal, “Entre a candidatura e a renovação do mandato estará sempre o democrático e o inquestionável veredicto das urnas.”

Note-se, aliás, a circunstância positiva de que os índices de popularidade do presidente Lula não se transferem automaticamente para o apoio a uma nova reeleição.

Como não se transferem? Se o apoio ao terceiro mandato subiu tanto do ano passado para cá mesmo com Lula dizendo que em nenhuma hipótese iria se recandidatar, é lógico que, se ele viesse a público dizer que mudou de idéia devido a uma causa compreensível como a de sua candidata se inviabilizar por algum motivo (doença ou sabotagem de sua candidatura), praticamente todos aqueles eleitores fiéis do presidente que hoje dizem não apoiar um terceiro mandato unir-se-iam àqueles que querem esse terceiro mandato desde já.

*Barão de Limeira é a rua em São Paulo onde fica a sede da Folha

Fonte: Cidadania.com e Vi o Mundo

::


Share/Save/Bookmark

Entre a meiguice e a crueldade

::

A humilhação da pequena Maísa e a rápida reação mostram que há avanços no combate à baixaria.


por Phydia de Athayde

Enquanto o SBT provavelmente comemorava a manutenção da audiência de seu programa dominical, média de 8,52 pontos mesmo com a proibição da participação da garotinha Maísa, a Procuradoria da República assinava um protocolo de cooperação com a campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania. Um episódio não é consequência direta do outro, mas ambos estão ligados e são importantes para mostrar como a sociedade brasileira tem reagido ao que vem da televisão.

Antes de ter a licença para participar do programa de Silvio Santos cassada, Maísa foi vítima de escárnio, humilhação e assédio moral perpetrados por aquele a quem carinhosa e debochadamente chama de “patrão”.
O Ministério Público do Trabalho move uma ação civil pública contra o SBT com base na proibição legal do trabalho para menores de 14 anos (exceto quando aprendiz) e por dano moral coletivo. Também pede multa de 1 milhão de reais a título de indenização, a serem revertidos para o Fundo de Amparo ao Trabalhador.

“O glamour e a exposição em comunicação escamoteiam o trabalho infantil”, diz Carlos Ely, gerente de Mobilização da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Ele questiona os efeitos da superexposição no intelecto da criança, mas é contra medidas extremadas. “Não é para tirar todas as crianças da tevê. É preciso resguardar todos os cuidados possíveis.”

No caso Maísa, evidentemente, faltou cuidado. Tanto as gracinhas quanto as lágrimas e gritos de horror da menina espalharam-se pela internet, fazendo dela um fenômeno da convergência digital. Mas as reações ao episódio, da opinião pública e da Justiça, devem ser vistas dentro de um processo de combate à baixaria na tevê, que começou cerca de dez anos atrás. Nesse meio-tempo, a conquista da classificação indicativa também ajudou a tornar mais claros os limites da televisão.

“O País amadureceu. Ainda que de forma precária, saímos de uma paralisação em relação à mídia e conteúdo. Não concordo que a baixaria seja algo que vai e volta. Ela tem diminuído. Graças a mecanismos legais que não existem por boa vontade, mas por pressão social. Hoje não se aceita mais qualquer lixo”, diz Ricardo Moretzsohn, representante do Conselho Federal de Psicologia na coordenação da Campanha Contra a Baixaria. Formada em 2002, a iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados conta com o apoio de dezenas de entidades civis e é uma referência.

Qualquer cidadão pode acessar o site e denunciar conteúdo impróprio na televisão. Anos atrás, o programa Tarde Quente, de João Kleber, ficou famoso por bater sucessivos recordes de denúncias, especialmente de apelo sexual e incitação à violência, e recebeu liminares da Justiça até ser tirado do ar em definitivo, em 2005, por determinação do Ministério Público Federal. Kleber foi dispensado e alegou sofrer censura. Ainda que tenha concorrência (em graus diferentes) de Ratinho, Márcia Goldsmith, Sérgio Mallandro, Gugu Liberato, Faustão, Datena e outros, João Kleber entra para a história da televisão brasileira como o rei da baixaria.

Mesmo sem Kleber, as denúncias à campanha continuaram e hoje, não à toa, acumulam-se mais de 30 mil delas, contabilizadas a cada semestre. A partir de agora, graças ao recém-assinado protocolo de cooperação, um grupo de procuradores receberá diretamente as denúncias, encurtando o caminho entre a reclamação e uma possível ação judicial, até porque nem todas as baixarias têm efeito viral como as protagonizadas por Maísa.

“Esse é apenas mais um exemplo concreto da irresponsabilidade das empresas que recebem concessões públicas e as utilizam em razão de seus interesses comerciais”, critica o professor da USP Laurindo Leal Filho, ouvidor-geral da Empresa Brasil de Comunicação, que engloba a TV Brasil. Ele lamenta a ausência de um órgão regulador independente, capaz de monitorar e coibir os excessos da televisão. “O Ministério Público é, hoje, o único canal para colocar limites no uso sem critério das concessões públicas.”

O mero questionamento de como as empresas que recebem o direito de difundir programação televisiva se comportam é uma novidade. Apenas em novembro do ano passado aconteceu, pela primeira vez, uma audiência pública no Congresso para expor irregularidades cometidas pelas concessionárias, da exploração da outorga ao conteúdo. “Descobrimos que hoje há muito mais entidades monitorando a mídia e reivindicando que o conteúdo se justifique na renovação da concessão”, diz Beatriz Barbosa, do Coletivo Intervozes, que defende a democratização da comunicação.

Outra novidade será a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), marcada para dezembro, considerada emblemática para quem acompanha o tema. Na listagem de quais itens seriam discutidos (decididos pelo governo, empresas e sociedade civil), representantes das empresas de comunicação chegaram a pedir que o tema “conteúdo” ficasse de fora, o que foi negado. “O debate de conteúdo é a principal ponte, pois interessa a todos os movimentos sociais. O que se chamava baixaria eram, na verdade, as tevês, enquanto concessões públicas, violando direitos”, enxerga Beatriz.

O caso Maísa não terminou. O conselho tutelar de São José dos Campos (SP), onde a menina vive, a entrevistou e à família e avaliou que ela está bem, mas deve ter acompanhamento psicológico. Por sua vez, a Justiça avisa que, caso volte a passar por situações constrangedoras, o programa será reclassificado para maiores de 12 anos, exibido apenas após as 8 da noite.

“Ela não deixa de ser uma criança. É uma infância perdida e haverá um preço a ser pago, especialmente se ela for para o ostracismo”, alerta Moretzsohn. “Crianças não devem ser assediadas de maneira alguma, seja sexual, moral, por propaganda ou para alavancar audiência”, diz o psicólogo.

“No cenário internacional, vemos que a proteção dos direitos humanos é uma obrigação de toda a sociedade, inclusive das empresas de comunicação”, diz Guilherme Canela, coordenador do setor de comunicação da Unesco no Brasil. “Em relação à criança, a convenção da ONU e o ECA pregam que ela é um ser humano em situação especial de desenvolvimento. A preocupação com a comunicação social deve ser redobrada.”

Fonte: Carta Capital

::
Share/Save/Bookmark

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Entrevista com Noam Chomsky

::

http://blog.camera.org/archives/chomsky.jpe

"Irã é demasiado independente e desobediente"

Por Kourosh Ziabari

Noam Chomsky (foto) não precisa de apresentação. De acordo com o The Guardian, trata-se, indiscutivelmente, do catedrático e analista sócio-político mais importante da era contemporânea e está considerado junto a Marx, Shakespeare e a Bíblia, como uma das dez fontes mais citadas das humanidades, e é também o único escritor, entre eles, que ainda está vivo.

Em referência ao livro Hegemonia e Sobrevivência de Chomsky, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dirigindo-se à Nações Unidas, disse: "Convido-os, com todo o respeito, a quem ainda não tenha lido o livro, a que o façam."

Em resposta à pergunta formulada numa entrevista em 2006 sobre que ações tomaria se fosse presidente, Chomsky respondeu: "Instauraria um Tribunal de Crimes de Guerra para os meus próprios crimes pois caso tivesse assumido essa posição teria que tratar com a estrutura institucional e com a cultura, a cultura intelectual. A cultura deve ser curada".

Nesta entrevista, conversei com o professor Chomsky sobre o Irã, os assuntos nucleares, as relações entre Washington e Teerã e o impacto global dos lobbies sionistas. Um resumo desta conversa foi primeiramente publicado no diário iraniano de língua inglesa "Teheran Times".

Kourosh Ziabari - Professor Chomsky, o senhor tem reiterado em numerosas ocasiões que a maior parte dos países do mundo, incluindo os membros do Movimento dos Países Não Alinhados, apoia o programa nuclear iraniano, no entanto, os neoconservadores dos Estados Unidos continuam a proclamar o seu lema agressivo.

Noam Chomsky - O Movimento dos Países Não Alinhados, mas também a grande maioria dos americanos pensa que o Irã tem o direito de desenvolver energia nuclear. Todavia, quase ninguém nos Estados Unidos tem consciência disso. Isto inclui todos aqueles que são inquiridos e que provavelmente acreditam que são os únicos que pensam assim. Nunca se publica nada sobre este tema. O que aparece constantemente nas mídias é que a comunidade internacional exige que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio. Em quase nenhum meio se explica que a designação "comunidade internacional" é utilizada convencionalmente para se referir a Washington e a quem estiver de acordo, não só sobre este assunto mas em geral.

Kourosh Ziabari - A maioria dos analistas de assuntos internacionais ainda não pôde assimilar o duplo critério nuclear do governo dos Estados Unidos. Apesar de apoiar o arsenal atômico de Israel continua a pressionar o Irã para que suspenda os seus programas nucleares. Quais são as razões? Possui a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) autoridade suficiente para investigar os casos de armamento nuclear em Israel?

Noam Chomsky - O ponto fundamental foi explicado com franqueza por Henry Kissinger. O Washington Post perguntou-lhe por que razão ele agora afirma que o Irã não necessita da energia nuclear e que, por conseguinte, deve estar a trabalhar para construir uma bomba, enquanto em 1970 insistiu que o Irã necessitava de ter energia nuclear e que os Estados Unidos deviam prover o xá com os meios necessários para o conseguir. Foi uma resposta típica à Kissinger. Era um país aliado e, por isso, precisava de energia nuclear. Agora, que já não era um país aliado, não necessitava de energia nuclear. Israel, pelo seu lado, é um país aliado, mais precisamente um Estado-cliente. Por isso, herda do amo o direito a fazer o que quer.

A AIEA possui a autoridade, contudo os Estados Unidos nunca permitiriam que a exerça. A nova administração dos Estados Unidos não tem dado provas de nenhuma alteração nesse sentido."

Kourosh Ziabari - Existem quatro estados soberanos que ainda não ratificaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e que desenvolvem livremente bombas atômicas. Será o Irã libertado das pressões constantes; deve obter a sua ratificação e abandonar o tratado?

Noam Chomsky - Não, isso só faria aumentar as pressões. Excluindo a Coreia do Norte, todos esses países recebem apoio extensivo dos Estados Unidos. O governo de Reagan, fingia ignorar que o seu aliado Paquistão desenvolvia armas nucleares, para que a ditadura recebesse ajuda massiva dos Estados Unidos. Também os Estados Unidos, aceitaram ajudar a Índia a desenvolver as suas instalações nucleares; Israel é um caso especial.

Kourosh Ziabari - Que prováveis fatores poderiam dificultar a realização de conversações diretas entre o Irã e os Estados Unidos? É maior a influência do lobby judaico do que a dos sistemas empresariais dos Estados Unidos?

Noam Chomsky - O lobby judaico tem alguma influência mas é limitada. Isto foi demonstrado, uma vez mais, no caso do Irã no verão passado, durante a campanha presidencial, quando a influência dos lobbies se encontrava no seu apogeu. O lobby israelita pretendia que o Congresso aprovasse uma legislação que se aproximasse de um ato de bloqueio ao Irã, um ato de guerra. A medida obteve um apoio considerável, mas desapareceu de imediato, provavelmente devido à Casa Branca deixar bem claro, discretamente, que se opunha.

Quanto aos verdadeiros fatores, ainda não temos registros suficientes, de modo que é necessário especular. Sabemos que a grande maioria dos americanos quer ter uma relação normal com o Irã, mas a opinião pública raramente influencia a política. As grandes companhias dos Estados Unidos, incluindo as poderosas empresas de energia, gostariam de explorar os recursos petrolíferos do Irã. Contudo, o Estado insiste no contrário. Suponho que a razão principal é que o Irã é demasiado independente e desobediente. As grandes potências não toleram aquilo que eles consideram ser parte dos seus domínios e as regiões de maior produção de energia do mundo há muito que são consideradas domínio da aliança anglo-americana, agora com o Reino Unido reduzido a sócio subalterno.

Kourosh Ziabari - Haverá uma transformação tática ou sistemática na aproximação dos principais meios de comunicação social ao Irã durante a presidência de Obama? Podemos esperar uma redução da propaganda anti-Irã?

Noam Chomsky - Em geral, as mídias aderem ao sistema geral da política de Estado embora algumas vezes os programas políticos sejam criticados com fundamentos táticos. Muito irá depender, portanto, da postura que assuma o governo de Obama.

Kourosh Ziabari - Finalmente, acredita que o presidente dos Estados Unidos deveria seguir a proposta do Irã e pedir desculpa, pelos seus crimes históricos contra o Irã?

Noam Chomsky - Creio que os poderosos sempre devem reconhecer os seus crimes e pedir desculpa às vítimas e ainda reparar os danos causados. Infelizmente, o mundo rege-se maioritariamente pela máxima de Tucidides: os fortes fazem o que querem e os fracos sofrem como lhes é devido. Lentamente, a pouco e pouco, o mundo, em geral, torna-se mais civilizado. Mas ainda tem muito caminho a percorrer.

O original publicado em www.foreignpolicyjournal.com. Extraído de ODiario.info.

Fonte: Revista Fórum

::


Share/Save/Bookmark

Os livros didáticos em São Paulo

::

por Luis Nassif

Confesso não entender o que se passa com os livros didáticos em São Paulo.

O Ministério da Educação criou um modelo de seleção dos livros didáticos - creio que desde a época de Paulo Renato - que consistiu em definir comitês, provenientes das diversas Universidades, para analisar os livros. Depois monta-se uma publicação com todos os livros selecionados, que é enviada para todos os professores do país, para poderem escolher livremente. O MEC envia os livros sem nenhum custo para os estados.

Nesse ínterim, teve penetração em algumas prefeituras os chamado cursos apostilados - muitas vezes negociado pelas empresas direto com o prefeito, em vez da equipe da Educação. Foi uma luta feroz, em que um dos competidores era a Abril - conforme você pode conferir na série sobre a Veja.

Quando assumiu, a Secretaria Maria Helena, da Educação de São Paulo, me deu uma entrevista garantindo que iria acabar com a farra dos apostilados. A Secretaria contrataria professores, pagaria pelo conteúdo e pelos direitos autorais, e ela mesmo imprimiria e distribuiria, reduzindo substancialmente o custo.

De repente, muda tudo. Pelo Diário Oficial do estado se fica sabendo de compras imensas, periódicas, de livros sem licitação. E, pelos abusos que estão sendo revelados, sem avaliação pedagógica. Aparentemente, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação vai alocando verbas para cada editora e, depois, que se vai atrás de qualquer livro para preencher a cota acertada.

Não adianta José Serra falar em punir os responsáveis ou quem quer que seja. Esses problemas todos estão ocorrendo devido aos negócios montados pela FDE com editoras, com plena aprovação da Secretaria da Educação. Aliás, passando por cima do que era a orientação inicial da Secretaria.

Sem contar venda de notebooks, previamente configurados com Windows Vista e Microsoft Office, ou aluguel de máquinas por preços acima dos de mercado.

O que se passa?

Fonte: Luis Nassif Online

::


Share/Save/Bookmark