quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Cheney e os crimes de guerra do governo Bush

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por Argemiro Ferreira

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O pouco dotado presidente George W. Bush e seu vice todo poderoso, Dick Cheney, preparam-se para festejar o Natal e, a 20 de janeiro, tomar outro rumo. O governo deles desceu a um nível de aprovação mais baixo do que qualquer outro nos 232 anos de história do país. Avaliados e julgados com rigor dentro e fora de casa, os dois saem quase escorraçados. Passam o poder depois de sofrer repúdio esmagador na eleição.

Pior ainda: dificilmente Bush e Cheney conseguirão descansar do pesadelo que legaram ao país. Continuarão a ser execrados em relatos contundentes como o do livro The Dark Side - The Inside Story of How the War on Terror Turned into a War on American Ideals, lançado em julho pela jornalista Jane Mayer. Ela expôs o lado mais sinistro e repulsivo da dupla: a guerra aos próprios ideais americanos.

The Dark Side devassou a trama interna dentro do governo que, a pretexto de responder ao ataque de 11 de setembro de 2001, recorreu a operações abusivas de segurança nacional, frequentemente ilegais e cujo extremismo é comparável ao dos próprios terroristas que atacaram o World Trade Center e o Pentágono - em especial, as prisões secretas pelo mundo e o uso explícito da tortura, violando as leis do país e tratados internacionais.

À frente de tarefas macabras

Antes desse livro, o talento e a capacidade de pesquisa da autora já tinham sido consagrados profissionalmente no Wall Street Journal (em fase bem anterior à venda do jornal, em 2008, ao império Murdoch de mídia); na revista The New Yorker; e em mais dois livros - Landslide, sobre a desintegração do governo Ronald Reagan entre 1984 e 1988, e Strange Justice, sobre a aprovação controvertida do juiz Clarence Thomas para a Suprema Corte.

mayer_janeA expressão dark side (o lado maligno, escuro, sinistro), que dá título ao livro, foi usada no programa “Meet the Press”, da NBC, ao ser o entrevistado Cheney, a 11 de setembro de 2006, perguntado sobre o lado sombrio que se atribuia ao papel dele no governo. “Parte do meu trabalho é pensar o impensável, encarar o que pode haver no arsenal terrorista contra nós”, tentou justificar ele (saiba mais sobre essa entrevista AQUI, em despacho da Associated Press).

No livro, Jane Mayer (foto ao lado) afirma que os arquitetos da rede de prisões secretas para torturar detidos, usadas durante os dois mandatos de Bush na Casa Branca, integravam grupo pequeno, mas poderoso, enquistado no governo. Cheney estava no centro do esforço mas delegava muitas das operações a outros, cabendo ao seu conselheiro jurídico David Addington um conjunto de tarefas macabras.

Descrito como prepotente, implacável e arrogante, Addington era o executor da estratégia. Na prática, destruia qualquer desafio aos abusos e excessos com xeque-mate de que tudo o que se fazia tinha sido sancionado pelo próprio presidente. Ao mesmo tempo, descartava como “fraqueza” e “ingenuidade” todo tipo de questionamento de ordem jurídica e moral.

Advogados para qualquer papel

Ao analisar o livro para o New York Times, o professor de História Alan Brinkley - da Universidade de Columbia, em Nova York onde foi o decano de sua especialidade entre 2003 e 2008 (saiba mais sobre ele AQUI) - referiu-se em particular ao infame memorando de John Yoo, hoje professor de Direito na Universidade de Berkeley e que servia antes no Escritório de Assessoria Jurídica do Departamento de Justiça (leia sua resenha na íntegra AQUI).

Para dar cobertura legal à tortura, Yoo simplesmente buscou “redefinir” o que é tortura (saiba mais AQUI). Outros que contribuiram para o vergonhoso esforço pro-tortura foram George Tenet, diretor da CIA e sempre inclinado a agradar superiores; Alberto Gonzalez, que passou de conselheiro jurídico de Bush na Casa Branca a Procurador Geral, até ser forçado a renunciar; e William Haynes, conselheiro jurídico do Pentágono.

Graças a tal exército de subalternos ambiciosos, muitos deles só contratados por se prontificarem a alugar o conhecimento fornecendo aos donos do poder pareceres que se ajustavam às suas intenções torpes, ações indecentes e ofensivas aos direitos humanos eram acobertadas. E a chamada “guerra ao terror” de Bush tornou-se, como diz o título de The Dark Side, uma guerra aos próprios ideais americanos.

Todos eles, para Brinkley, tiveram papéis vitais. “Instado por Cheney e seu protegido Addington, Bush invalidou as convenções de Genebra e, sem o admitir publicamente, sustou o habeas corpus para suspeitos de terrorismo - obstáculos importantes à tortura. Além disso, subverteu-se a convenção internacional contra a tortura (de 1984) que, sob a liderança dos EUA, definira a tortura pela primeira vez.

“Isso é o que os inimigos fazem”

Mayer cita ainda no livro o uso do ex-psicólogo militar James Mitchell. Na década de 1950 ele conduzira na central de espionagem (CIA) o programa militar secreto SERE, que ensinava pessoal de alto risco a suportar torturas no caso de captura. O programa (a sigla era para “Sobreviver, Evadir, Resistir, Fugir”), foi adaptado para estudar o nível de dor e humilhação que um torturado é capaz de pode suportar. E tornou-se padrão para interrogatório e tortura.

Introduzidos ao programa na CIA, alguns agentes do FBI indignaram-se com as táticas - que, além do mais, consideraram ineficazes. E se retiraram. “Isso nós não fazemos. Isso é o que nossos inimigos fazem”, disse um deles. Parte do que Mayer relatou também já aparecera antes graças a outros jornalistas - como James Risen e Scott Shane (do New York Times), Dana Priest (Washington Post) e Seymour Hersh (The New Yorker).

Houve oposição de alguns no Departamento de Estado, FBI, CIA e Congresso. Mas pouca gente ousou confrontar Cheney - “claramente a fonte daquelas políticas”, segundo Mayer. Entre os poucos, um pequeno e corajoso grupo de advogados que viam aquilo como ilegal e imoral. Foi o caso de Jack Goldsmith (do Departamento de Justiça), Alberto Mora (Marinha) e Matthew Waxman (Pentágono).

Segundo o livro, um alto chefe militar da prisão de Guantánamo disse à autora que mais da metade dos detidos de Guantánamo sequer eram perigosos. Talvez Bush e Cheney ainda consigam dormir à noite. Mas eles sabem que esses crimes já lhes garantem um lugar na história. E que antes da morte ainda correm o risco de serem chamados a enfrentar um tribunal internacional de crimes de guerra - como os criminosos nazistas depois da derrota alemã na II Guerra Mundial.

Fonte: Blog do Argemiro Ferreira

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Um comentário:

Jbmartins-Contra o Golpe disse...

Se o Presidente Bush, não se importaram para o paracer da ONU, e o que determinou a ONU sob a invasão no IRAQUE, imagina-se o que ele pode ter feito.