quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O marqueteiro de Gilmar Mendes

Entrevistadores ajudaram Presidente Supremo
O Discreto


por Celso Marcondes

Depois de, em menos de 72 horas, receber a medalha da Fiesp e o troféu da OAB, dar entrevistas ao Roda Viva e ao Canal Livre, todo mundo quer saber: quem é o marqueteiro de Gilmar Mendes, O Discreto? Como a revista CartaCapital foi considerada “desqualificada” pelo insigne na entrevista à emissora pública paulista, não teremos a oportunidade de perguntar diretamente a ele. Precisamos do apoio do leitor. Seria Duda? Guanaes? Justus? Respondendo sem qualquer convicção, deixando insatisfeita nossa colega Eliane Cantanhêde que lhe dirigiu a pergunta direta, O Discreto disse que “não pensa nisso (uma futura candidatura a qualquer cargo eletivo) no momento”. Pareceu que não convenceu a ela, nem a ninguém que viu o programa. Falava-se nos bastidores que o prefeito de São Paulo e o governador do Estado, estariam incomodados, pois nenhum dos seus assessores de imprensa ou de seus marqueteiros licitados conseguiu até aqui encaixar uma agenda tão profícua para qualquer dos dois.

A programação intensa em solo paulista começou na OAB, sexta-feira, quando O Discreto recebeu o Prêmio Franz de Castro Holzwarth de Direitos Humanos, já na sua 25ª edição. Antes, a comenda chegou à figuras ilustres, como D. Paulo Evaristo Arns, Ulisses Guimarães, Hélio Bicudo, Dalmo Dallari, Padre Julio Lancellotti ou Fábio Konder Comparato. Este ano, o agraciado pela entidade presidida pelo Dr. Luiz Flávio Borges D’Urso – também um dos coordenadores do famoso, embora, breve, movimento “Cansei” -, em função da sua reconhecida trajetória em defesa dos Direitos Humanos, agradeceu assim: "A homenagem, de profundíssimo significado simbólico, recrudesce em mim como cidadão e magistrado brasileiro, o compromisso de jamais medir esforços para a afirmação diuturna e intransigente desses direitos fundamentais". Quem estava lá, garante que ele não ficou vermelho ao dizer estas palavras e ninguém procurou lhe fazer quaisquer perguntas indiscretas, sobre questões candentes como a tortura e o direito indiscriminado aos hábeas corpus relâmpagos para certos banqueiros.

Já no Roda Viva, O Discreto garantiu que não lhe competia a responsabilidade de apresentar famigerada fita com a gravação de uma até hoje suposta conversa que teve com um senador muito democrata. Como acusador no caso, supunha-se que fosse dele o dito “ônus da prova”, mas ele não pensa assim. Quando sentia um mínimo de aperto da bancada de jornalistas que o questionava com impressionante furor, contava com a ajuda de um presumível assessor pessoal, que usava um chapéu para ser melhor identificado pelo entrevistado. O assessor, que estava lá em nome da revista que não apresentou a tal da fita, chegou a ficar indignado quando o assunto veio à tona. “Vocês estão sugerindo que é um complô?”, perguntou o de chapéu, só porque a prova do crime ninguém até agora viu.

Também nos bastidores corria a versão que o assessor havia sido infiltrado entre os jornalistas a partir de uma bela manobra concebida pelo marqueteiro d’O Discreto, sem que a direção da TV Cultura se desse conta. De qualquer forma, a jogada não passou despercebida pelos assessores de Gilberto Kassab e José Serra. Uns viram ali o dedo de um renomado publicitário que teria trabalhado na campanha de McCain recentemente. Outros acham que a ajuda vem da família, talvez de um irmão, que, na sua cidade natal, nunca viu fora dos arquivos qualquer uma das trinta ações que foram movidas contra ele. Outros ainda, têm diferente versão: O Discreto é autodidata, tudo que faz, inclusive nos terrenos da assessoria de imprensa e da publicidade, sai da sua própria cabeça. O leitor deve ter seu julgamento. O que causa estranheza é o fascínio pelos holofotes. Ou os antecessores d’O Discreto também eram assim, digamos, disponíveis?

Fonte: Carta Capital

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: