por Alberto Dines
O centenário de nascimento de Plínio Corrêa de Oliveira foi uma festa: nos jornalões paulistas, Folha e Estado, anúncios de página inteira na edição de sábado (13/12). No auge da temporada natalina de 2008 – talvez a última dos tempos de vacas gordas – anúncios no primeiro caderno não são baratos. O apelido "informe publicitário" garante que não foram oferta da casa.
Quem era Plínio Corrêa de Oliveira? De uma família de senhores de engenho, formou-se em direito, fundou a Ação Universitária Católica e participou da criação da LEC (Liga Eleitoral Católica). Eleito deputado constituinte, participou da redação da "Polaca" (a Constituição de 1934, inspirada na carta promulgada pelo homem forte da Polônia, o marechal Józef Pilsudski).
Em 1960, Plínio criou a TFP – Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade "para organizar a contra-revolução". Opunha-se a qualquer iniciativa modernizadora do Vaticano, combatia a infiltração progressista na igreja católica, lutava contra o divórcio e o aborto. Foi um dos esteios da mobilização civil contra o governo de João Goulart.
Reportagem no capricho
Era amigo pessoal de Octávio Frias de Oliveira, falecido publisher da Folha de S.Paulo, que o recebia para almoçar no jornal. Nada demais: Plínio Corrêa de Oliveira era culto, educadíssimo, agradável, e, sobretudo, sabia evitar azedumes durante uma refeição.
A Folha liderou as comemorações do seu centenário. Na sexta-feira (12/12), publicou na seção "Tendências/Debates", na página A-3, um artigo assinado por Bertrand de Orleans e Bragança (com o título de dom, abreviado – argh!), que se apresenta como herdeiro dos princípios defendidos por Plínio. Nada demais: a Folha gosta de provocar os leitores, tanto assim que no dia seguinte pelo menos dois – um candentemente contra e outro devotamente a favor – manifestaram-se no "Painel do Leitor".
Como naquele dia o outro freqüentador da página de opinião era o chefe do lobby da indústria do diploma, o imortal Arnaldo Niskier, o leitor mais avisado considerou que a nobre página 3 estava suspensa – ou em liquidação, ocupada pelos saldos.
No dia 13, sábado, a Folha publicou o informe publicitário pago pelo Instituto Plínio Correa de Oliveira (pág. A-9); três páginas adiante (pág. A-12), ocupa outra, praticamente inteira, com uma caprichada reportagem sobre a TFP, no momento falida e corroída por uma acirrada disputa entre os herdeiros políticos e espirituais do fundador da entidade.
Pergunta que não cala
Aqui a Folha excedeu-se: revelou que a escolha das matérias que publica não obedece aos paradigmas jornalísticos. A TFP não existe, a direita católica hoje é claramente dominada pela Opus Dei. Bertrand de Orleans e Bragança, o trineto de D. Pedro II, não tem um centésimo do valor intelectual do seu trisavô. Gosta de dizer que não é nazista, mas de direita. Na verdade é um clone do monarquismo fascista dos anos 1930 e 40. É um neocon brazonado que deveria viver na França e militar na Action Française, aquela que entregou a França a Hitler. Jean-Marie Le Pen para ele é moderno demais.
O Estado de S.Paulo, tradicionalmente mais católico, não embarcou nessa piada política. Octávio Frias de Oliveira tinha bons amigos em todo espectro político, não os beneficiava com matérias de favor, por isso era respeitado. Se vivo fosse não permitiria esse carnaval.
E como Frias dizia, com muita graça, que não se importava em pegar um clipe caído no chão, tal o seu horror ao desperdício, somos obrigados a perguntar e os dois jornalões têm obrigação de informar: quem pagou pelos anúncios? A falida TFP? O que há por trás desta nostalgia comemorada exatamente no dia do 40º aniversário do AI-5?
Fonte: Observatório da Imprensa
::
Nenhum comentário:
Postar um comentário