domingo, 14 de dezembro de 2008

AI-5, 40 anos. Ouça Médici: Ele reclama que Costa e Silva era ‘tolerante demais’. Dono da Folha elogia

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por Antônio Mello

Tem gente querendo reescrever a história e transformar o sanguinolento ex-presidente Carrascazu Médici em democrata. Mas a intervenção do ditador, quando ainda era chefe do SNI, na reunião que aprovou o AI-5, não deixa dúvidas sobre a personalidade autoritária do general, que veio a ser o sucessor do general Costa e Silva na presidência do Brasil.

Clicando no player abaixo, você ouve trecho da fala de Médici e, ao final, a do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Orlando Geisel, irmão mais velho do ditador que mais adiante sucedeu Médici na presidência, Ernesto Geisel. O general Orlando chega a soar tragicômico, aos ouvidos de hoje:

Se não tomarmos neste momento esta medida que está sendo aventada, amanhã nós vamos apanhar na cara, senhor presidente.



Este mesmo Carrascazu Médici, que reclama da tolerância democrática de Costa e Silva, teve seu governo elogiado por ninguém menos que Octavio Frias de Oliveira, que era dono da Folha de S.Paulo, em editorial que reproduzi aqui (o que repito agora, para que todos tenham na memória como funciona nossa mídia democrática, árdua defensora da liberdade de expressão – desde que seja a de seus proprietários...):

Editorial: Banditismo
[Publicado em 22 de setembro de 1971]
Octavio Frias de Oliveira

A sanha assassina do terrorismo voltou-se contra nós.

Dois carros deste jornal, quando procediam ontem à rotineira entrega de nossas edições, foram assaltados, incendiados e parcialmente destruídos por um bando de criminosos, que afirmaram estar assim agindo em "represália" a noticias e comentários estampados em nossas paginas.

Que noticias e que comentários? Os relativos ao desbaratamento das organizações terroristas, e especialmente à morte recente de um de seus mais notórios cabeças, o ex-capitão Lamarca.

Nada temos a acrescentar ou a tirar ao que publicamos.

Não distinguimos o terrorismo do banditismo. Não há causa que justifique assaltos, assassínios e seqüestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade.

Quanto aos terroristas, não podemos deixar de caracterizá-los como marginais. O pior tipo de marginais: os que se marginalizam por vontade própria. Os que procuram disfarçar sua marginalidade sob o rotulo de idealismo político. Os que não hesitaram, pelo exemplo e pelo aliciamento, em lançar na perdição muitos jovens, iludidos, estes sim, na sua ingenuidade ou no seu idealismo.

Desmoralizadas e desarticuladas, as organizações subversivas encontram-se nos estertores da agonia.

Da opinião pública, o terror só recebe repudio. É tão visceralmente contrario às nossas tradições, à nossa formação e à nossa índole, que suas ações são energicamente repelidas pelos brasileiros e por todos quantos vivem neste país.

As ameaças e os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta.

Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve.

E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama.

O Brasil de nossos dias é um país que deseja e precisa permanecer em paz, para que possa continuar a progredir. Um país onde o ódio não viceja, nem há condições para que a violência crie raízes.

Um país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da Imprensa, que reflete os sentimentos deste. Essa mesma Imprensa que os remanescentes do terror querem golpear.

Porque, na verdade, procurando atingir-nos, a subversão visa atingir não apenas este jornal, mas toda a Imprensa deste país, que a desmascara e denuncia seus crimes.

Sobre o motivo do ataque aos carros da Folha, nenhuma palavra. Mas uma declaração do jornalista Mino Carta lança luz sobre o assunto:

A Folha de S. Paulo nunca foi censurada. Até emprestou a sua C-14 [carro tipo perua, usado na distribuição do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]."

Viram só? Esse Brasil da tortura, da censura, para a Folha era o país de um governo sério, responsável, respeitável... onde o ódio não viceja, nem há condições para que a violência crie raízes.

Já o Brasil de Lula, hoje...

(O áudio lá em cima foi retirado deste link, onde você pode ver um interessante trabalho da Folha, com animação, áudio e informações sobre a reunião que decidiu pela implantação do Ato Institucional n° 5 em nosso país, no dia 13 de dezembro de 1968, quando a ditadura retirou a máscara.)

Leia também:

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