segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A crise e o pré-sal

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por Luiz Carlos Azenha

É muito bom voltar ao Brasil. Só assim posso desfrutar de minhas longas conversas telefônicas com o Eduardo Guimarães, do qual discordo no varejo mas com o qual concordo no atacado.

Hoje falamos um pouco da crise econômica internacional, um momento cheio de riscos e oportunidades para o mundo.

É óbvio que nos países centrais haverá uma tentativa de tapar o buraco da crise econômica com dinheiro público, cuidando para que os cofres públicos arquem com as consequências. A tentativa será essa: a de promover uma tremenda transferência de renda, via governos, para salvar os capitalistas.

Porém, mesmo nos Estados Unidos não será fácil fazer isso sem oferecer migalhas aos trabalhadores. Existe uma grande revolta popular nos Estados Unidos, sub-dimensionada na mídia, com a atuação do governo em favor de Wall Street e dos barões da indústria.

É irônico que o New York Times tenha escolhido o dia de hoje para publicar uma reportagem condenando o governo de Vladimir Putin por interferir na economia, justamente no dia em que o governo dos Estados Unidos injeta dinheiro na indústria automobilística.

Nas últimas horas Barack Obama deu apoio público a um grupo de trabalhadores em greve que promoveu a ocupação pacífica de uma empresa, o que seria impensável no governo Bush. Os operários reclamam que a empresa violou seus direitos trabalhistas. Obama é esperto: sabe que vai precisar dos sindicatos para enfiar o remédio amargo goela abaixo do país.

Temos uma crise internacional que começa a chegar à economia real dos países ricos. O impacto dela no Brasil é discutível. É óbvio que a mídia corporativa brasileira jogará todas as suas fichas na destruição do país se isso for necessário para garantir a vitória do projeto político em torno do qual se aglutinam as forças conservadoras: o de José Serra.

Ora, se na falsa "epidemia de febre amarela" a mídia foi capaz de brincar com a saúde pública, deixaria de fazer o mesmo em uma crise econômica real?

Temos um dado concreto diante de nós: a intervenção estatal na economia não é mais questionada nem mesmo no berço do neoliberalismo.

Numa conjuntura de crise teremos, também, uma disputa crescente pelo acesso aos recursos minerais do planeta, ainda que eles estejam momentaneamente desvalorizados.

Não é por acaso que a mídia corporativa brasileira quer entregar o pré-sal aos interesses privados financiadores do PSDB/DEM.

Não é por acaso que o New York Times reclama que Putin está avançando sobre os recursos minerais russos privatizados nos anos 90.

Não é por acaso que a China ofereceu ao Brasil dinheiro para financiar a exploração do pré-sal.

Não é por acaso que a mídia corporativa brasileira reclama da tentativa de Hugo Chávez de se perpetuar no poder mas não aplica a mesma lógica ao presidente da Colômbia.

Num mundo em crise vai se aprofundar a disputa pelos recursos naturais do planeta. Eles poderão ser privatizados ou a exploração deles servirá ao financiamento de programas sociais, como acontece na Venezuela e na Bolívia.

Em torno desses recursos vai se dar a grande batalha política das próximas décadas, ainda que ela não fique clara àqueles que podem se beneficiar direta ou indiretamente dela.

Fonte: Vi o Mundo

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