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por Roberto Malvezzi
Por que só o petróleo é nosso? Talvez porque a Petrobrás seja uma empresa gigantesca, em grande parte transnacionalizada, embora tenha nascido como fruto da luta da esquerda brasileira nos anos 50. Hoje, em eventos internacionais, sobretudo de representantes latinos e africanos, tantas vezes temos que ouvir denúncias graves contra o imperialismo da Petrobrás em seus países. Quando falo "nosso", falo do povo brasileiro, não do capital privado, seja nacional, seja transnacionalizado.
A água também é nossa. Entretanto, está sendo entregue às empresas privadas nacionais e internacionais em várias dimensões. Seja na outorga de grandes volumes para as geradoras de energia, seja na privatização de serviços públicos de água, seja na criação de mercados de água, como é o caso em implementação na gestão da transposição do São Francisco. Pela primeira vez, empresas terão uso exclusivo em determinadas faixas dos espelhos de água, tanto nos mares como nas águas interiores. Pescadores artesanais que transitavam livres sobre o espaço aquático, agora já encontrarão áreas "privadas" nos espelhos de água brasileiros.
As florestas são nossas. Mas podem não ser mais, com a lei que concede florestas para explorações privadas, com a redução da Amazônia Legal. Junto com ela vai a megadiversidade brasileira, sem que sequer saibamos seu potencial e mesmo seu valor econômico.
Os ventos são nossos. O potencial eólico brasileiro para geração de energia é dez vezes o de Itaipu. Concentra-se, sobretudo, no Nordeste. Entretanto, quando poderia e deveria surgir uma espécie de CHESF EÓLICA, o capital privado vai formando seus parques eólicos, sem nenhum retorno para as comunidades locais.
Os minerais são nossos. Entretanto, a Vale foi entregue a preço "de minério de ferro" – talvez uma tonelada compre uma dúzia de banana – e agora assistimos a invasão de mineradoras sobre todo território nacional, na firme intenção de transformar a topografia brasileira numa imensa cratera lunar.
Os solos são nossos. Mas empresas estrangeiras vão tomando conta do Cerrado, da Amazônia, como se estivessem no quintal de casa. Não faltam propostas para reduzir as áreas de fronteiras e entregá-las para as transnacionais das monoculturas.
Todas essas concessões generosas estão acontecendo no atual governo. Respeito o "respeito" que os movimentos sociais têm pelo atual governo e seu presidente, mas, francamente, está na hora de dar um passo à frente.
*Roberto Malvezzi, o Gogó, é coordenador da CPT – Comissão Pastoral da Terra.
Fonte: Correio da Cidadania
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