Hoje (10) o Copom (Comitê de Política Monetária) se verá ante sua mais difícil decisão: manter, reduzir em 0,25 ou em 0,5 ponto a taxa Selic. São procedentes os rumores de que Lula estaria irado com a intransigência do Copom em reduzir as taxas, mesmo ante todas as evidências de desaquecimento da economia e de risco de deflação.
Por Luis Nassif, em seu blog
Ontem, através de alguns colunistas econômicos, fontes da diretoria do Banco Central, em “off” ameaçaram com demissão coletiva, caso Lula continuasse a se manifestar.
Anos de poder absoluto passaram a falsa noção de impunidade a esse pessoal. São técnicos do mercado, ocasionalmente na direção do Banco Central. Nos seus bancos, se ameaçassem com uma sublevação, seriam imediatamente demitidos. No poder público, ainda mais em cargos com implicações sobre a estabilidade do país, serão não apenas demitidos, como processados. Que contenham os ataques de frescurite!
Deixando a bazófia de lado, vamos à herança maldita de Henrique Meirelles.
1. Apesar do custo extraordinariamente elevado da taxa Selic, a atual diretoria do BC deixou o real se apreciar de forma irresponsável, permitindo a volta da vulnerabilidade externa.
2. Hoje em dia, o maior desafio à manutenção da atividade econômica são, justamente, as contas externas. Há o receio de que, mesmo com a mudança do câmbio, um crescimento mais acelerado aprofunde o déficit nas transações correntes, em um quadro de absoluta dificuldade para obter financiamento externo. Esse tipo de preocupação tem afetado alguns membros do Conselho de Economistas que assessora Lula informalmente.
3. Ontem, em seu artigo em “O Valor” Delfim Netto passou a senha. Nada que signifique imobilismo, nem que seja muito ousado. Sugere uma redução de 0,25 ponto na Selic.
O ideal seria uma redução na faixa de meio ponto para mais. Esta semana, uma pesquisa da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) indicou expectativas relativamente favoráveis dos empresários para 2009.
Para a maioria, as vendas em 2009 ou ficarão estáveis (36%) ou aumentarão até 15% (25%). Outros 14% apostam em aumento de vendas maior que 15%. 22% temem queda de mais que 15%.
Em relação à rentabilidade, 70% acreditam em manutenção ou aumento, contra 29% que teme a queda.
Uma redução da Selic ajudaria a acelerar investimentos, a reduzir o custo da dívida pública, a liberar mais recursos para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a manter o câmbio em situação competitiva.
Resta o risco das contas externas. Até que ponto o câmbio mais competitivo permitirá a recuperação do mercado externo para os manufaturados brasileiros, em um período de desaquecimento do comércio global?
Mas o governo Lula corre um risco com Henrique Meirelles mantido no BC. Meirelles pegou a fase de bonança, deixará uma herança maldita e não possui fôlego para administrar uma crise. Para ele, o melhor dos mundos seria sair agora do BC, deixando a bomba para o sucessor.
Por isso mesmo, Lula terá que avaliar se não seria o caso de se antecipar e tomar a iniciativa do afastamento negociado. Desde que conte com mãos seguras para pegar o leme.
Fonte: Blog do Nassif
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