por Guilherme Scalzilli
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), aquele do Valerioduto, parece atraído por projetos legislativos, digamos, “polêmicos”. Não bastasse a canetada policialesca dirigida contra a internet, agora ele atua para extinguir o direito à meia-entrada em eventos culturais e esportivos.
Sim, trata-se da gradativa extinção do benefício. A restrição a 40% dos ingressos disponíveis confere estofo legal a uma prática abusiva que já ocorre: a qualquer momento, os produtores decretam que os ingressos com desconto foram esgotados. Antes parecia apenas má-fé, mas agora existirá uma porcentagem mítica para explicar qualquer mistério.
Ninguém fiscaliza coisa alguma nas relações de consumo do entretenimento, como sabe quem já padeceu sob os disparates das Ticketmasters da vida. A extinção da meia-entrada favorece descaradamente o lobby dos produtores e donos de casas de espetáculo, cujos lucros aumentarão sem contrapartidas à coletividade.
A justificativa de que os ingressos serão mais baratos para todos é um insulto à inteligência das platéias. A “crise” (qualquer “crise”) será usada para amenizar o desmascaramento dessa balela. E, claro, não há termo de comparação: os eventos não se repetem, as circunstâncias mudam, etc. Todo preço é mais barato do que poderia ser.
A proliferação indiscriminada do benefício, as irregularidades na expedição de carteirinhas e o descaso das autoridades responsáveis deveriam levar a uma discussão ampla sobre a meia-entrada. Não houve tal debate no encaminhamento do projeto.
Há maneiras socialmente relevantes de conceder benefícios e incentivos para a fruição da cultura. Incluir jogos de futebol, por exemplo, soa incongruente. E contemplar estudantes de baixo poder aquisitivo, sem restrições, parece-me indispensável. Existisse verdadeiro espírito cívico nos defensores da lei, essas alternativas seriam consideradas, sem chantagens, falsidades estatísticas ou promessas vãs.
Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli
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