Os mumuilas de Angola e o polêmico programa do Jô | |
A foto acima é de Marco Duarte e foi publicada no site fotográfico Olhares. Segundo Marco, essa etnia de Angola usa o barro das lagoas para tratar a pele. Os mumuilas são um grupo nômade, sobre os quais muito pouco se sabe mesmo no país africano. Existem pouquíssimas referências a eles na literatura. Em "Teologia e Cultura Africana no Contexto Sócio-Político de Angola", o autor José Quipongo dá uma breve descrição, curiosamente com o mesmo viés usado pelo escritor Ruy Moraes e Castro, que deu entrevista a respeito dos mumuilas no programa do Jô Soares: "A mulher mumuila, cuja estética natural do seu busto se apresenta parcialmente nua, é um real deslumbre e encanto para os olhos dos visitantes daquela zona sul de Angola", diz Quipongo.
Este é o livro que levou Ruy a ser entrevistado no programa. Segundo a resenha do livro, ele conta histórias que viveu como taxista no Brasil mas, principalmente, do período em que viajou por Angola, entre 1935 e 1975. Na entrevista, Ruy descreveu hábitos e ritos sexuais ligados aos mumuilas. Algumas pessoas se divertiram com a entrevista, outras se sentiram ofendidas. No site OVERMUNDO, que não tem qualquer parentesco com este, Mailsa Carla Passos e Aldo Medeiros registraram um protesto: "Há anos temos trabalhado nos campos da educação e da cultura para que a sociedade brasileira se torne mais justa e mais tolerante com relação às diferenças de crença, de práticas, de modos de ser e de estar no mundo. Então talvez principalmente por isso tenha-nos chocado a entrevista veiculada no “Programa do Jô” com o senhor Ruy Morais e Castro, que se diz escritor (cada um se diz o que bem entende e acredita quem quer), na última quinta-feira, dia 18 de outubro de 2007, na Rede Globo de Televisão. No referido programa, comandado pelo humorista e homem de mídia Jô Soares, convidado e anfitrião comentavam de maneira desrespeitosa e grotesca as práticas culturais de mulheres de tribos angolanas. O festival de baboseiras e preconceitos, que não vale a pena repetir aqui, fere absurdamente o povo e as mulheres angolanas – e conseqüentemente boa parte das mulheres negras brasileiras – sobretudo através da exposição irresponsável de imagens como se fossem aberrações. O senhor Jô Soares e sua equipe deveriam se informar melhor sobre a história pessoal de seus entrevistados e o conteúdo que supostamente têm a oferecer. Em sua ignorância o senhor Morais e Castro chega a afirmar durante a entrevista – entre outras coisas – que certa região de Angola situa-se perto “da fronteira com a África do Sul”. (!) Ficamos nos perguntando no que aquele conjunto de impropérios, preconceitos, comentários jocosos e degradantes, absolutamente descontextualizados, vem contribuir para um projeto de sociedade mais justa, mais tolerante, mais equânime – projeto com o qual nos identificamos e para o qual temos trabalhado em nossas áreas de atuação profissional e de militância política. A cena dantesca de dois homens “bem-sucedidos” e com acesso a uma rede de televisão com o poder da Globo (não só no Brasil, mas também em Portugal e em Angola) fere gravemente tanto a nossa constituição quanto o projeto – construído a duras penas – de uma sociedade brasileira aberta à compreensão e ao respeito pelos diversos grupos culturais que a compõem, suas práticas e sua história. A nosso ver, isto é o que torna a humanidade o que ela é: rica, porque diversa. É impossível silenciar diante desta manifestação torpe de racismo e etnocentrismo. Esperamos como cidadãos e cidadãs uma retratação dos protagonistas deste circo dos horrores, para que possamos continuar nosso trabalho diário junto a jovens, educadores e crianças e reafirmar que o tempo de desqualificar o que não compreendemos e de tratar o diverso como animalesco já passou." De fato, o mapa mostra que Angola não faz fronteira com a África do Sul, conforme afirmou no programa o escritor Ruy Moraes de Castro. Dos mumuila, sabe-se que são nômades, pastores de gado e despertam grande interesse de evangelizadores que pretendem convertê-los ao cristianismo. É de uma igreja a estimativa de que existam 500 mil mumuilas em Angola, numa população total de 12 milhões de habitantes. Vivem especialmente no sul, nas províncias de Huíla e Namibe. Pode-se criticar o tom da entrevista, a oportunidade de discutir as vaginas de uma população em rede nacional de TV, mas não sei se um erro de geografia seria o suficiente para exigir de um entrevistado um pedido de desculpas. Porém, se erros factuais foram cometidos, é importante que se saiba o que é ficção e o que é realidade. De cara, acho que houve um grande erro na apresentação descontextualizada do assunto. Assim Jô Soares anunciou a entrevista: "Antes de falar do táxi, vamos falar da vida sexual angolana...existe uma relação entre os penteados e as vaginas?" Resposta: "As mulheres de Angola, através do seu penteado, contam a sua vida sexual". Não lhes parece um pouco amplo demais? E uma das primeiras frases do entrevistado foi a seguinte: "Como o negro começa o relacionamento sexual com garotas com 6, 7 anos, eles gostam de sentir as mulheres apertadas". É um despropósito essa generalização. Não sei se vale ou não especificamente para os mumuilas, mas sei que não vale para 99,99% dos negros do mundo. Dado que recebi várias mensagens a respeito do assunto, o que me proponho a fazer, com a ajuda de quem quiser ajudar, é confrontar o que foi dito na entrevista com a realidade dos fatos - independentemente de considerar o tema próprio ou impróprio da maneira como foi abordado na televisão. Quem quiser ver a entrevista completa, voltou ao YouTube. Aqui, um pequeno trecho com legendas em inglês. Abaixo, foto de mumuilas publicada na internet por Morgado Viana, José Luis Santos e Victor Carrilho, num site dedicado a retratar os povos de Angola. A foto abaixo é de um site de Namibe, em Angola, e veio acompanhada do seguinte comentário sobre os mumuilas: "Raramente se vêm elementos desta tribo na cidade, muito esporadicamente se vêm, a vender ervas para chás, mostram muita inocência e timidez. É uma tribo que tem sido vítima de algum afastamento e discriminação por parte da sociedade angolana devido aos seus costumes muito particulares, um deles é o habito de tomar banho com leite e esterco de vaca…" Publicado em 23 de novembro de 2007 |
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres
Em 2010, a Marcha Mundial das Mulheres vai organizar sua terceira ação internacional. Ela será concentrada em dois períodos, de 8 a 18 de março e de 7 a 17 de outubro, e contará com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período, que marcará o centenário do Dia Internacional das Mulheres, será de marchas. O segundo, de ações simultâneas, com um ponto de encontro em Sud Kivu, na República Democrática do Congo, expressará a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
O tema das mobilizações de 2010 é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, e sua plataforma se baseia em quatro campos de atuação sobre os quais a Marcha Mundial das Mulheres tem se debruçado. Os pontos são: Bem comum e Serviços Públicos, Paz e desmilitarização, Autonomia econômica e Violência contra as mulheres. Cada um desses eixos se desdobra em reivindicações que apontam para a construção de outra realidade para as mulheres em nível mundial.
Estão previstas também atividades artísticas e culturais, caravanas, ações em frente a empresas fabricantes de armamentos e edifícios da ONU, manifestações de apoio às ações da MMM em outros países e campanhas de boicote a produtos de transnacionais associadas à exploração das mulheres e à guerra.
No Brasil
A ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil acontecerá entre os dias 8 e 18 de março e será estruturada no formato de uma marcha, que vai percorrer o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo. Serão 3 mil mulheres, organizadas em delegações de todos os estados em que a MMM está presente, numa grande atividade de denúncia, reivindicação e formação, que pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Serão dez dias de caminhada, em que marcharemos pela manhã e realizaremos atividades de formação durante à tarde. A marcha será o resultado de um grande processo de mobilização dos comitês estaduais da Marcha Mundial das Mulheres, que contribuirá para sua organização e fortalecimento. Pretendemos também estabelecer um processo de diálogo com as mulheres das cidades pelas quais passaremos, promovendo atividades de sensibilização relacionadas à realidade de cada local.
Para participar
A mobilização e organização para a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil já começou. Entre os dias 15 e 17 de maio, a Marcha realizou um seminário nacional, do qual participaram militantes de 19 estados (AM, AP, AL, BA, CE, DF, GO, MA, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RO, RS e SP), além de mulheres representantes de movimentos parceiros como ANA, ASA, AACC, CONTAG, MOC, MST, CUT, UNE e Movimento das Donas de Casa). Este seminário debateu e definiu as diretrizes da ação de 2010.
Os comitês estaduais da MMM saíram deste encontro com tarefas como arrecadação financeira, seminários e atividades preparatórias de formação e mobilização, na perspectiva de fortalecimento dos próprios comitês e das alianças entre a Marcha Mundial das Mulheres e outros movimentos sociais. Neste momento, estão sendo realizadas plenárias estaduais para a formação das delegações e organização da atividade.
Para participar, entre em contato com a Marcha Mundial das Mulheres em seu estado (no item contatos) ou procure a Secretaria Nacional, no correio eletrônico marchamulheres@sof.org.br ou telefone (11) 3819-3876.
Um comentário:
este sr é um anormal, no tempo que ele viveu em angola o país ainda nao era livre, era uma colonia de portugal e ele nada sabe sobre os mumuilas, so falou mentiras
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