quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A teoria unificadora - por Alon Feuerwerker - fonte: http://blogdoalon.blogspot.com/

A teoria unificadora (04/12)

Há físicos, dos grandes, que investem toda a vida para avançar na descoberta de uma teoria unificadora do universo. A aposta mais recente é a tal teoria das cordas. Segundo ela (Wikipedia),

(...) as partículas primordiais são formadas por energia (não necessariamente um tipo específico de energia, como a elétrica ou nuclear que, vibrando em diferentes tons, formaria diferentes partículas). De acordo com a teoria, todas aquelas partículas que considerávamos como elementares, como os quarks e os elétrons, são na realidade filamentos unidimensionais vibrantes, a que os físicos deram o nome de cordas. Ao vibrarem, as cordas originam as partículas subatômicas juntamente com as suas propriedades. Para cada partícula subatômica do universo existe um padrão de vibração particular das cordas.

Clique aqui para ler mais. E não venham me acusar de pedantismo ou diversionismo. De vez em quando a gente divaga para conferir algum interesse aos assuntos chatos e repetitivos da política. Para tentar atrair a atenção de quem acha a política repetitiva e chata. Mas se você é meu leitor certamente não se enquadra nessa categoria, admito. Pelo que lhe devo desculpas. Pela enrolação. Ao assunto. É dura a vida dos físicos que tentam explicar o universo. Por isso, por serem gente treinada na adversidade das duras condições para o exercício intelectual, talvez devêssemos recorrer a algum bom físico para nos revelar uma teoria unificadora das posições políticas dos nossos democratas ocidentalistas. Vamos nessa. Por que a luta dos curdos para terem o seu Curdistão é separatista, enquanto a dos kosovares para alcançarem o seu (ou sua, sei lá) Kosovo independente é uma batalha legítima pela independência? Talvez porque a Turquia seja aliada dos Estados Unidos e não aceite a existência de um Curdistão independente, enquanto a Sérvia é aliada da Rússia e a amputação de Kosovo enfraqueceria ainda mais os sérvios. Por que a luta dos católicos irlandeses por um país deles próprios é reprovável, enquanto a dos tibetanos para se desligarem da China merece apoio? Talvez porque o Reino Unido seja o principal aliado dos Estados Unidos, enquanto o eventual Tibet independente representaria um duro golpe na China Popular. Por que a luta dos armênios em busca do reconhecimento de que foram vítimas de um genocídio, cometido pelos turcos, provoca arrepios, enquanto a luta dos judeus vítimas do Holocausto ocupa o coração da política externa americana? Talvez, novamente, por a Turquia ser amiga dos Estados Unidos. Assim como Israel. Vamos em frente. Por que a minoria que pretendeu impedir pela força os trabalhos da Assembléia Constituinte boliviana (foi por esse motivo que os constituintes tiveram que se recolher a um quartel para aprovar o texto básico da nova Carta) é digna de encômios, enquanto se acusa o presidente da Rússia de usar métodos heterodoxos de persuasão para vencer as eleições parlamentares? Talvez porque a oposição boliviana seja pró-americana, enquanto Vladimir Putin é uma pedra no sapato de Washington. Por que o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, é alternadamente tratado como "ditador" e "presidente"? Talvez porque ele mereça ser chamado de presidente, quando aparece no noticiário aliado à Casa Branca na luta contra o terrorismo, e de ditador, quando resiste a abrir caminho para políticos mais amigos ainda dos Estados Unidos. Por que o respeito aos direitos humanos é invocado como pedra de toque nas relações internacionais quando se analisam as relações com o governo de Myanmar e o mesmo não se dá quando entram na pauta os presos de Guantánamo? Talvez porque num caso se trate de Myanmar, às portas da China, e no outro de um enclave americano de facto em Cuba. Por que a oposição brasileira exige aos gritos que a Venezuela seja deixada de fora do Mercosul, devido a um suposto déficit de democracia, mas essa mesma oposição enche-se toda de alegria e prazer quando fala das grandes oportunidades de negócios e das vigorosas relações comerciais com a China? Talvez pelos bons negócios e também porque nem o mais maluco dos fundamentalistas de Washington proponha romper com a China em nome da luta pela democracia. Lembrem-se, ademais, de que os chineses sustentam os gigantescos déficits da economia americana. E talvez, finalmente, porque não interesse aos Estados Unidos um Mercosul forte, capaz de equilibrar o jogo dos acordos bilaterais, esse atalho encontrado pelos americanos para dividir a América Latina e tornar viável a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Eis minha modesta teoria unificadora. Nossos democratas ocidentalistas são antes ocidentalistas que democratas. São democratas e defensores da soberania das nações nos casos em que a independência nacional e a democracia convêm aos interesses dos Estados Unidos. Reparem como a opinião deles sobre a guerra no Iraque foi mudando conforme ia mudando o sentido dos ventos no norte. Comparem os escritos de antes e de agora. Agora eles acreditam que a vitória sorrirá ao candidato democrata na sucessão americana do ano que vem. E viraram todos críticos de George Bush e militantes recém-convertidos ao ambientalismo. Mas se os democratas morrerem na praia, como é possível, os neocríticos da doutrina de Bush voltarão correndo para o lar republicano e fingirão que nada aconteceu. Eles são assim faz tempo. Fazer o que? Une-os a total incapacidade de raciocinar de acordo com os próprios interesses, ou de acordo com os interesses do país. Além da arrogância, é claro. Puxa! Acho mesmo que cheguei a uma teoria unificadora. Ainda que não original, reconheço. Nossos democratas ocidentalistas são sul-americanos e brasileiros, mas sofrem com isso. Eles gostariam mesmo é de ter passaporte americano e falar inglês em casa. De preferência uma casa de subúrbio, bem afastada de guetos negros e latinos. Você discorda de mim?
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