segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Mais reflexões sobre a existência, ou não, de Deus - por MIno Carta - fonte: http://blogdomino.blig.ig.com.br/

A capa de CartaCapital desta semana, já nas bancas em São Paulo, me obriga a pensar. Deus existe? O assunto é quente, no Brasil e no mundo. Três livros, dois de autoria de Richard Dawkins, um de Sam Harris, negam a existência do Criador e são best-sellers. O mais contundente é o mais recente de Dawkins, Deus É um Delírio. Confesso que a questão não me tira o sono, embora tenha cursado o primário no Colégio das Marcelinas, em Gênova. Meu pai era anti-clerical, minha mãe era praticante católica e as Marcelinas foram escolhidas por serem anti-fascistas, não me vestiam de soldadinho mussoliano e não me empurravam aos sábados na direção de um evento chamado adunata, que consistia no no penoso desfile de meninos trajados como cretinos. Fui até um bom coroinha, mas enxergava a função como espetáculo, descia os degraus do altar com os pés de Fred Astaire. A partir do ginásio, passei a me apresentar como agnóstico. Há quem confunda o agnóstico com o cético. No meu entendimento é confusão mesmo. Cético é aquele que fica de pé atrás em relação à grandeza do homem, aos sentimentos dos semelhantes. Estar preparado é tudo, dizia Shakespeare. Agnóstico é aquele que, em matéria de crença religiosa, nem acredita nem desacredita, prefere deixar de manifestar-se sobre temas insondáveis. Creio que Immanuel Kant, quem sabe o homem mais inteligente já nascido sobre a bola de argila, fosse agnóstico, afirmava não ter condições de provar que Deus existe, ou não existe. Leio hoje, no Corriere della Sera um pequeno ensaio de John Gray, magistral na minha visão. O que lhe chama a atenção é a granítica convicção, nítida em Deus É um Delírio, alimentada por Dawkins de que acreditar é um entrave à felicidade do homem. “Segundo os evangelistas da descrença, a religião é um escombro do passado que dificulta o caminho do progresso humano”. Este gênero de pensamento, baseado na aposta em um mundo melhor porque livre de Deus é, no entanto, outra forma de fé. Você abandona uma, e adere a outra. Uns pretendem viver o drama cósmico do pecado e da redenção, os outros apresentam-se como gladiadores do progresso. Assim são todos homens de fé, ao que tudo indica insubstituível. Segundo Gray, no entanto, Dawkins e Cia. são incapazes da “dúvida criativa” que inspirou inúmeros pensadores religiosos. E os seus dogmas não são menos pétreos do que aqueles aceitos pelos crentes.
enviada por mino
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Mais reflexões sobre a existência, ou não, de Deus

O debate sobre a existência, ou não, de Deus alarga-se. Graças à contribuição de vários internautas, a meu ver de QI alto. Aos meus botões estranhamente inclinados a filosofar (de vez em quando) pergunto: até que ponto a disputa entre evolucionismo e criacionismo tem relação com a existência, ou não, de Deus? Já contei um episódio da minha juventude de repórter em Roma. Certo dia, descobre-se, no fundo de uma mina nas cercanias de Grosseto, Toscana, o esqueleto de um Oreopitecus, encrustrado em um bloco de carvão. Chamam um cientista suíço, de sobrenome Huerzeler, para um encontro de alto nível com esse ancestral que viveu há doze milhões de anos. Contei a história, e não deixei de consultar, a bem da reportagem, um jovem teólogo para questioná-lo a respeito do achado. Não tínhamos ali mais uma prova que o homem não foi criado em um só dia, e na hora recebeu o sopro divino. Fiz a pergunta com a certeza de que o sacerdote, professor da universidade pontifícia, daria uma boa resposta. Quer dizer, não cogitava de pegá-lo, digamos assim, de calças curtas. De fato ele saiu-se mais ou menos com esta: a Bíblia é uma grande metáfora, frequentemente carregada de poesia. Um dia do Gênesis não é igual ao nosso, não tem os limites do tempo, que nós inventamos. Deus moldou o homem pelo tempo necessário. O Oreopitecus é apenas uma etapa do trabalho divino. Assim o teólogo pretendeu demonstrar que o evolucionismo não exclui Deus. Certo é que a questão é de fé, que não tem qualquer ponto de contato com a ciência. Darwin não é um teólogo, é um cientista. Tomar ao pé da letra o Gênesis é obviamente prova de QI baixo. Há, porém, muitos homens de QI alto e até altíssimo, poetas, artistas e até cineastas capazes de fé, não somente em si próprios. Por exemplo, fé na transcendência, só alcançável, está claro, por esse caminho, a misturar esperança em alguma explicação para aquilo que a mente humana não atinge, na dolorosa percepção dos nossos limites. Dante recomendava aos semelhantes que se detivessem diante do porque. O que não perguntei ao teólogo daquela aventura juvenil foi por que Deus pôs Adão e Eva à sombra da Árvore do Bem e do Mal. Onisciente, o Criador teria de saber que o casal cederia à tentação. A qual não é, definitivamente, a do sexo, ao contrário do que pensam muitos homens de QI baixo. O pecado original é a conquista da consciência, e, portanto do conhecimento, inclusive das nossas irremediáveis lacunas. Quanto aos meus botões, foram eles que me ditaram esse post.
enviada por mino
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