Em Caracas, o morro desceu politizado | |
É o mesmo cenário, por quilômetros e quilômetros de extensão. Nada substitui a presença física para entender o que é a Venezuela e em que contexto histórico surgiu Hugo Chávez e sua revolução bolivariana. Só vendo, como fez Eduardo Guimarães quando pegou um ônibus, um jipe com tração nas quatro rodas e foi ao topo de um dos "cerros". Lá em cima eles se dividem, na gozação popular, entre os luz-azul e os luz-amarela. Os luz-azul foram contemplados, pelo governo, com lâmpadas de longa duração que economizam energia. Os luz-amarela teriam ficado de fora por serem da oposição. É mais uma piadinha de um país rachado, em que Chávez é o "mono" ou o "zambo", respectivamente macaco e mestiço e aqueles que sempre mandaram são os "esquálidos", que vivem na "esqualidolândia", um conjunto de bairros de classe média e classe média alta.
Essa é a foto clássica, que pode ser vista em quase toda grande cidade da América Latina. Mas em Caracas é pior. Só um vôo de helicóptero daria a vocês a idéia do que estou falando. Como um país riquíssimo em petróleo chegou a esta situação? Por falta de um projeto de país. Os líderes da "social-democracia" e da "democracia cristã" se sucederam torrando o dinheiro em importações sem se preocupar com a infraestrutura do país, nem com a inclusão social. A Venezuela é, ainda hoje, uma das campeãs mundiais de importação de uísque 18 anos, consumido pelo pessoal que vive do lado direito da foto acima. O pessoal que mora à esquerda bebe cerveja, quando não a versão local da pinga. O golpe de abril de 2002, dado com apoio dos Estados Unidos e da Espanha, foi um gigantesco erro da oposição. Como escreveu o jornalista Teodoro Petkoff, ex-guerrilheiro, ex-ministro e ex-candidato à presidência, o golpe deu a Chávez e seus alidos "el plomo e la plata", o chumbo do Exército e o dinheiro do petróleo. Nenhum episódio contribuiu tanto para a radicalização da Venezuela. A intervenção bizarra do governo Bush, com sua política externa aloprada, cristalizou a divisão do país em dois blocos, com um discurso feroz. O projeto de Chávez sempre foi definido como "autóctone", ou seja, se baseia na idéia de que é preciso industrializar a Venezuela com a renda do petróleo. A centralização do poder, contida na proposta de reforma constitucional, tinha o objetivo de dar ao Executivo o poder e a agilidade necessários para praticar um "getulismo" à venezuelana. Implantar um estado forte capaz de tirar o país da era pré-industrial. Criar um mercado interno através de políticas de transferência de renda e de concessão de benefícios sociais, como a aposentadoria para empregadas domésticas. O papel atribuído ao movimento estudantil como "fiel da balança" no referendo aprovatório é uma criação da mídia. A ação dos estudantes nas ruas gerou as imagens necessárias à campanha de desgaste de Chávez, promovida pela mídia venezuelana por motivos eleitorais e pela mídia internacional para garantir o isolamento de Chávez, se ele resistisse a um resultado negativo e fosse derrubado. O que pesou, mesmo, foram as defecções do ex-ministro da Defesa, Raúl Baduel, e do partido Podemos, que tem 30 cadeiras no Congresso e era aliado de Chávez. É em torno deles que vai ser construída uma aliança para enfrentar o chavismo, com o objetivo de capturar os 3 milhões de eleitores do presidente venezuelano que abandonaram o projeto de "democracia socialista" entre as eleições presidenciais de 2006 e o referendo de domingo passado. Baduel era o único capaz de articular o afastamento de Chávez se ele se negasse a aceitar o resultado do referendo. O projeto da oposição passa por chamar um segundo referendo revogatório quando Chávez completar a metade de seu mandato e afastá-lo do poder pelo voto. Caso contrário, Baduel será o candidato à presidência em 2013, contra alguém que represente o projeto de Chávez. Porém, não se sabe se a Casa Branca aceitará a presença de Chávez no poder com suas alianças com a Rússia, o Irã, a China e a política de empurrar para cima os preços do petróleo, atuando para isso na Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP. Chávez, claramente, "deu um tempo". Disse, depois da derrota, que a Venezuela ainda não está preparada para adotar o socialismo. Vai tentar recuperar, com um discurso mais moderado, os eleitores que perdeu para o "medo" de seu projeto bolivariano. Vai fortalecer as alianças regionais. E esperar para ver quem virá depois de George Bush. Trocando em miúdos, depois de 11 vitórias eleitorais Chávez entrou com salto alto para o que seria a partida decisiva. Fez uma campanha curta, marqueteira, do "nós contra eles", atirando para todos os lados para "energizar" sua base nacionalista. Cometeu vários erros políticos, mas num projeto personalista o chefe nunca erra. À oposição venezuelana, Chávez até agora não deu os argumentos necessários para que tome corpo a campanha que tem o claro objetivo de afastá-lo do poder, escancarando as gigantescas reservas de petróleo e gás da Venezuela para exploração pelas petroleiras ocidentais, com preços compatíveis com a "segurança energética" dos Estados Unidos. Fui a Petare, sim, apontado como o bairro mais violento de Caracas. O processo de verticalização das favelas, que está em andamento no Brasil, já está quase completo na capital venezuelana. Responsável por mais da metade da atividade industrial da Venezuela, a cidade continua a inchar: 50% dos moradores vivem em favelas. Aqui o morro "desceu", mas não para fechar túneis. Desceu politizado, tomou o palácio presidencial pelo voto e não vai ser fácil tirá-lo de lá, com ou sem Chávez. |
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres
Em 2010, a Marcha Mundial das Mulheres vai organizar sua terceira ação internacional. Ela será concentrada em dois períodos, de 8 a 18 de março e de 7 a 17 de outubro, e contará com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período, que marcará o centenário do Dia Internacional das Mulheres, será de marchas. O segundo, de ações simultâneas, com um ponto de encontro em Sud Kivu, na República Democrática do Congo, expressará a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
O tema das mobilizações de 2010 é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, e sua plataforma se baseia em quatro campos de atuação sobre os quais a Marcha Mundial das Mulheres tem se debruçado. Os pontos são: Bem comum e Serviços Públicos, Paz e desmilitarização, Autonomia econômica e Violência contra as mulheres. Cada um desses eixos se desdobra em reivindicações que apontam para a construção de outra realidade para as mulheres em nível mundial.
Estão previstas também atividades artísticas e culturais, caravanas, ações em frente a empresas fabricantes de armamentos e edifícios da ONU, manifestações de apoio às ações da MMM em outros países e campanhas de boicote a produtos de transnacionais associadas à exploração das mulheres e à guerra.
No Brasil
A ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil acontecerá entre os dias 8 e 18 de março e será estruturada no formato de uma marcha, que vai percorrer o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo. Serão 3 mil mulheres, organizadas em delegações de todos os estados em que a MMM está presente, numa grande atividade de denúncia, reivindicação e formação, que pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Serão dez dias de caminhada, em que marcharemos pela manhã e realizaremos atividades de formação durante à tarde. A marcha será o resultado de um grande processo de mobilização dos comitês estaduais da Marcha Mundial das Mulheres, que contribuirá para sua organização e fortalecimento. Pretendemos também estabelecer um processo de diálogo com as mulheres das cidades pelas quais passaremos, promovendo atividades de sensibilização relacionadas à realidade de cada local.
Para participar
A mobilização e organização para a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil já começou. Entre os dias 15 e 17 de maio, a Marcha realizou um seminário nacional, do qual participaram militantes de 19 estados (AM, AP, AL, BA, CE, DF, GO, MA, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RO, RS e SP), além de mulheres representantes de movimentos parceiros como ANA, ASA, AACC, CONTAG, MOC, MST, CUT, UNE e Movimento das Donas de Casa). Este seminário debateu e definiu as diretrizes da ação de 2010.
Os comitês estaduais da MMM saíram deste encontro com tarefas como arrecadação financeira, seminários e atividades preparatórias de formação e mobilização, na perspectiva de fortalecimento dos próprios comitês e das alianças entre a Marcha Mundial das Mulheres e outros movimentos sociais. Neste momento, estão sendo realizadas plenárias estaduais para a formação das delegações e organização da atividade.
Para participar, entre em contato com a Marcha Mundial das Mulheres em seu estado (no item contatos) ou procure a Secretaria Nacional, no correio eletrônico marchamulheres@sof.org.br ou telefone (11) 3819-3876.
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