Pela Educação, Pedagogia e Cultura
Na Sorbonne em 1981, durante o primeiro governo Mitterrand, Jack Lang inaugurou um seminário de 200 intelectuais do mundo inteiro para que discutissem como seria a Cultura em um governo socialista. Afirmou que todos os ministérios deveriam chamar-se “da Cultura”: ministério da Cultura das Finanças, da Cultura da Economia, da Defesa, da Seguridade Social, enfim, todos. Tudo é Cultura. Tinha razão o Ministro francês.
Quando o Presidente Lula, em Belo Horizonte, inaugurou a TEIA, reunião de 700 Pontos de Cultura de todo Brasil e, em Brasília, inaugurou o Projeto Cultural em que o Ministro Gilberto Gil assinou convênios com dez Ministérios, com a Caixa Econômica, o Banco de Desenvolvimento, além de outras organizações sociais, para que incluíssem a Nova Cultura em seus programas, vimos que o belo sonho francês estava se tornando uma concreta realidade brasileira.
Por que nova, se já existia? Porque existia desprezada e mal-amada... mas fecunda. Palavras como Educação, Pedagogia e Cultura eram pétreas imposições com seus significados coercitivos, invasores, não democráticos, nem criativos. Educar, do latim educare, significa conduzir. Educar é a transmissão de conhecimentos inquestionados, dados como certos e necessários. Pedagogia, vem do grego paidagógós que era o indivíduo, geralmente escravo, que caminhava ao lado do aluno e o ajudava a encontrar a escola e o saber.
"Não aceitamos um saber não-investigativo, nem encontraremos novos saberes sem conhecer os antigos
Nenhum conhecimento é inquestionável e cada nova descoberta da História, ou invenção da Ciência, re-instaura a dúvida sobre todos os saberes. Educação significa a transmissão do saber existente. Pedagogia, a busca de novos saberes. Essas duas palavras não podem ser dissociadas, porque não podemos aceitar um saber não-investigativo, nem descobriremos novos saberes sem conhecer os antigos.
Educação e Pedagogia são duas irmãs que são, ao mesmo tempo, mães e filhas da Cultura. Filhas, porque a Cultura existe em cada sociedade em que vivemos e se manifesta através do saber que ensina e do saber que busca. Mães, porque através delas nasce uma nova Cultura, sempre em trânsito.
Trânsito para que futuro? Surgem então os conceitos de Ética e Moral. Esta vem do latim mores — costumes. Mesmo os mais odiosos podem fazer parte da Moral de um lugar e de uma época. A escravidão já foi Moral em muitos paises e épocas, e os escravos que lutavam por sua liberdade eram chamados de fujões e rebeldes — hoje, sabemos que foram heróis e eram sábios.
Nenhuma Moral social deve ser aceita só porque faz parte dos costumes de um infeliz momento. Não podemos aceitar o latifúndio e a corrupção, nem a fartura vizinha da fome. O Brasil ainda está cheio desses infelizes momentos, como toda a América Latina, explorada pelo imperialismo colonialista e pelo neo-liberalismo.
"Uma Cultura plural, que tenha a cara do nosso país mestiço e cafuzo, mameluco, zambo e cariboca"
Moral refere-se ao passado que sobrevive no presente. Ética, do grego ethos — segundo Aristóteles em sua Poética, tendência de perfeição ou, para ela, o caminho — refere-se ao presente que se projeta no futuro.
Não queremos o Brasil como foi nem como é, mas como queremos que seja? Queremos que todos os brasileiros sejam plenos cidadãos, e não se pode ser pleno sem os fundamentos da Educação, sem as audácias criativas da Pedagogia, sem uma Cultura plural que tenha a cara do nosso país mestiço e cafuzo, mameluco, zambo e cariboca — filhos de gente branca, negra, índia: europeus, africanos, aborígenes.
Não somos imorais nem amorais, somos anti-morais naquilo que a Moral do Dia impede o florescer de uma Ética da Solidariedade.
A Terceira Guerra Mundial já começou: essa guerra subliminal não se manifesta apenas em formas espetaculares e teatrais, com invasões e genocídios exibidos pela TV e pelos jornais, mas também através desses meios autoritários de comunicação.
Só poderemos nos defender dessa Invasão dos Cérebros usando armas de igual poder, com sinal trocado. Temos que criar condições materiais para que a população possa desenvolver a sua própria Cultura e criatividade, e deixar de ser vítima passiva da Comunicação. Em junho de 2007, 80% dos cinemas brasileiros estavam ocupados por filmes tipo homens-aranhas, homens-carrapatos, super-homens e mulheres-maravilhas, todos bem armados explodindo bombas e disparando rajadas de metralhadoras: lixo cinematográfico.
"Ativam nossos Neurônios Estéticos. Promover a ampla percepção do mundo e a abertura de caminhos"
Segundo a Teoria dos Neurônios Estéticos, quando um ser humano é bombardeado diariamente com as mesmas informações dogmáticas repetitivas — sejam de cunho religioso ou esportivo, belicista, sexista, racista, imperialista ou de qualquer outra ordem — essas informações, por mais absurdas que sejam, cravam-se em nossos cérebros e formam impenetráveis e agressivas Coroas de Neurônios Fundamentalistas, que rejeitam qualquer pensamento contraditório e transformam suas vítimas em seres sectários da religião e do futebol, da arte e da política. Transformam seres humanos em estações repetidoras de conceitos que não entendem, e de valores vazios.
A Cultura, a Educação e a Pedagogia, através do diálogo e do escambo, ativam nossos Neurônios Estéticos — aqueles que são capazes de processar idéias abstratas e emoções concretas, como faz a Arte — e promovem a mais ampla percepção do mundo e a abertura de veredas e caminhos. Como disse o poeta espanhol Antonio Machado: o caminho não existe, o caminho quem o faz é o caminhante ao caminhar.
Uma verdadeira Educação Pedagógica que contribua para a criação de uma autêntica Cultura Popular Brasileira deve, necessariamente, incluir todas as formas estéticas de percepção da realidade e de invenção — Arte — como parte da luta contra a Invasão dos Cérebros que há tantas décadas estamos sofrendo.
Temos que combater aliens em todas as frentes: na escola, no campo e na cidade, no trabalho e no lazer; no cinema, no teatro, na rádio e na TV, nos CDs e DVDs. Cultura e invenção em toda parte!.
Temos que criar defesas contra a escravidão estética que há tantas décadas nos estão impondo. Temos que descobrir nosso rosto, escrever nossa palavra, dançar com nosso corpo, e ouvir a nossa voz.
Esta é a nova acepção da palavra Cultura, neste belo momento que estamos vivendo no Brasil.
Arte é o Caminho.
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