segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Estratégia americana é "cercar" recursos naturais do continente - por Luiz Carlos Azenha - fonte: http://viomundo.globo.com

Estratégia americana é "cercar" recursos naturais do continente





Distância aproximada entre a base aérea americana de Manta, no Equador, e as reservas de petróleo do país: 400 KM

O Equador, que voltou à OPEP depois da eleição de Rafael Correa, é o menor produtor do grupo, mas há potencial para novas descobertas na região amazônica do país.

Distância entre a Colômbia, que tem forte presença militar dos Estados Unidos, e as reservas de petróleo da Venezuela: 800 KM.

Distância entre o Suriname, sondado pelos Estados Unidos como possível sede de base militar, e as reservas de petróleo da Venezuela: 800 KM.

Reservas de petróleo na bacia do rio Orinoco, segundo estimativa do governo americano: 1,3 trilhão de barris de petróleo pesado; 300 bilhões recuperáveis com as tecnologias de hoje. Os números relativos a reservas de petróleo são motivo de grande controvérsia.

Distância entre o Suriname e as reservas minerais de Carajás, no Brasil: 1000 KM.

Estimativa das reservas de minério de ferro em Carajás: 5 bilhões de toneladas.

Distância entre o Paraguai, que fez exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos, e o aqüífero Guarani: O KM.

O aqüífero Guarani é a maior reserva de água doce subterrânea do mundo; 71% dele ficam no subsolo brasileiro, 19% na Argentina, 6% no Paraguai e 4% no Uruguai.

Distância entre o Paraguai e as reservas de gás da Bolívia: de 300 a 500 KM.

Estimativa do aumento de consumo de gás natural na América Latina, entre 2006 e 2011, principalmente para uso industrial: 48%

Estimativa das reservas de gás natural na América do Sul:




Em política não existe vácuo. Quem não ocupa espaço perde. Acossado internamente pela oposição sem proposta e pelos que representam interesses que não os do Brasil, o governo Lula tem se mostrado tímido na defesa dos interesses econômicos do país na América Latina.

É lógico que não é tarefa do governo fazer o que deveria ser feito por empresários. Porém, tirando a elite do empresariado brasileiro temos uma turma tacanha, desinformada, sem conhecimento, que gostaria de ser européia ou americana e não se conforma com o fato de que é "cucaracha".

O governo Lula deu alguns passos importantes, como colocar a diplomacia brasileira a serviço dos interesses comerciais do país. Nos Estados Unidos, isso foi feito no primeiro mandato de Bill Clinton, quando o presidente americano escalou Ron Brown para ser o secretário de Comércio e ele viajou o mundo à frente de delegações de empresários americanos.

O ministro Guido Mantega promete a criação de um Fundo Soberano Internacional, destinado a apoiar os investimentos de empresas brasileiras no Exterior, o que é outra boa idéia.

Porém, a timidez do presidente Lula em dar expressão política à expansão da economia brasileira para além das fronteiras nacionais é inexplicável. É preciso deixar claro que ao Brasil interessa a criação de uma gigantesca classe média na América Latina, que serve aos interesses estratégicos do país. Na entrevista mais recente que fiz com Luciano Coutinho, antes que assumisse o BNDES, conversamos sobre este assunto: o mercado natural de expansão do Brasil é na vizinhança. Primeiro na América Latina, depois na África.

Temos a vantagem da distância e a desvantagem de que, aqui e ali, já pipocam reações ao "imperialismo brasileiro", razão pela qual é correta a estratégia do Itamaraty de fazer tudo nos bastidores. Política externa pelas páginas de jornal ou pela TV só a de Hugo Chávez.

Quando falo em timidez estou me referindo à inexistência de um discurso do governo federal - seria muito pedir o mesmo ao PSDB - de que o Brasil defende a estabilidade política na região, a não intervenção nos assuntos internos de países soberanos (um jeitinho diplomático de se contrapor aos Estados Unidos) e a distribuição de renda como fator de ampliação do mercado externo.

É importante deixar claro que ao Brasil não interessa a balcanização da Bolívia, com a qual parecem contar os Estados Unidos. Nem a derrubada de governos eleitos, como os de Hugo Chávez e Rafael Correa. É fato expresso em documentos de gente ligada ao governo Bush que os Estados Unidos, em nome de combater o tráfico de drogas, procuram três bases militares na América do Sul para substituir a que foi perdida no Panamá.

Paraguai e Suriname seriam candidatos a receber essas bases. O Brasil não pode aceitar a presença militar americana ostensiva em países do Mercosul. Isso precisa ficar explícito. Essa história de propagar que a tríplice fronteira - entre Brasil, Argentina e Paraguai - é base de terroristas é conversa para boi dormir. É propaganda para justificar presença militar americana na região.

Em nome de combater o tráfico de drogas ou o terrorismo, o Pentágono, curiosamente, busca localizar bases perto da Amazônia, das reservas de gás e petróleo da Bolívia, das gigantescas reservas petrolíferas do delta do rio Orinoco, na Venezuela, e do aqüífero Guarani. Coincidência?

As reservas de gás, petróleo, água, minério de ferro e outros minerais são estratégicas. O resto, como diriam os americanos, é "bullshit". Tem alguém de olho na neve que se acumula na cordilheira dos Andes? Não, né mané?

Será que os americanos não querem uma base no sertão maranhense, para ajudar a desenvolver a região? Ah, não, eles queriam alugar a base de Alcântara, chegaram a assinar um protocolo com o governo de Fernando Henrique Cardoso, num dos episódios mais vergonhosos da história recente da diplomacia brasileira. Não estou defendendo imperialismo brasileiro. Acho apenas que interesses nacionais devem ser colocados acima de disputas políticas circunstanciais, exatamente como republicanos e democratas fazem nos Estados Unidos. E que o governo Lula deve explicar, de forma didática, por que é do interesse de Brasília uma região estável, em que o mercado de consumo se amplie para absorver as quinquilharias "hecho en Brasil".

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