quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Por entre as pernas - por Eduardo Guimarães - fonte: http://edu.guim.blog.uol.com.br/

Por entre as pernas
Oxalá houvesse no Brasil físico uma grande maioria de cidadãos com vontade de discutir a questão da CPMF como há na internet. Se assim fosse, sendo contra ou sendo a favor o fato é que a sociedade chegaria a entender o que significa o fim de uma receita para o Estado de ditos 40 bilhões de reais, sobretudo num momento em que até a Globo reconhece que o país entrou num processo sustentado e "impressionante" de crescimento econômico.
Finalmente concordo com a Miriam Leitão: como dinheiro não tem carimbo, o fim da CPMF afeta, mais do que tudo, o PAC. Foi por isso que o governo, na última hora, ofereceu ao PSDB, até com garantia do presidente da República em carta que enviou ao presidente do Senado, que toda a receita do imposto sobre movimentação financeira fosse aplicada na Saúde. Afinal, o Tesouro é um só. Bastaria que a CPMF continuasse entrando nos cofres do governo. O que mudaria seria apenas a vinculação das despesas a esta ou àquela receita proveniente deste ou daquele imposto, mas essas são meras questões técnicas que não mudam o fato de que o "bolso" é um só e dele subtraiu-se uma gorda quantia que dificultará a construção de um projeto para o país como uma forte redução dos lucros dificultaria, por exemplo, a capacidade de investimento de uma grande empresa em franco processo de crescimento.
E o crescimento do país está sendo impressionante. No acumulado dos últimos 12 meses, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 5,7%. É uma das maiores taxas das duas últimas décadas. E, para não ficarmos só nisso, a taxa de investimentos privados foi a maior dos últimos 11 anos. Ou seja: os empresários estão acreditando como nunca no crescimento do país. Até os temíveis "especialistas" da mídia tiveram que reconhecer que esse crescimento acelerado é um crescimento "sustentado", que não se trata daqueles famosos "vôos de galinha" do passado recente.
Os resultados econômicos de agora contrastam com o que a oposição e a mídia fizeram na questão da CPMF. A oposição, por ter atacado a economia justamente no ponto que poderia atrapalhar o processo de crescimento em curso, e a mídia, por não denunciar que o ataque oposicionista visou dificultar a melhora do país por motivos meramente político-eleitorais, ou seja, pelo motivo de que crescimento econômico expressivo gera mais empregos, gera melhora das condições de vida da população, e tal melhora é proporcionalmente igual ao crescimento do apoio daquela população ao governo.
Antes de avançar mais nessa questão, quero lembrar que acaba de ser fragorosamente derrubada a teoria da mídia tucana-pefelista de que o país estaria "desperdiçando" um processo mundial de euforia econômica. Aliás, um processo que está em xeque, pois enquanto o Brasil desfila sua exuberância econômica, nos EUA há uma severa crise de confiança e de liquidez que, no passado, teria provocado fuga automática de capitais nos mercados "emergentes". E, como vocês sabem, somos considerados "emergentes". Porém, aqui, em vez de saírem os investimentos, eles estão entrando, e não é mais exclusivamente no mercado financeiro, não senhor. São investimentos produtivos.
Isso tudo está acontecendo no Brasil paralelamente ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que já começa a produzir resultados na economia à revelia das previsões da oposição e da mídia de que seria um programa fictício que não daria em nada. Lembro-me bem de que, há alguns meses, uma colunista da Folha de São Paulo ("aquela" colunista da Folha de São Paulo) escreveu um alerta à oposição de que enquanto ela desqualificava o PAC, este ameaçava se tornar o grande ativo eleitoral de Lula em 2010, ano ao qual a economia do país chegaria "bombando", o que permitiria a Lula "eleger até um poste".
Então, como bem disse a Miriam Leitão - porém, claro, sem dizer que isso seria ruim para o país -, a supressão da CPMF na receita do governo prejudicará diretamente o PAC, um programa que diminui consideravelmente as chances do PSDB e do PFL (DEM) de retomarem o poder em 2010.
O que fará o governo? Continuo com a Miriam leitão. Pode-se aumentar impostos como a Cofins ou o ISS, ou se pode diminuir o superávit primário, dinheiro que o governo economiza de suas despesas para um fundo destinado a pagar dívidas como a externa e a interna. Alguns dirão que é preciso mesmo reduzir o superávit primário, sempre demonizado pela esquerda e, agora que o presidente é o Lula, pela mídia, que ataca hoje o que defendia quando os tucanos estavam no poder. Mas o fato é que o superávit primário influi na percepção de confiança dos investidores internos e externos sobre o Brasil. E um dos pilares do crescimento sustentado e acelerado que o país experimenta é justamente a confiança nele, na forma como está sendo administrado. Mas essa confiança poderá - e apenas poderá - cair se o governo, para manter acelerado o ritmo de crescimento, decidir reduzir uma garantia extra que dá aos investidores de que honrará suas dívidas.
O país ficou numa sinuca de bico. A mídia, seguindo instruções de FHC, já começou a pregar a mentira de que o governo tem que "reduzir gastos", pois estariam "aumentando muito". Conversa. O governo está gastando mais porque o Estado está sendo indutor do crescimento econômico que até o mais neoliberal considera "sustentado". O governo está gastando mais justamente porque criou o PAC, e foi isso que a Miriam Leitão omitiu e que toda a grande mídia simplesmente omitirá.
E o pior de tudo isso é que será praticamente impossível explicar ao conjunto da sociedade que o fim da CPMF foi um tiro no pé do país. Pode representar diminuição do crescimento econômico e do ritmo de geração de empregos. Além disso, aumentará a desconfiança externa na capacidade do Brasil de honrar seus compromissos e do governo de implementar sua política. O investidor não quer saber se o governo tem culpa ou não de não ter feito o que era preciso, e sim se esse governo tem força para fazer o que é preciso. E o governo não tem força justamente por causa da mídia, que omite da sociedade o mal que a oposição está fazendo a ela, o que impede essa sociedade de se mobilizar para repudiar a conduta oposicionista.
Não haverá internet que impeça a mídia de bloquear a explicação ao conjunto da sociedade, àqueles que não entendem de economia, sobre o quanto as bancadas do PSDB e do PFL no Senado atrapalharam o Brasil. A única alternativa seria pessoas como nós organizarmos protestos, ações públicas, físicas, visíveis de contestação e conscientização da sociedade sobre as práticas sabotadoras da mídia e da oposição.
Posso dizer que estou fazendo o que posso para acordar a parte consciente da sociedade dessa letargia em que se encontra, pois assiste inerte à verdadeira sabotagem que gente como Fernando Henrique Cardoso e as famílias Marinho, Frias, Mesquita, Civita e congêneres está praticando contra o país. Podemos enviar quantos e-mails quisermos. Não recuperaremos a CPMF. Mas se conseguirmos, mais lá na frente, mobilizar a sociedade, se conseguirmos ir às ruas explicar o que está acontecendo, que o país tem diante de si uma chance maravilhosa de crescer como nunca e essa chance está sendo ameaçada por interesses eleitorais, talvez possamos impedir novas sabotagens. Essa não conseguimos impedir. O Brasil tomou essa bola por entre as pernas por puro comodismo.

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